Uma questão de valores

Medicina & Saúde - coluna semanal de Sueli Gehlen Frosi

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· 2 min de leitura
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As cenas que assistimos neste final de semana, sobre o colapso do transporte público de São Paulo, foram de estarrecer. As escadas rolantes paradas fizeram com que as pessoas tentassem subir mesmo assim, empurrando e pulando corrimões em uma tentativa desesperada de pegar os trens. Viu-se trens invadidos pelas janelas, empurra-empurra nas portas até que todos estivessem em uma situação de aperto limite.

O limite neste caso era o do desespero, da barbárie, do sofrimento supremo e da falta de respeito. Alguém comentou lucidamente que as cenas selvagens deviam-se ao fato de que aquelas pessoas não se sentem cidadãs. Elas não têm ar condicionado, limpeza, conforto, espaço, muito menos dignidade, usando um serviço que degrada usuários e funcionários todos os dias, todas as semanas, todo o ano. Essas pessoas não têm alternativa e nem capacidade de um bom comportamento. Quem não é tratado com dignidade, não aprende a se comportar com civilidade.

Tenho convicção de que valores devem ser vividos, por que não adianta ensiná-los. Se não oferecermos banheiro limpo para nossos filhos, eles não incorporam essa condição como um valor. Se não respeitamos o outro, o respeito não é assimilado como importante.

Gosto de observar as escolas e em algumas não encontrei condições dignas nem para quem estuda lá, nem para os professores e funcionários. Já usei banheiro parcialmente interditado em uma. A tristeza da aparência e do cheiro dos lugares mal cuidados, não formam alguém que dê valor à organização, à higiene, à beleza. Os que não têm nada disso em casa também são os mais prejudicados.

Vivemos um momento em que políticas públicas estão arrancando milhões de famílias da pobreza, proporcionando-lhes condições de ter uma casa, inclusive de comprar os utensílios necessários para uma vida digna, o que está vindo com trinta anos de atraso no mínimo. Paralelo a isso, nossas cidades estão longe de atender ao que os cidadãos necessitam. A precariedade dos serviços essenciais no que diz respeito ao atendimento mínimo em saúde, transporte, educação, são aviltantes.

Se quisermos um comportamento cidadão, temos que tratar todas as pessoas como cidadãs. O reflexo dessas faltas está escancarada nas ruas, ocupadas por manifestantes que estão cansados do descaso, dos rolezinhos que as autoridades fazem com o dinheiro público, locupletando-se com diárias indevidas e viagens por meios criminosos. E isso é a ponta do iceberg. Há muito mais coisas acontecendo, que aviltam nossa nação.

Frente a isso, ainda há quem estranhe o nosso medo, a nossa insegurança, o nosso clamor por um pouco de civilização. Ainda temos crianças na rua de madrugada, completamente vulneráveis;  ainda temos jovens bebendo no centro, fazendo barulho e deixando as ruas imundas; ainda não temos áreas de lazer para oferecer a esses mesmos jovens que bebem nas ruas; ainda não temos ciclovias, mesmo contando com uma avenida imensa cortando a cidade. É de doer! Para dizer pouco...

 

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