Aos 34 anos ele já foi o estilista oficial do Miss Brasil e do Miss Universo por dois anos consecutivos. Arthur Caliman é um dos jovens estilistas brasileiros que vem ganhando cada vez mais espaço e briga pela valorização do trabalho que é feito por aqui. O interesse pela moda veio ainda na adolescência, fruto do convívio com os avós, alfaiates e modelistas. Em 2010, abriu sua primeira loja e criou o conceito da “moda festa”, que tem revolucionado o cenário da moda brasileira desde então. Como todo bom estilista, conhece e sabe valorizar bem a beleza da mulher brasileira. Apesar de ter nascido em São Paulo, garante que gosta muito da mulher gaúcha, não só pela beleza, mas porque ela se veste muito bem e é a que mais preserva as celebrações tradicionais.
Na última semana, o estilista esteve em Passo Fundo para participar de uma feira que apresentou novidades em casamentos e moda festa. Aproveitando a visita, o caderno Mix conversou com Arthur sobre carreira, experiências, moda e, claro, as tendências para as próximas estações.
Mix- Como começou sua carreira?
Arthur Caliman - Arthur Caliman é, na verdade, uma empresa familiar, eu sou a terceira geração: começou com os meus avós, passou pelos meus pais e agora para mim. 14 anos atrás eu comecei Arthur Caliman com um pouco do repertório que eu tinha, dos arquivos que eu tinha da minha avó. Eu não me identificava com as outras áreas de moda como o jeanswear, ou a moda casual, eu achava que tudo era muito igual e na festa eu achava que com poucos detalhes eu conseguia me destacar. Sempre gostei muito de cinema também, então aproveitei que eu tinha alguns arquivos, tinha tecidos, tinha um ateliê já parado e comecei.
Mix- Como você vê a consolidação da sua carreira, sendo ainda tão jovem?
Arthur Caliman - Existem várias formas de se observar isso. Sim, 14 anos para uma pessoa que tem 34 anos é muito cedo. Eu considero que o importante é o quanto a gente gosta do que faz, o quanto a gente vibra e torce para que uma mulher se destaque na ocasião, ter uma equipe muito boa também ajuda, mas eu vejo que um pouco, foi porque a gente teve a oportunidade do momento. No momento em que começamos a fazer moda festa - até mesmo esse nome- não existia uma forma de denominar o que era a festa. Ou era moda de cerimônia para noiva, ou não existia. Então, nós começamos a apostar e escrever moda festa. Há 14 anos ninguém fazia isso. Depois que o pessoal começou a entender um pouco mais, que realmente não existe só a cerimônia do casamento, que existem formaturas, bailes de gala, coquetéis, cruzeiros. A gente soube aproveitar esse momento. Hoje são outros tempos. Na época em que eu comecei não tinha o advento da internet. Hoje com a internet você pode tudo. É muito interessante porque eu preservo não a internet, mas preservo o mundo real e eu o trago da seguinte forma: não importa se você não tem 1,75m, se você não veste o manequim da Gisele Bündchen, você também pode se destacar. A gente tem criado opções, como a linha plus size que não é para quem é gordinha ou fofinha, mas sim para quem está fora do padrão de beleza estabelecido pela mídia. Por exemplo, quem é muito alta é um plus size, porque para ela um vestido longo vai ficar curto. Para aquela mulher que veste do 46 ao 56, mas é jovem, e não quer aquele vestido de senhora, a gente teve que apostar nisso também. Muitas vezes nós arriscamos bastante, saímos um pouco da caixa e conseguimos alguns êxitos. Acho que eu fui o estilista mais novo a fazer o Miss Brasil.
Mix - Sobre o Miss Brasil, como foi a experiência de ser o estilista oficial do concurso?
