Projeto avalia condição alimentar de jovens

Medicina & Saúde - As crianças e adolescentes em geral ganham peso com facilidade devido a fatores tais como: hábitos alimentares errados, inclinação genética, estilo de vida sedentário, distúrbios psicológicos, problemas na convivência familiar.

Por
· 4 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Um projeto inédito no interior do Rio Grande do Sul, busca obter um perfil alimentar de crianças e jovens em Passo Fundo. O programa é uma iniciativa da Gastrobese Comunidade, com apoio da ServPref e teve inicio pelo Colégio Estadual Joaquim Fagundes dos Reis.

A nutricionista Marina Pereira foi até a escola e aplicou questionários para saber quais são os hábitos diários dos estudantes. Também foram medidas altura e peso com a finalidade de obter o IMC – índice de massa corporal.

O médico Carlos Augusto Madalosso, diretor clínico da Gastrobese e coordenador do projeto pioneiro, afirma que o Brasil teve um crescimento importante no número de crianças e adolescentes obesos nos últimos 20 anos: o percentual saltou de 4% para 15% durante o período. A marca fez com que a obesidade ultrapassasse os índices de desnutrição.

Hoje, estima-se que haja cerca de 6 milhões de crianças e adolescentes obesos no Brasil. Entre os 15% de obesos jovens, 10% são do sexo feminino e 5% são do sexo masculino.

Madalosso explica que o aumento nos índices pode ser explicado por fatores como maior acesso à comida e a mudança de hábitos de vida, como o fato de jovens de crianças e adolescentes ficarem mais tempo na frente do computador e da TV.

Esse crescimento nos índices, segundo o médico, faz com que crianças e adolescentes obesos fiquem mais tempo expostos aos riscos que a obesidade oferece. “Terão chances de desenvolver mais cedo doenças como diabetes, hipertensão, infarto e derrame”, afirmou.

Estatísticas mostram que aproximadamente 80% das crianças e adolescentes obesas têm algum grau de depressão. Além disso, esse tipo de jovem pode estar mais envolvido com o uso de drogas e de álcool devido ao quadro depressivo.

“Na adolescência há necessidade de o jovem se encaixar no grupo e, pela condição de obeso, é excluído e existe uma tendência ao isolamento. O adolescente é obeso, não se adequa, se isola e acaba se confortando na comida”, afirmou.

Avaliação

Após avaliar os questionários e comparar com as medidas cada estudante recebeu de volta os dados com a informação se estão no peso ideal, abaixo ou acima. Quando identificados sub o sobre peso os jovens são encaminhados para uma consulta com as nutricionistas que atuam no Gastrobese Comunidade que poderão dar suporte aos jovens e familiares.

Escolas interessadas em participar do Projeto de avaliação nutricional podem contatar com a Gastrobese Comunidade através do fone (54) 3045 4070.

Entrevista

Medicina & Saúde – Quais os principais resultados obtidos até agora com o projeto?

Até o mês de julho, foram avaliados 129 participantes do projeto. Destes, 71 são alunos; 9 funcionários e 49 professores da escola. Observamos entre professores e funcionários uma prevalência de sobrepeso, mas também já presença de obesidade, em torno de 30% deles. Quanto aos alunos, mais de 50% dos avaliados obtiveram alguma alteração no peso corporal, tanto sobrepeso e obesidade (29%), quanto para baixo peso (28%). Além das alterações sobre peso e Índice de Massa Corporal, observamos um risco aumentado para desenvolvimento de doenças crônicas (diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares...) devido ao aumento da gordura na região abdominal, principalmente de professores e funcionários. Quanto aos professores em especial, um alto índice de pressão arterial alterada, isto no momento da verificação, atingindo 57% de toda a amostra de professores com pressão arterial elevada. Alguns desses professores não esperavam estar hipertensos e, a avaliação serviu para eles como uma triagem, pois após já procuraram ajuda médica e iniciaram o tratamento com anti-hipertensivos. Sobre os dados alimentares e de estilo de vida, também observamos um elevado número de pessoas sedentárias, tanto crianças, jovens e adultos. Sobre a alimentação, obtivemos algumas informações referentes ao baixo consumo de frutas, água, vegetais e até dos alimentos de origem láctea. Ao mesmo tempo, observamos o consumo elevado de alimentos que contribuem para um quadro de doenças, devido ao excesso alimentar de gordura, açúcar, sal e de alimentos pobres em fibras. 

Medicina & Saúde – É possível avaliar como anda a alimentação dos alunos?

A alimentação dos alunos esta sendo avaliada por meio de um questionário, onde eles respondem e realizam também a correção. O interessante de eles mesmos responderem o questionário, é a percepção de como esta a própria alimentação. O questionário contempla perguntas simples e objetivas, que abrangem itens da alimentação que são básicos, como: consumo de água, de frutas, vegetais (legumes, verduras), de refrigerante, a realização de lanches, entre outros itens. Os resultados encontrados são os seguintes: apenas 18% dos alunos consomem frutas e 35% consomem vegetais diariamente. A água que é um alimento essencial ao bom funcionamento do nosso organismo, obteve somente 27% do consumo igual ou superior a 1litro ao dia. Dentro os achados positivos foram quase que metade dos alunos (49%) consumirem alimentos lácteos e que o consumo de carboidratos integrais (pães, biscoitos...) esta presente em 22,5% do cotidiano deles. Porém o refrigerante esta sendo ingerido por 15% dos alunos no dia-a-dia, este deve ser considerado um doce, pelo alto teor de açúcar e esperamos que estes dados possam ser melhorados ao longo dos próximos meses durante o decorrer do projeto.

Medicina & Saúde – Qual será o próximo passo do projeto?

O projeto irá se estender a novas escolas, temos já o Colégio Tiradentes no cronograma das atividades. Mas a participação da escola Fagundes dos Reis, que nos abriu as portas inicialmente continuará a receber as avaliações e demais atividades que envolvam a comunidade escolar. Pretendemos gradativamente ir expandindo o projeto, para obtermos dados que sejam representativos dos estudantes (de 10-17 anos) de Passo Fundo. 

Gostou? Compartilhe