Sobre a educação das crianças

Medicina & Saúde - coluna semanal de Sueli Gehlen Frosi

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                Não me canso de observar a frustração das crianças, que “sofrem” os vários nãos que a educação exige. As frustrações acontecem de acordo com as idades em que vivem.

                Olho uma pré-adolescente que tem uma louca vontade de viver tudo o que pode, em todos os momentos, com toda a intensidade. Ela compartilha da amizade de outras meninas que mostram o mesmíssimo comportamento. A saúde dessas meninas que observo é o principal motivo para que sejam frustradas em algumas coisas: tomar sol sem filtro solar não pode; entrar na água logo após o almoço não pode; comer doces o tempo todo não pode; quebrar horários pré-estabelecidos não pode; sair à rua sem companhia não pode; deixar de escovar os dentes não pode. Essa gama de proibições deve vir acompanhada de muitos sim, para contrabalançar: sim, você pode obedecer a tudo o que estamos estabelecendo; sim, nós sabemos do que você precisa; sim, manda quem pode e obedece quem tem juízo. Estou brincando (um pouco).

                Olho também uma criança pequena que necessita de cuidados redobrados por ainda não conhecer os perigos do mundo que o cerca. Ele ainda não sabe que os adultos são autoridade natural, até pelo tamanho que têm. Ele não sabe que para nossa tranquilidade, gostamos de dizer não sem esperar resistência e ouve o dia todo por ordens incisivas. A criança pequena já ensaia os primeiros por quês, por ter noção de sua subjetividade. Essa noção é uma conquista importante, por que é fruto da constatação de que ela está separada da mãe, de que ela é um indivíduo. Isso é algo muito forte.

                 Vejo um bebê bem novinho que é frustrado quando fica afastado da mamãe, mesmo que por poucos minutos. Ele aprende a esperar pelo que necessita por já haver compreendido que aquelas pessoas que o rodeiam podem até demorar um pouquinho, mas logo o atenderão. Ele é frustrado quando levado solenemente ao próprio quarto de dormir, por que a cama dos pais é lugar de brincar e não de passar a noite toda.

                A educação deve acontecer e não é algo para grandes eventos, mas para as pequenas coisas que fazem o dia a dia. No caso da pré-adolescente, há um exagero proposital, mas que retrata situações que estão longe de ser raridade. Uma criança de dez anos tem condições de compreender uma ordem acompanhada de explicações simples e amorosas. O autoritarismo consegue fazer com que ela queira transgredir. E ela questiona para ter certeza de que nossas determinações têm fundamento e de que temos certeza disso.

                No caso do menininho, a questão é de segurança na maior parte do tempo. Nas questões menores, economizar nãos é a melhor política, para que não os gastemos com bobagens. Vamos precisar de um estoque muito grande de nãos mais tarde. Nossa tranquilidade nesta fase os faz tranquilos também.

                O bebezinho vive um momento rico, quando realiza o maior trabalho de sua vida, que é o de aprender para a vida. Nos dois primeiros anos o bebê aprende um idioma e isso não é pouco. As restrições no caso dele devem estar ligados à sua segurança e o amor não pode ser economizado, sob pena de comprometermos seu pleno desenvolvimento.

                Ouvi hoje, por parte de um especialista em desenvolvimento infantil, em um programa de TV, que crianças são dotadas de um radar infalível. Esse radar detecta a culpa dos pais. Pena que não vi de quem se tratava, mas me pus a pensar que a culpa dos pais mascara as boas intenções, a eficiência e a eficácia da atuação de adultos significativos para as crianças.

                Sem certezas, sem maturidade, não se consegue dar um rumo à educação. As crianças necessitam de quem as ame e de quem lhes dê segurança.  A culpa só atrapalha. 

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