Você conhece uma criança inquieta, que gosta de estar em várias atividades ao mesmo tempo, que quando está ouvindo uma história fica atenta e consegue envolver-se com a mesma brincadeira por aproximadamente 10 minutos? Então, esta é uma criança saudável.
Hoje, há uma tendência de classificar, incorretamente, crianças cheias de energia e inquietas como portadoras de TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) por isso é necessário alguns esclarecimentos sobre este transtorno.
Primeiramente é importante deixar claro que facilidade em distrair-se e uma maior ou menor agitação motora pode ser normal e até mesmo esperada, dependendo da fase de desenvolvimento da criança. Porém, um comportamento padrão de desatenção e/ou hiperatividade mais constante e presente do que aquele observado nas crianças na mesma faixa etária é considerado um sinal de alerta.
Os sintomas do TDAH são observados mais frequentemente antes dos 7 anos de idade, embora muitas pessoas são diagnosticadas mais tarde. A criança com dificuldade de atenção e que possui uma exagerada agitação, deve apresentar esses comportamentos em pelo menos dois ambientes em que ela convive, ou seja, em casa e na escola. Algumas alterações no convívio social ou desempenho escolar podem ser observados e o nível de disfunção tende a piorar em atividades que exigem atenção constante, como, por exemplo, escutar um professor ou desempenhar alguma atividade de aula.
Em crianças, a desatenção pode ser observada na sua dificuldade em dar continuidade em uma única brincadeira, em que a criança muda com frequência de brinquedo, em um circuito de atividades inacabadas, materiais perdidos, espalhados ou danificados. Essa impossibilidade de completar as tarefas também vai ser estendida para o âmbito escolar e para os deveres que a criança trás da escola para casa, pois há uma dificuldade em exercer atividades que exijam um esforço mental constante. Também a desatenção pode manifestar-se nos esquecimentos dos compromissos diários, como fazer os deveres e levar o lanche a escola.
A hiperatividade pode ser observada nos comportamentos de inquietação, correr e subir excessivamente nas coisas, falar em excesso e dificuldade de brincar em silêncio. As crianças que podem apresentar este transtorno possuem dificuldades em participar de atividades que exige permanecer sentadas, levantam-se com frequência e com mais intensidade do que as crianças que estão no seu mesmo grupo escolar. É comum levantarem-se da mesa durante a refeição, enquanto assistem televisão ou fazem os deveres de casa.
O TDAH pode estar presente em alguns adolescentes e adultos e os sintomas de hiperatividade assumem a forma de sensação de inquietação e dificuldade em envolver-se em atividades tranquilas. Uma grande parte da população desconhece o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, levando crianças, adolescentes e adultos a não receberem a devida ajuda.
Muitas crianças e até mesmo os adultos recebem um diagnóstico de forma incorreta e passam a fazer uso de medicação indevida. Por outro lado, existem muitas pessoas com TDAH que estão sem qualquer ajuda. Para o diagnóstico adequado faz-se necessário consultar o psicólogo, que irá observar a criança, realizar a coleta de informações com os pais, familiares e com os professores, e poderá encaminhar para um médico se houver necessidade de avaliação multiprofissional. Assim, a avaliação poderá ser precisa e confiável, com tratamento adequado para cada situação, diminuindo as agitações e/ou desatenção, proporcionando condições de uma melhor adaptação e desenvolvimento da criança.
Mariane Mattjie é psicóloga, professora da Escola de Psicologia da Imed