Arthur Caliman - Para mim foi muito interessante. Vocês são do sul, vocês preservam isso, tem as festas da cidade, mas saindo do Rio Grande do Sul isso já não é mais preservado. Eu tenho uma lembrança do que foi o Miss Brasil, mas depois da minha geração já não tem mais e quando eu vi que tinha a oportunidade de vestir o Miss Brasil, em 2010, o primeiro ano que eu fiz - foram dois anos consecutivos, fiz o Miss Brasil e o Miss Universo - eu vi que existia uma grande possibilidade de voltar, de o Miss Brasil ter uma nova cara. Se você pegar hoje a Grazi Massafera, ela começou em um evento de Miss, Vera Fischer também, Leila Schuster. Você não precisa fazer o Big Brother, você não precisa estar na novela para se destacar. Você não precisa ser uma modelo fashion, então eu apostei: existem duas possibilidades dessa mulher aparecer, ou ela é da passarela ou ela é celebridade. Então eu apostei em tornar uma Miss celebridade, conseguimos fazer isso com a Débora Lyra em 2010 e depois com a Priscila Machado. Fizemos muitos eventos com elas, demos outra cara para a miss, não é mais aquela coisa arcaica, muito tradicional e eu acho que a gente conseguiu. Para mim é muito bonito isso, foi uma experiência que poucas pessoas já tiveram.
Mix- Como você vê o cenário atual da moda?
Arthur Caliman - Bom, quando se fala de moda existem três tipos: expressão – não vejo muita gente fazendo motivo de expressão à moda, vejo muito a moda de fora influenciando cada vez mais aqui e infelizmente, eu não estou vendo muitas mudas feitas aqui dentro se destacando, não porque a gente não tenha capacidade, não porque a gente não tenha talento, mas sim porque o povo brasileiro muitas vezes não valoriza, não incentiva. Se você pensar em qual é a diferença de uma moda Arthur Caliman para uma moda de outro estilista aqui dentro, é o quanto a gente vibra por isso, o quanto a gente gosta de divulgar isso, o quanto a gente faz com que essa mulher seja o centro das atenções e não simplesmente a gente se contenta em ter um vestido bonito, mas qualquer mulher que veste Arthur Caliman tem que se destacar. O que eu posso falar é o seguinte: a moda tem ciclos, a gente está passando por um ciclo que tende a mudar, mas atualmente nós estamos muito influenciados pela moda estrangeira. Tem parques fabris fechando, a indústria têxtil, quem faz o tecido, o fio, não está mais fabricando. Famílias que eram donas de tecelagens estão fechando. Então de que forma a gente vai de diferenciar, se o tecido é o mesmo lá de fora? Não tem como. Você vê grandes redes comprando de fora e não fazendo aqui. Acho que é o terceiro setor que mais emprega, então vai ter um grande apagão, porque se não tiver investimento as pessoas que estavam começando a estudar vão migrar para outras áreas e aí você fica quase com uma década de apagão, que é o que a gente vive hoje. Se você quer hoje um profissional, um stylist, você só tem dois ou três e é preciso ter muitas opções. A moda possibilita isso e eu não estou vendo isso.
Mix - E essa invasão de blogs de moda...
Arthur Caliman - É propício dessa referência. A informação ficou muito fácil. Você não sabe no que você pode confiar, o que você pode filtrar. Hoje uma editora de moda concorre com uma blogueira e o poder de influência das blogueiras está até maior, porque elas fazem não o conteúdo, mas sim a imagem. É o Instagram, é o Facebook. E as pessoas não querem demorar um mês para ter aquela informação. Eu acho que é válido, contribuiu bastante, mas nem toda informação é válida. E a gente é submetido a uma série de informações que não são interessantes para nós. Quem procura estudar, ir a uma faculdade de moda, fazer um curso, viajar, que é super importante, mas além de tudo isso escutar os mais velhos, se destaca e acho que isso a gente está deixando de fazer. Por exemplo, se você tem uma avó ou alguém na família que já foi modista, quem falar para você que mudou muita coisa de três décadas para cá, não mudou. Mudou somente na questão de como divulgar, mas a concepção de roupa não. Não teve nenhuma mutação no corpo humano, a gente ainda tem dois braços. Toda mulher sonha e deseja brilhar em uma ocasião especial. No casamento a mulher ainda se veste de branco ou de pérola, então não mudou muita coisa. Eu acredito que tem que cuidar muito com essa informação que vem das blogueiras. Eu não sou contra, apenas não sou a favor.
