A família de Ana Paula, a ativista porto-alegrense do Greeenpeace presa na Rússia, causa-me um grande mal estar. Posso imaginar a situação da mãe da moça, tão longe da filha, temendo o que poderá acontecer com ela.
As mães são feitas do mesmo estofo, mas as reações aos passos autônomos dos filhos e filhas são diferentes de uma para a outra. Há quem sinta orgulho, quando seus rebentos manifestam-se em favor de uma causa, principalmente se for uma boa causa. Há as que procuram conter o ímpeto juvenil, por medo de que a ousadia deles seja castigada de alguma forma.
A cada passo mais ousado, o temor pelo desconhecido é muito mais forte por parte dos pais, do que por parte da juventude aventureira. Há um momento em que o espírito de aventura dá lugar a algo mais consistente e percebemos nosso filho ser tomado por um sentimento bem peculiar à juventude, assim como já foi para nós, os mais velhos. A utopia é a mola propulsora de quem é acometido pela compaixão.
Preocupa-me a ânsia dos pais em dar limites aos filhos, quando o papel deles deveria ser o de empurrá-los para que ousem, para que se arrisquem. O limite deve restringir-se à consciência de que há o outro, que isso sim é importante. O respeito ao outro é algo que se aprende pelo exemplo, por que, ninguém pega um livro em dado momento da vida e dá para os filhos para que aprendam a respeitar e a ter um comportamento ético. Não há livro, nem palestra, nem diálogo que dê conta de um sentimento tão delicado, que é o do respeito aos semelhantes.
Ana Paula está presa no outro lado do mundo e quando liga, mãe dela ouve que a saudade está sendo absurdamente maior do que o normal. Posso tentar imaginar o desespero dessa mulher por querer atravessar o mundo e pegar a filha no colo, dizer-lhe que fique tranquila, que tudo vai se resolver. É isso que nós, as mães, sabemos fazer muito bem. Mas Ana Paula não tem isso, nem a mãe tem a chance de exercer um ato tão natural.
A manifestação que a mãe de Ana Paula está preparando para que as autoridades brasileiras encontrem um jeito de trazer a filha de volta, talvez seja a única coisa que pode ser feita. Nós as mães estamos solidárias, mas cientes de que mais dia menos dia a nossa criança poderá estar em maus lençóis, por engajar-se no que acredita seja o melhor para o mundo.