No último sábado, dia 31 de maio, foi comemorado o Dia Mundial de Combate ao Tabagismo. Um dos principais objetivos da data é lembrar que o tabagismo é a principal causa evitável de câncer. No Brasil, número de fumantes vem diminuindo na população acima de 18 anos
Segundo os dados do Vigitel, pesquisa direcionada realizada todos os anos pelo Ministério da Saúde, 11,3% da população brasileira fuma. O dado se refere ao ano de 2013. Entretanto, os números já foram maiores. Em 2006, por exemplo, o índice era de 156,7%. Em oito ano, a parcela da população brasileira acima de 18 anos que fuma caiu 28 %
Entre os que fumam, a frequência maior permanece entre os homens (14,4%) do que em mulheres (8,6%). Outro bom motivo para comemorar é a queda a frequência das pessoas que fumam 20 ou mais cigarros – de 4,6% em 2006 para 3,4% em 2013. O estudo também revela a redução na frequência de fumantes passivos no domicílio, que passou de 12,7% em 2009 para 10,2% em 2013, e no local de trabalho, embora não seja uma redução expressiva, o índice passou de 12,1% para 9,8%%.
O Ministério da Saúde assinou em abril de 2013 portaria que amplia o acesso dos usuários ao tratamento contra o tabagismo e atualiza as diretrizes de cuidado à pessoa tabagista. A medida permite ampliar o número de unidades e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) que oferecem tratamento aos fumantes. Atualmente, há 23.387 equipes de saúde de 4.375 municípios, no âmbito da atenção básica, preparadas para ofertar o tratamento para largar o vício de fumar no SUS. São oferecidas consultas de avaliação individual ou em grupo de apoio, além de medicamentos em forma de adesivos e gomas de mascar com nicotina.
O levantamento revela ainda que, na capital do Rio Grande do Sul, a frequência de fumantes passivos no domicílio é de 14%, sendo 16% em homens e 13% em mulheres. Além disso, a frequência entre pessoas que fumam 20 ou mais cigarros por dia em Porto Alegre é de 7% (a maior do país), sendo 8% homens e 6% mulheres. Porto Alegre também é a capital com maior concentração de adultos fumantes com 18%. Já a capital com o menor índice é Salvador (BA), onde 6% da população adulta diz ser fumante.
Entrevista
Medicina & Saúde – Do ponto de vista da saúde, por que é tão importante evitar o tabagismo?
Luís Alberto Schlittler – O tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo. Hoje sabemos que tanto o tabagismo ativo como o tabagismo passivo são as principais causas evitáveis, por isso as campanhas são tão importantes. E relacionado ao câncer é uma das principais causas de câncer, muitas vezes associado a outros fatores, como abuso do álcool, obesidade, sedentarismo, má alimentação. Por ano, o número de mortes relacionadas ao tabagismo, por câncer de pulmão, aumenta 2%. Temos quase 2 milhões de casos de mortes por ano no mundo por causa do tabagismo. A maioria, entre 60% e 70%, dos atingidos são os homens, mas uma grande parte é de mulheres.
Medicina & Saúde – É possível definir o que é um fumante passivo?
Luís Alberto Schlittler – É difícil definir exatamente, mas pode-se dizer que o fumante passivo é toda pessoa que convive no mínimo uma ou duas horas ao dia ao lado de um fumante e acabam inalando a fumaça do tabagismo do outro, que muitas vezes está fumando na mesma sala, no mesmo ambiente.
Medicina & Saúde – Quem para de fumar consegue reverter os danos à saúde?
Luís Alberto Schlittler – É possível reverter sim e o quanto mais cedo começar, mas rápido terá os resultados. Geralmente se tem uma ideia de que o risco consegue ser igual a uma pessoa que nunca fumou depois de 10 anos, mas já nos primeiros meses e no primeiro ano já se consegue diminuir muito o risco de evoluir para outras doenças. O risco vem gradativamente diminuindo até 10 anos, quando fica quase igual a uma pessoa que nunca fumou.
Medicina & Saúde – O ideal, então, é nunca começar a fumar?
Luís Alberto Schlittler – Com certeza. E evitar o convívio com pessoas fumantes.
Medicina & Saúde- Existe um nível seguro de tabagismo?
Luís Alberto Schlittler – Não existe. Claro que quanto maior a quantidade de cigarros por dia, maior o risco. E independe do tipo de tabaco inalado: se é cigarro, palheiro, fumo enrolado, cachimbo, todos são derivados do tabaco e causam risco proporcional pelas substâncias inaladas que são mais de 100 substâncias cancerígenas, independente de qual seja. Quanto maior a carga tabágica, maior o risco, mas mesmo um consumo pequeno, causam riscos de doenças relacionadas ao tabaco. Mesmo cigarros com filtro, sabemos que as substâncias cancerígenas passam por ele.
Colaborou
Luís Alberto Schlittler, médico oncologista do Centro Integrado de Terapia Onco-hematológica (Cito).