Mix - Muitas mulheres são influencias apenas pelo que está na moda e acabam não encontrando um estilo próprio. Como a mulher pode encontrar o seu estilo de vestir?
Arthur Caliman - Essa é uma questão psicológica. A gente quer ter o que o outro tem. Essa referência visual que as blogueiras propiciam faze com que você encontrar no seu estilo hoje seja muito difícil. Porque todo mundo não quer errar. A grande doutrina hoje, não só na moda, mas em todas as áreas, é que você não pode errar e isso é complicado. Se você não erra é muito difícil você acertar. Então, cria-se aquele exército de pessoas iguais. Existe a questão do consumo, que é bem interessante. Por exemplo, uma bolsa Louis Vuitton é uma referência de poder das mulheres, mas não é só a bolsa, você precisa fazer uma interpretação do que fica bacana com aquilo, senão você fica como se fosse um uniforme. As referências que são passadas pela novela são válidas, mas se você não estudou, se você não escuta os mais velhos, é muito difícil você dar valor ao que tem em casa, só dá valor ao que tem fora. Por exemplo, às vezes você tem uma peça chave no seu armário que com um pequeno detalhe vira nova. A gente tem até um estudo que diz que dependendo da sua interpretação e também do seu poder de mesclar as peças com um único vestido você pode fazer muitas possibilidades. Mas você tem que ter como fazer isso, não simplesmente olhar e querer copiar ou querer ter uma referência. Você precisa ter um pouco mais de bagagem, de observação, isso demanda tempo. Muitas pessoas hoje vão para a área da moda vislumbrando sucesso, a passarela. Hoje são duas as posições de maior destaque na moda: ou você é a blogueira ou o stylist. Todo mundo quer ser isso, mas para você ser isso, você tem que conhecer todos os processos e você tem que estar amparado por muitos profissionais. No momento em que os estudantes começarem a olhar para dentro e não para fora, eles vão começar a crescer. A moda do Brasil já é venerada pelo mundo inteiro. A mulher brasileira é símbolo não só de sensualidade, mas de vida. O jeito de viver do brasileiro é algo que não tem como copiar ou ter igual em outro local. Nosso clima é único. Nós temos tudo para ditar moda e a gente não faz isso ainda.
Mix - E o que nós podemos esperar para as próximas estações?
Arthur Caliman - Eu aprendi que tudo se renova. Então, tudo que vai ao extremo uma hora tem que voltar. Nós estamos agora no fim desse extremo. Eu já estou adiantando uns seis meses. Ficou muito barroco, muito brilho, um excesso de texturas, pacthworks e vai voltar. Vai voltar para o minimalismo, vai voltar para pontos de luz e não o vestido todo bordado. Isso promove também o design, que é com o que a gente consegue se diferenciar mais aqui no Brasil. Isso tudo vai voltar, assim como os processos artesanais como o plissado. A renda continua, mas não a renda bordada, mas sim com brilhos por baixo dela. Assim ela começa revelar outras possibilidades. Ela revela uma nova sensação da renda. Nos comprimentos, o curto “piriguete” vai acabar. A gente sabe que a mulher gosta de tudo bem acinturado, mas tudo que vai ao extremo uma hora tem que voltar. Nem todo mundo fica bem nesse tecido elástico da Mulher Melancia, mas existem outras possibilidades para você, sempre mais elegante, sem muito brilho. Os detalhes entram em voga agora. Flores mais delicadas, carteiras. Eu creio que a moda vai influenciar positivamente o retorno dos bons profissionais. Retorno do preto e branco. E a valorização do que é feito aqui e não só o que vem de fora. Afinal, nossa moda é mais bonita que a deles, nossa mulher é mais bonita.