A odontologia pública não deixa de ser uma realidade para os brasileiros. O SUS deveria viabilizar mais essa realidade. Apesar de não parecer, é um dos sistemas de saúde (na teoria), mais bem elaborados. Ao mesmo tempo, na prática, não atinge seu formato ideal por diversos fatores – entre eles, a falta do conhecimento de seus princípios doutrinários e organizativos – que criam abismos entre profissionais. Neles, convivem não permitindo que pacientes (principalmente idosos) tenham acesso a tratamentos reabilitadores, como no caso de centros privados de pesquisa e desenvolvimento e/ou universidades.
Historicamente o Brasil carregou dados alarmantes referentes a programas públicos de saúde bucal, principalmente aos que são voltados à população de baixa renda. Descobriu-se só agora que não ter dentes é um problema de saúde pública, e que isto afeta gravemente a saúde geral de qualquer pessoa. E desde então esse enorme vazio vem sendo preenchido – de certa forma – nesses anos mais recentes, com novas políticas de saúde incorporando a Odontologia na prática médica do dia a dia.
O acesso ao cirurgião dentista tem melhorado – principalmente no aspecto preventivo para população mais jovem – mas muito se discute quando o tema é “qualidade de serviços interventivos”, visto que há um total abandono da população mais idosa. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a terceira idade compõem 14,9 milhões de brasileiros, que atualmente poucos recebem tratamento odontológico realmente eficaz.
Resultados da Pesquisa Nacional de Domicílios (PNAD) confirma a precariedade de acesso dos brasileiros ao dentista, nesses últimos anos. O aumento mais significativo não chegou a duas casas, crescendo apenas 8% em 10 anos. E o mais gritante: deste total, 77,9% são crianças de até quatro anos de idade.
Vale lembrar que em 1998 o IBGE revelou que aproximadamente 1/5 da população, ou seja, 19,5% nunca tiveram acesso a tratamento odontológico. Entre os pesquisados, segundo o PNAD, 49,3% usaram o sistema público. Resultado: mais da metade dos entrevistados utilizou sistemas privados ou público privados. Deveria entender por que mais da metade da população em questão, de baixa renda, não procurou o sistema público! Falta de conhecimento? Restrições para os atendimentos? Especialidades não cobertas? Falta de especialistas para tratamentos interventivos de alta complexidade e reabilitadores?
(A resposta para estas questões, Falsi apresenta na próxima semana)
Marcelo Sarra Falsi é dentista, mestrando e especialista em Implantodontia, professor-coordenador do Curso de Implantodontia do Instituto CIOB, centro de desenvolvimento de pesquisa aplicada
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