José Renato Donadussi Pádua, médico neuropediatra
Alguns termos empregados em medicina causam espanto e até mesmo certo preconceito ao pessoal não médico. A Epilepsia figura entre estes termos, de modo que um paciente (ou seus pais) que acaba de receber um diagnóstico de epilepsia, em geral, fica muito preocupado e até mesmo transtornado. É natural que fique preocupado, e é função do médico explicar tudo sobre o diagnóstico feito, tirar as dúvidas do paciente, tranquilizá-lo e estimulá-lo a seguir o tratamento, que muitas vezes é curativo.
Resumidamente, quando uma criança ou adolescente apresenta duas crises convulsivas (epilépticas) ou mais, poderá receber um diagnóstico de epilepsia, dependendo da avaliação clínica e com exames complementares realizados pelo seu médico.
Existem muitos tipos de crises epilépticas e, consequentemente, de epilepsias. Uma bastante frequente e que acomete a infância é a Epilepsia Ausência, a qual constitui 4 a 5% de todas as epilepsias, predominando nas meninas. Para a sua causa concorrem principalmente fatores genéticos. Nas crises de ausência há interrupção brusca da consciência, com parada da atividade que estava executando, para depois retornar à mesma atividade logo após cessar a crise. As crises são breves (4 a 20 segundos), têm início e fim abruptos, acontecem todos os dias e várias vezes ao dia (às vezes centenas de vezes). Podem ocorrer alguns movimentos com a boca ou alguns gestos repetitivos, ou ainda piscamentos palpebrais associados às crises. O início das ausências acontece, em geral, entre os 4 e 10 anos de idade, e a sua evolução natural dura em média 6 anos. No entanto, estas crises são tratáveis e o paciente deve receber tratamento, pois do contrário os prejuízos advindos das crises repetitivas, com interrupção das atividades, lhe trará comprometimento no seu desempenho, seja na vida pessoal ou nas atividades de aprendizagem, justamente em uma idade em que o aprendizado é fundamental para o desenvolvimento da pessoa.
Então, pais e professores devem estar atentos aos seus filhos e alunos, e se notarem algo parecido ao que foi descrito, onde a criança fica com o olhar parado e “ausente” repetidas vezes durante o dia, associado a baixo rendimento na execução de suas atividades, devem levá-lo imediatamente ao médico para que se tomem as devidas providências.