É difícil não ter dúvidas ao ler a bula da maioria dos cerca de 20 mil medicamentos vendidos no Brasil. A impressão em letra de tamanho maior, o uso de linguagem simples e em formato de perguntas e respostas, como requer a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, aparece em 313 bulas, das quais apenas 94 são de remédios alopáticos. E mesmo entre estes há problemas.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) avaliou 17 medicamentos de uso comum, cuja nova bula já passou pelo aval da Anvisa e concluiu que apenas cinco estão em total conformidade com as exigências. Dos demais, três oferecem bulas no modelo antigo — totalmente irregular —, e nove, embora tenham o novo padrão, não cumprem integralmente a regra.
Os aprovados foram Glucovance, Gilbeta, Prozac, Bonviva e Clenil Compositum HFA. Valtrex, Maalox e Buscuduo apresentaram ao menos um tipo de inadequação, mas sem riscos à saúde. Já as bulas de Vivacor, Crestor, Allegra D, Fluticaps, Transpulmin e Dramin B6 têm algum problema passível de causar riscos à saúde, segundo a avaliação do Idec. E as de Allexofedrin D, Engov e Belara ainda estavam no formato antigo, segundo constatação do instituto.
O Idec alerta ainda que há problemas graves nas bulas. As de Crestor e Vivacor, por exemplo, informam que seu uso é adulto e pediátrico acima de 10 anos, embora apenas uma das apresentações dos medicamentos, a de 5mg, seja autorizada para uso infantil. A bula, porém, é a mesma para as quatro apresentações desses dois remédios, o que abre margem para dúvidas. O fabricante explica que as bulas dos dois remédios contemplam informações das apresentações de 5mg, 10mg, 20mg e 40mg e estão de acordo com a norma da Anvisa, pois explicitam a dosagem pediátrica em “Posologia”.