Por Hugo R. K. Lisbôa
A medida que todas as previsões sobre o a prevalência da Diabetes Mellitus erram para menos, aumentam as preocupações sobre esta doença. Estima-se que o número total de pessoas com diabetes em 2025 alcançará os 380 milhões de pacientes mas, pelo que vemos historicamente, vão ser mais ainda.
No Brasil não existe uma política nacional de prevenção a esta doença. Seu desenvolvimento é causado por fatores considerados “benignos” pela população; comer alimentos de alto valor calórico como “fast foods”, ingestão de refrigerantes e falta de exercício. Assim é fácil entender este aumento. Estes fatores, associados com história de diabetes na família, o envelhecimento e a obesidade explicam a epidemia de diabetes e das suas complicações, que temos que enfrentar hoje em dia.
Uma glicose no sangue em jejum acima de 100 mg/dL é considerada pré diabetes e acima de 126 mg/dL é considerada a presença da doença. Em ambas as condições não há sintomas porém a glicose, já nestes níveis, está exercendo seu efeitos prejudiciais ao sistema circulatório.
Ao médico, além de recomendar uma dieta saudável, comer pouco e praticar atividades físicas, cabe desenvolver medicamentos para diminuir a glicose circulante para evitar os danos as artérias do coração, do cérebro e dos membros inferiores junto com as consequências sobre a microcirculação que determinam as complicações nos olhos, rins e nervos.
Além das abençoadas insulina e da metformina, que podem ser usadas em qualquer fase da doença, desenvolveram-se novas drogas para o tratamento da diabetes. Já há alguns anos conceberam-se medicações que aumentam as incretinas, que são hormônios produzidos pelo intestino que aumentam a produção da insulina e diminuem o glucagon (hormônio que aumenta a glicose) no momento em que há alimentos no estômago. Se não há comida no tubo digestivo a medicação não funciona e não há risco de baixar a glicose demais no sangue (hipoglicemia). Nesta mesma ocasião apareceram também as incretinas sintéticas que são injetáveis, com o mesmo efeito, e tendo como vantagem a diminuição do peso (exenatide e liraglutide).
Mais recentemente for desenvolvida uma medicação que impede a reabsorção da glicose pelos rins. Todo nosso sangue é filtrado pelos rins que elimina pela urina substâncias indesejáveis produzidas pelo nosso organismo. A glicose é filtrada mas totalmente reabsorvida em situações normais. O uso destes medicações inibidoras do receptor SGTL2 como a canagliflozina, dapagliflozina, que fazem com que o glicose não seja reabsorvida e aumentando a sua excreção pela urina, diminuindo a concentração no sangue e, pela perda das calorias, provocando emagrecimento.
Também está em estudo um dispositivo muito interessante do laboratório Intarcia, chamado ITCA 650 (http://www.intarcia.com/products-technology/). Trata-se de um tubo de titânio do tamanho de um pau de fósforos, que é colocado embaixo da pele e libera a medicação, exenatide, na dose exata durante 6 meses até um ano. Esta incretina produz os efeitos descritos e não há problemas com relação a adesão.
Recentemente foi publicado que a ingestão de alguns tipos de frutas podem ter um papel protetor para o desenvolvimento da diabetes. O principal foi o mirtilo seguido pela uva, ameixa, maçã, pera e banana. O consumo do suco de frutas, no entanto, aumentou o risco.
Desta forma, o consumo de frutas inteiras, verduras, legumes com um pouco de azeite de oliva é protetor para o desenvolvimentos de doenças. Neste mês de novembro publicou-se, na revista médica de maior impacto; New England Journal of Medicine, que ingestão de uma colher de sopa de nozes, castanhas ou amendoim por dia diminui em 20% o risco de morte por doenças circulatórias, respiratórias e câncer (http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1307352).
Trinta minutos de caminhada enérgica cinco vezes por semana diminui em 60% o risco de diabetes.
Há, portanto, maneiras de evitar a diabetes e outras doenças que são as principais causas de morte no momento. A prevenção é sempre mais barata que a cura. Esperemos que não precisar usar medicações novas para diabetes, que surgem a cada momento, para uma demanda, infelizmente, cada dia mais crescente.
Hugo R. K. Lisbôa é professor de Endocrinologia da Universidade de Passo Fundo
Coordenador Científico do Hospital São Vicente de Paulo