Aids, uma doença universal

Apesar da existência de tratamento que prolongue a vida, a utilização dos medicamentos ainda não consegue melhorar a qualidade de vida. Por isso, a prevenção ainda é o melhor negócio.

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Dia 1º de dezembro é comemorado o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Doença ainda sem cura, a aids tem na prevenção a melhor forma de viver livre da contaminação. No caso da transmissão via sexual, o uso do preservativo ainda é o preponderante, especialmente considerando que nesses 30 anos desde a descoberta dos primeiros casos, o público atingido se alterou dos grupos de risco para toda a população, ou seja, não existe grupo de risco restrito e sim uma doença que pode acometer indivíduos de qualquer idade. No caso das crianças, por exemplo, o meio de transmissão poder ser o momento do parto, se não houver o cuidado adequado durante o período pré-natal.

De acordo com o médico Adro Linhares dos Reis, responsável pelo ambulatório que faz o controle e acompanhamento do público afetado em toda a região de abrangência da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), o vírus pode infectar qualquer pessoa exposta. “O perfil das pessoas infectadas por HIV foi passando do por transformações lentas, tendo iniciado com os chamados ‘grupos de risco’, ou seja, homossexuais e usuários de drogas injetáveis no início da pandemia até que, no momento atual e, desde muitos anos, desapareceram os ‘grupos de risco’ para englobar a população como um todo”, explica. Exemplo disso, segundo o médico é o fato de haver portadores do vírus de todas as idades, opções sexuais e, inclusive formação educacional. “Portanto, o vírus passou a infectar praticamente todas as pessoas expostas, seja por via sexual ou sanguínea”, salienta.

Passo Fundo é uma das cidades brasileiras que possuem o Serviço de Atenção Especializada e, DST/Aids, conhecido também como ambulatório DST/Aids. Este serviço abrange os municípios atendidos pela 6ª CRS. Neste universo, são hoje 700 pessoas em terapia antirretroviral. “É necessário lembrar que em Passo Fundo somos um centro de atenção especializada a aids, como o nome bem diz, um dos aproximadamente 400 serviços de atenção especializada em DST/Aids do Brasil, programa do Ministério da Saúde implementado a partir do ano de 2002, que se justifica em todo o país por diversos estudos que provam, que cada Real investido nos SAEs, economizam-se R$ 10 em saúde pública, redução de internações hospitalares, horas/pessoa de trabalho preservadas”, ressalta.

Dessa forma, Passo Fundo atende no SAE pacientes de 60 municípios, correspondendo a aproximadamente um milhão de pessoas considerando a abrangência total. “Existem aproximadamente 700 pessoas em terapia antirretroviral, ou seja, pessoas com aids e, aproximadamente mais 500 em acompanhamento por serem portadoras do vírus (ainda não tomam antirretrovirais). Neste ano, até o momento temos 63 novos casos de soropositividade para o HIV, dos quais, 32 do sexo masculino e 31 feminino. Este número tende a seguir aumentando até aproximadamente 100 pessoas, que é o número aproximado/ano desde 2009 a despeito de todas as campanhas e informações difundidas a nível municipal, estadual e nacional”, argumenta o médico. Existem ainda seis gestantes em tratamento antirretroviral em decorrência da gestação e da descoberta no pré-natal da soropositividade pelo HIV. “Este tratamento com antirretrovirais não traz dano fetal e permite que a criança nasça, atualmente, sem o vírus e até mesmo sem os anticorpos da mãe, ou seja, completamente livre do HIV”, enfatiza.

Entrevista

Medicina & Saúde – Como são os efeitos colaterais do tratamento?
Adro Linhares dos Reis – O tratamento antirretroviral é chamado atualmente de "terapia antirretroviral altamente ativa" e não mais "coquetel" antiviral. Chamava-se coquetel por, muitas vezes, o paciente ter que ingerir até mais de 15 cápsulas por dia. O evento evolutivo no tratamento ocorreu sem dúvida a partir do ano de 1996, quando foi descoberta uma droga chamada "inibidor de protease", utilizada desde então até hoje, evoluído com a evolução da ciência, possibilitando uma expectativa de vida maior aos portadores de aids. É necessário lembrar, entretanto, que todo tratamento antirretroviral é altamente ativo contra o vírus e também altamente agressivo ao organismo humano, comparando-se a uma "quimioterapia" a longo prazo, causando desde efeitos colaterais indesejáveis e incômodos iniciais como náuseas, vômitos, diarréia, sonolência ou agitação psicomotora, depressão imediata e outros sintomas menores até, com o passar dos anos, provocando as chamadas síndromes metabólicas, ou seja, dislipidemias, problemas cardiovasculares, lipoatrofia, lipodistrofia, neuropatia periférica, acidose metabólica, insuficiência renal, mielossupressão com anemias graves e outros. Portanto, embora a terapia antiretroviral prolongue a vida, piora gravemente a "qualidade de vida" da pessoa com aids, sem alternativas atuais possíveis.

Medicina & Saúde – A prevenção ainda é a melhor saída?
Adro Linhares dos Reis – Sem a menor dúvida, a prevenção é o único caminho para evitar a contaminação pelo HIV.  Sempre digo, "quem vê cara, não vê aids" e esta é a grande verdade para aqueles que subestimaram tal informação e descobrem ser portadores do vírus, tentando lembrar de quem possam ter "adquirido" e, pior ainda, para quem possam ter "passado"! É fundamental lembrar que o HIV tem um período de latência de aproximadamente 5 a 7 anos antes de qualquer manifestação física ou o aparecimento de uma doença oportunista e, que, neste período de "anos" a pessoa que não fez o teste não tem como perceber se é ou não soropositiva. Por isso lembramos dando uma informação importante: somente em Passo Fundo até o presente momento foram feitos, este ano, 2.373 exames de HIV e estamos completamente à disposição de todos que desejem fazer o teste, gratuitamente, com pré e pós aconselhamento por profissionais capacitados. Sempre é melhor saber do seu status quanto ao HIV pois, muitas vezes, quando descoberto, o quadro do paciente é tão dramático do ponto de vista clinico que não é possível sobreviver às doenças oportunistas, sempre graves. A prevenção, no meu ponto de vista, abrange também, o exame anti-HIV e, sobretudo o uso de preservativos, sempre a disposição na rede pública de saúde.

Colaborou

Adro Linhares dos Reis, médico responsável pelo ambulatório DST/Aids de Passo Fundo

 

 

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