Vinho: mocinho ou vilão do coração?

Por
· 4 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Recentes estudos dizem que o vinho, especialmente o tinto, pode contribuir com a saúde do coração. Mas, essa afirmação é verdadeira? Quanto de vinho pode ou deve ser tomado? Para esclarecer estas dúvidas, o Medicina & Saúde procurou quem entende do assunto, um médico cardiologista. Confira.

Apesar da boa fama que o vinho vem tendo depois desses estudos, nem só nesta bebida, ou no álcool em si, são encontrados os mesmos benefícios. Segundo o médico cardiologista André Lupatini, existem outros alimentos que possuem as mesmas propriedades. “Os e compostos polifenólicos presentes no álcool estão também em vários alimentos vegetais (frutas, hortaliças, sementes oleaginosas, chás e chocolate com cacau acima de 65%)”, explica Lupatini.
Por isso, ele ressalta que o papel do médico cardiologista e sua equipe multidisciplinar (nutricionista, fisioterapeuta e educador físico) é recomendar aos pacientes que, além do cuidado com a alimentação, que pratiquem atividade física de 150-180 minutos por semana. “A alimentação deve conter pouca gordura, pouca carne vermelha, (dar preferência as carnes brancas), pouco sal, bastante água, várias porções ao dia de frutas, verduras, legumes e hortaliças”, salienta.
Em relação ao uso de álcool para saúde cardiovascular não deverá partir do consultório médico a indicação de iniciar uso para proteção cardíaca, “pela grande chance de induzirmos na população em geral o alcoolismo, pois trabalhos de prevenção de abandono do álcool relatam tendência de 15% da população ser geneticamente propensa a esta doença, muitas vezes com caminho sem volta para este vício”, alerta o especialista.
Segundo Lupatini, “devemos brindar aos excelentes sucos de uva da nossa serra gaúcha que contém grande quantidade de resveratrol, um excelente composto polifenólico para nossa saúde. Podemos também saborear um chá branco para acompanhar nossos lanches. Dois a três lanches ao dia com frutas e/ou barrinha de cereais também devem ser incluídos no cardápio diário. Ou até mesmo uma deliciosa salada de frutas. Muitos produtos tem as propriedades protetoras atribuídas ao vinho tinto/álcool”, completa Lupatini.
Entretanto, para quem já faz uso de álcool regularmente a orientação é controlar a quantidade, bem como observar os problemas gástricos, cardíacos, hepáticos, sociais, familiares, interações medicamentosas que podem possam ser desencadeados. “A maioria dos estudos sobre este tema foram realizados em animais (camundongos), ou seja, são modelos, não são seres humanos. Os trabalhos com benéficos do álcool na saúde cardiovascular não estão com melhores metodologias científicas exigidas pelo sistema de saúde mundial atualmente, por isso novas pesquisas poderão nos guiar no futuro”, avalia o médico.


)))))))BOX)))))))
Entrevista
Medicina & Saúde – É verdade ou mito que uma taça de vinho por dia favorece a saúde do coração?
André Lupatini – A resposta mais sensata para esta pergunta pode ser um ‘talvez’. Alguns estudos das últimas décadas demonstram que consumo moderado de álcool (não é exclusivo do vinho tinto) impede a formação de placas de aterosclerose (placas de gorduras), que quando depositadas em artérias do coração podem diminuir fluxo de sangue, ocasionando o infarto do miocárdio. Estes estudos demonstram que consumidores moderados de álcool (uma a duas doses por dia), em adultos jovens, aumentou sobrevida da população estudada e reduziu em 30% aterosclerose deste grupo de pessoas. Os estudos dizem que, de uma maneira geral, é uma propriedade do álcool que traz este benefício, não particularmente do vinho. A fama do vinho tinto vem de encontro a uma explicação dos trabalhos dos anos 1970 denominando “paradoxo Francês”. O povo francês tem alto consumo de gordura saturada, porém contrasta com pobre índice de aterosclerose na sua população em comparação aos povos ocidentais.

Medicina & Saúde – Quais as propriedades do vinho que estão relacionadas a esta afirmação?
André Lupatini – Compostos polifenólicos do vinho tinto representados mais popularmente pelos flavonóides e resveratrol, podem influenciar na redução da progressão da aterosclerose. Então os compostos polifenólicos associados ao álcool reduzem o início e a progressão da aterosclerose através da formação de oxido nítrico. Óxido nítrico é vasodilatador natural dos vasos, inibe adesão de células inflamatórias e plaquetas nos vasos, que são processo de coagulação que podem ocasionar trombos responsáveis pelos infartos. Uma segunda vantagem dos compostos polifenólicos é o aumento do bom colesterol (HDL-colesterol) que ajuda eliminar o colesterol ruim (LDL-colesterol). Uma terceira propriedade é uma diminuição da formação da placa por propriedades anti-oxidantes principalmente com vinho tinto. E uma quarta propriedade atribuída, tanto álcool como os compostos polifenólicos do vinho tinto apresentam propriedade anticoagulante.

Colaborou
André R. Lupatini, cardiologista formado pelo Instituto de Cardiologia de Porto Alegre-RS, ecocardiografista formado pelo Hospital São Lucas de Porto Alegre-RS, cardiologista e ecocardiografista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e médico ecocardiografista da Clínica Cardiomed

)))))))))))BOX))))))))
Os dez mandamentos da saúde do coração
1. Diga não à obesidade e controle seu peso.
2. Consulte seu médico periodicamente.
3. Meça a sua pressão arterial com frequência.
4. Diga não ao fumo.
5. Verifique a quantidade de sal nos rótulos dos alimentos.
6. Diga não ao sedentarismo. Pratique esportes.
7. Escolha bem os alimentos.
8. Saiba se é diabético e se tem colesterol alto.
9. Evite o estresse.
10. Ame a vida e o seu coração.


A aterosclerose é caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura no interior das artérias, que vai ocorrendo com o passar do tempo e pode bloquear o fluxo sanguíneo podendo causar um infarto ou acidente vascular cerebral. Entretanto, a aterosclerose pode se formar também nas artérias que irrigam os rins e outros órgãos vitais. Estas placas de gorduras são formadas essencialmente de colesterol mau e, por isso, é tão importante manter os níveis ideais do colesterol durante a vida.

 

Gostou? Compartilhe