Que as células-tronco contidas no sangue do cordão umbilical são preservadas para tratar futuras doenças do sangue, como leucemias e linfomas, muitas pessoas já têm conhecimento. A novidade é o que o único laboratório privado de criopreservação com sede no Estado vai oferecer em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Profissionais do Hemocord padronizaram a técnica de processamento e armazenamento das células contidas no tecido do cordão umbilical, cuja quantidade de células-tronco mesenquimais – precursoras do tecido de sustentação da medula óssea - é bastante significativa e aponta para novas estratégias terapêuticas futuras. Essas células têm a capacidade intrínseca de auto-renovação e diferenciação em diversos tecidos, além de terem uma função muito importante, que é de modular, ou controlar a reação imunológica do organismo, onde elas estão presentes em alta concentração. As pesquisas experimentais já reuniram resultados positivos suficientes para justificar seu uso em pesquisas clínicas, ou seja, em seres humanos no tratamento de diversas doenças, como osteogênese imperfeita – uma doença óssea de origem genética -, na recuperação hematopoiética (das células do sangue), na regeneração de tecido ósseo e cartilaginoso, doenças neurológicas e neurodegenerativas, metabólicas e cardíacas, entre outras.
De acordo com o coordenador do Laboratório de Criopreservação do Hemocord e pesquisador em neurociências do Instituto do Cérebro (INSCER) da PUCRS, Daniel Marinowic, ao longo de uma vida, ocorre um dramático decréscimo das células-tronco mesenquimais. Em seres humanos, após o nascimento até a adolescência, ocorre uma redução de aproximadamente 10 vezes. Da adolescência até a senectude (período não-reprodutivo) ocorre um novo decréscimo de aproximadamente 10 vezes o número de células-tronco mesenquimais da medula óssea. “O tecido de cordão umbilical apresenta características atrativas, com células de maior potencial proliferativo e que possuem menor chance de terem sofrido mutações genéticas no seu DNA por ser um tecido extremamente jovem comparado a da medula óssea ou tecido adiposo de um adulto. Além disso, tem baixo risco de contaminação viral”, destaca.
Atualmente, não existe liberação legal para a utilização das células-tronco mesenquimais sem que o paciente seja incluído em um ensaio clínico, porém os estudos utilizando células-tronco mesenquimais estão elucidando novas alternativas terapêuticas para doenças onde as medidas de suporte são as únicas alternativas para os pacientes. “O armazenamento das células-tronco mesenquimais do tecido de cordão umbilical é uma proposta de preservação desse material visando uma possível utilização futura que ainda depende da liberação de órgãos fiscalizadores competentes. Hoje, uma das possibilidades estudadas é a utilização complementar ao uso do sangue de cordão umbilical no transplante de medula óssea, tendo como função melhorar os resultados, além de reduzir complicações pós-quimioterapia por suas características imunomoduladoras”, comenta a Doutora em Ciências e Diretora Médica Científica do Hemocord, Karolyn Sassi Ogliari.
O procedimento
Logo após a coleta do sangue do cordão umbilical, o próprio cordão é encaminhado ao laboratório onde o tecido é dissociado e as células congeladas e armazenadas em nitrogênio líquido. Uma fração desse tecido é destinada para realização de testes de contaminação microbiológica e de ensaios de confirmação de linhagem mesenquimal (origem e características) conforme descrita pela Sociedade Internacional de Terapia Celular.
O novo serviço surgiu a partir das pesquisas em medicina regenerativa desenvolvidas por pesquisadores do Hemocord e da PUCRS. Atualmente, estão em andamento projetos envolvendo células-tronco pluripotente induzidas, reprogramação celular e aplicação de células-tronco do sangue e do tecido de cordão umbilical em modelos de epilepsia.