Diário de uma ex-fumante

Medicina & Saúde - coluna semanal de Sueli Gehlen Frosi

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Quanto mais velhos ficamos, mais nos preocupamos com a morte. Ela vai se tornando muito real e próxima. Todos sabemos que vamos morrer e todos queremos morrer bem.

Quem fuma sabe ser mais provável que a morte venha antes e, pior, sabe e teme que poderá não vir bem. O pensamento do fumante é povoado por estes dois fantasmas, além das perguntas tão humanas: Quem sou? O que estou fazendo aqui? Para onde vou?

A constatação da nossa finitude é o principal problema filosófico da modernidade. Os existencialistas construíram sistemas e teses a partir da constatação de que somos finitos, jogando-nos em um universo frio, onde olhamos e nos dirigimos para o nada.

O drama existencial do fumante, portanto, é um pouco mais exacerbado, por haver uma consciência de que muito do que vem é consequência do que poderia ter sido evitado.

Os idosos beneficiam-se e muito com a abstinência do cigarro, mesmo que não tanto quanto beneficia aos jovens. Os velhos deixam de sofrer um envelhecimento acelerado, fruto das substâncias que compõem o cigarro e ganha em qualidade respiratória e cardíaca. O ganho em qualidade de vida é muito visível, na medida em que participa mais ativamente das atividades familiares e sociais, sem tanto cansaço e sem tantas ausências (para ir lá fora).

Há 1,12 bilhões de fumantes no mundo, dentre os quais 30 milhões são brasileiros. É possível imaginar esse contingente mais saudável, mais participativo e mais feliz? Eu imagino que, diante da abstinência dos velhos, milhões de jovens também se absteriam e milhões de crianças não saberiam sequer que existem cigarros.

Gosto de uma utopia e essa é das mais alvissareiras. Segundo Galeano, a utopia serve para caminharmos em direção a ela, então já estou fazendo a minha parte, por que deixei de dar maus exemplos, deixei de sujar o planeta e sou mais feliz. Minha caminhada rumo a essa utopia é muito mais saudável.

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