Segundo Guimarães Rosa, ‘a psicologia são muitas’. Diante desse olhar pode se pensar na interlocução da psicologia com outros saberes, outras áreas, outras possibilidades, inclusive e porque não com a política. Alguns segmentos da psicologia no Brasil contemporâneo têm tomado posições políticas importantes. A legitimação da psicologia social crítica se mostra como um dos segmentos que vislumbra novos olhares e possibilidades na atuação do psicólogo sócio-histórico, em especial na área das políticas públicas, ensinando com isso novas formas de interlocução com o saber e com as pessoas.
Desse saber e práxis, nasce um novo compromisso social, pautado em práticas comprometidas com a transformação social/ética que possibilite maior autonomia, emancipação e legitimação dos direitos preconizados em nossa Constituição Federal. Como resultado desse novo olhar social e governamental, vislumbra-se uma psicologia inserida na comunidade, comunidade essa que necessita de atenção, cuidado e participação. Na última década houve a implementação de inúmeros programas e ações na área de políticas públicas nas diversas áreas: saúde, educação, assistência social, dentre outras, com vistas a garantir direitos, promover a cidadania, a emancipação social dos sujeitos, possibilitando com isso a divulgação e a participação em práticas relacionadas aos problemas socais brasileiros. Como resultado da implementação desses programas pautados em uma nova concepção social e governamental acerca das contribuições da práxis da psicologia, houve e está havendo uma maior demanda de oportunidades de trabalho para o psicólogo enquanto um dos profissionais que fazem parte do quadro de técnicos. Essas novas possibilidades vislumbram novas formas de potencializar ações, de intervir na realidade vigente.
Teóricos como Sílvia Lane, Martín Baró, Sawaia dentre outros estudiosos, nos desacomodam através de suas teorias quando instigam o profissional a revisitar suas práticas e embasar sua atuação profissional em diferentes espaços institucionais e comunitários através de ações intersetorializadas, articuladas com necessidades e mapeamentos psicossociais. Referenciar uma nova identidade a psicologia comprometida com os direitos, com a cidadania, com a promoção de saúde e bem estar social produz aproximações e conhecimentos que possibilitam o profissional da psicologia fazer interlocuções com a política, vislumbrando nessas aproximações a questão ético-política no mundo acadêmico/institucional, e porque não problematizando uma ação/intervenção que se paute na inserção de psicólogos em ações relacionadas a comunidade, aos grupos étnico-raciais, religiosos, de gênero, com a finalidade de participação social, promoção da autonomia e otimização do potencial das comunidades e populações referenciadas nos serviços na área das políticas públicas.
As atividades desenvolvidas no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), dentre outros necessitam promover e fortalecer intervenções pautadas na integralidade e humanização dos sujeitos, que em sua maioria já chegam a esses serviços com os laços sociais e a identidade fragilizada. Sabe-se que, por vezes para essas ações político-sociais se efetivarem cabe ao psicólogo enquanto articulador defender, produzir espaços de reflexão com gestores e prefeitos no intuito de fomentar a viabilidade dessas práticas e investimentos na área pública, mostrando que a contrapartida do município para a viabilidade desses programas e serviços governamentais se reverte em maior protagonismo desses moradores para com suas próprias histórias e promoção da cidadania. Vamos embora psicólogos, prefeitos, gestores e população, pois quem sabe faz a hora não espera acontecer. Se a prática subjetiva é possível, porque a prática política não.