Medicina & Saúde - Qual a sua opinião sobre a Lei dos 60 dias para o tratamento do câncer?
Álvaro Machado - Penso ser uma boa intenção, mas não imagino que os atrasos atuais nos tratamentos sejam por falta de uma lei. A resolução dos atrasos nos tratamentos passa pela disponibilidade de serviços especializados e pelo acesso dos pacientes a estes serviços. Quanto aos serviços especializados, estamos englobamos tanto a tecnologia e equipamentos quanto profissionais capacitados, em todos os níveis. E quanto ao acesso, entendemos como a disponibilidade de vagas para consulta, exames dos mais simples aos mais complexos, cirurgias, medicamentos, radioterapia e, por outro lado, o encaminhamento, transporte e suporte ao paciente. Para mim, a solução não passa por uma lei, mas por expansão, qualificação e resolutividade dos serviços. Corremos o risco de iniciar o tratamento baseados em informações parciais para atender a norma legal e o paciente pode não ter realizado ainda todos os exames necessários para uma decisão correta. O Brasil teve uma experiência anos atrás quando outro governo iniciou grande campanha para detecção do câncer do colo do útero que foi interrompida nos primeiros poucos meses, pois não havia serviços de radioterapia suficiente para tratar todos os novos pacientes.
Medicina & Saúde - Qual é o prazo razoável para o início do tratamento após feito o diagnóstico?
Álvaro Machado – O prazo não é uniforme para todos os pacientes, nem para todos os tipos de câncer. Pensando em doenças como leucemias agudas, linfomas de alto grau e outras neoplasias agressivas, 60 dias pode ser um prazo muito longo, quem sabe determinante quanto ao prognóstico, enquanto outras neoplasias muito indolentes, como carcinoides, um prazo maior não tem influência no resultado terapêutico. Mais do que prazo, importante é o acesso rápido, imediato, dos pacientes aos serviços especializados para uma boa triagem e seleção adequada quanto às prioridades de diagnóstico, estagiamento e tratamento.