Por Vanessa Rissi
No artigo anterior, intitulado “Quando o trabalho causa sofrimento mental”, refletiu-se sobre a organização do trabalho (OT), enquanto geradora de experiências de prazer ou de sofrimento psíquico. Desta forma, pode-se chegar ao entendimento de que a OT contém aspectos que podem ser determinantes no processo de saúde-doença dos trabalhadores. Entre essas situações estão presentes: a divisão, a qualificação e as condições de trabalho; os aspectos afetivos e relacionais implicados no processo de trabalho; o grau de iniciativa e autonomia; o grau de ambigüidade sobre os resultados da tarefa; o status social da atividade e a possibilidade de cooperação e comunicação (Dejours, 1988).
Quando existe sofrimento/desprazer no ambiente laboral, em relação à natureza da OT, os sujeitos trabalhadores, tendem a reagir, ou melhor dizendo, a enfrentar. Pesquisadores do Karolinska Institute (Limongi-França,2007), concluíram que existem duas maneiras básicas de enfrentamento: o ativo e o passivo. O enfrentamento ativo ocorre quando o indivíduo consegue expressar seu desejo mudança na estrutura que a está submetido. Neste caso, muitas vezes, ele afasta-se ou solicita transferência, voluntariamente. Por outro lado, e, infelizmente, o mais comum, é o enfrentamento passivo. Nesse caso, o trabalhador é conduzido à alienação, no sentido sociológico do termo. O indivíduo passa a depreciar seu trabalho e a senti-lo como um peso e não como uma fonte de satisfação. O objetivo torna-se apenas a remuneração e a manutenção de suas condições básicas. Este tipo de enfrentamento torna o sujeito mais vulnerável ao desenvolvimento de doenças.
A doença psíquica surge, portanto, quando não é possível a negociação entre o sujeito e a realidade imposta pela OT, sobretudo quando ela é rígida e inflexível. Assim, desencadeiam-se quadros depressivos, de ansiedade, de estresse, burnout, além de tantas outras manifestações psicossomáticas.
Trabalho é lugar de saúde, de desenvolvimento de potencialidades, de produtividade. Não deveria ser espaço de adoecimento. Debater sobre como pode ser possível a reorganização do trabalho pode ser um diferencial na busca da promoção da saúde mental no trabalho.
Vanessa Rissi é psicóloga, mestre em Saúde Coletiva, docente e coordenadora de Pós-graduação da Escola de Psicologia da Imed