O Teste do Pezinho é obrigatório no país desde 2001 e tem como objetivo possibilitar a detecção precoce de pelo menos quatro doenças - hipotireoidismo congênito, fenilcetonúria, fibrose cística e doença falciforme. O programa abrange, além da realização dos exames e detecção de doenças, o acompanhamento e o tratamento dos pacientes, muitas vezes, durante toda a vida
Na última sexta-feira, dia 6 de junho, comemorou-se o Dia Nacional do Teste do Pezinho dentre as datas especiais instituídas pelo Ministério da Saúde. Em levantamento realizado pelo próprio ministério no ano de 2012 constatou-se que 2,4 milhões de recém-nascidos realizaram o Teste do Pezinho, primeira etapa da Triagem Neonatal. Desse total, 70,1% das coletas aconteceram na faixa etária ideal, que é entre o terceiro e o quinto dia de nascido.
Em 2010, essa porcentagem foi de 57,6% e em 2011, 62%. Também houve aumento na cobertura de doenças genéticas identificadas pelo exame. Em maio de 2013 houve a incorporação da Fase IV no Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN). Com isso, o PNTN passou a detectar, tratar e acompanhar mais duas doenças (hiperplasia adrenal congênita e a deficiência da biotinidase), passando de quatro (Hipotireoidismo Congênito e Fenilcetonúria, Doença Facilforme e outras Hemoglobinopatiase Fibrose Cística) para seis.
A Triagem Neonatal alcançou, em 2012, 84% de cobertura nacional. Em 2000, o índice de cobertura nacional era de 56%. Todos os estados contam com Serviços de Referência em Triagem Neonatal e postos de coleta (de sangue) para realização do teste – são 30 serviços de referência e 17.774 postos. Os gestores locais têm autonomia para oferecer todos esses serviços pela rede pública. Nos últimos oito anos, pelo SUS, foram realizados mais de 19 milhões de exames.
Entrevista
Medicina & Saúde – Por que o Teste do Pezinho deve ser realizado ainda no primeiro mês de vida do bebê?
Cristiane Agostini Cassanelo – O teste do pezinho detecta algumas doenças congênitas e potencialmente muito graves e quanto antes feito o diagnóstico antes pode-se iniciar o tratamento, permitindo que as crianças tenham mínima ou nenhuma sequela das doenças. O importante é que o teste seja feito o mais precoce, preferencialmente entre o 3º e o 5º dia de vida.
Medicina & Saúde – O que o Teste detecta?
Cristiane Agostini Cassanelo – A partir de 2014 o teste do pezinho oferecido pelo Ministério da Saúde passou a detectar mais duas doenças, totalizando cinco doenças: hemoglobinopatias e anemia falciforme (causadores de anemias), hipotireoidismo congênito (problemas no funcionamento do metabolismo), fenilcetonúria (falha no metabolismo de proteínas existentes na alimentação levando a problemas neurológicos), hiperplasia adrenal congênita (deficiência na síntese de hormônios que estão relacionados a diferenciação sexual e regulação de sódio e outros eletrólitos) e deficiência de biotinidase (deficiência de enzima que leva a crise convulsivas e distúrbios neurológicos).
Medicina & Saúde – Quais os tipos de exames disponíveis?
Cristiane Agostini Cassanelo – Em laboratórios privados existem outros testes mais completos que detectam também galactosemia (incapacidade de processar a galactose - açúcar presente nos leite e derivados), deficiência de G6PD (enzima necessária para metabolizar diversos remédios) e infecções congênitas como toxoplasmose, citomegalovírus, rubéola, sífilis, doença de chagas e HIV.
Medicina & Saúde – Onde deve-se levar o bebê para fazer o Teste?
Cristiane Agostini Cassanelo – O teste é oferecido gratuitamente na rede básica de saúde, em qualquer posto de saúde ou em laboratórios privados.
Medicina & Saúde – Há quanto tempo existe a exigência da realização do Teste do Pezinho?
Cristiane Agostini Cassanelo – Desde 2001 o teste do pezinho está incluído no SUS e é obrigatório.
Colaborou
Cristiane Agostini Cassanelo, médica pediatra e neonatologista do Hospital São Vicente de Paulo
Teste do Pezinho
Exame feito a partir de sangue coletado do calcanhar do bebê e que permite identificar doenças graves.
Quem deve fazer o teste?
Todas as crianças recém-nascidas, a partir de 48 horas de vida até 30 dias do nascimento. Isto porque qualquer pessoa pode ter um filho portador da doença, mesmo que nunca tenha aparecido um caso na família.
Como é feito o tratamento?
O hipotireoidismo congênito é tratado com pequenas doses de hormônio tiroidiano. Já a fenilcetonúria requer uma dieta especial (inclusive o leite).
O que é traço falcêmico?
É uma alteração herdada dos pais que afeta, diretamente, as células do sangue. Essa alteração não uma doença. Mas, se duas pessoas com traço falcêmico se unem seus filhos podem nascer com doença falciforme. Tanto o traço quanto a doença podem ser detectados através do Teste do Pezinho.
O que é doença falciforme?
É uma doença hereditária que provoca dificuldades na circulação do sangue. A doença falciforme causa crises de dor aguda, infecções graves, icterícia (cor amarela no branco dos olhos) e cansaço.
E se você não quiser que seu filho faça o teste?
Hoje em dia, o teste é obrigatório por lei em todo o território nacional. Alguns municípios, inclusive, não permitem que a criança seja registrada em cartório se não tiver feito o Teste do Pezinho anteriormente.
O tratamento é caro?
No caso do hipotireoidismo congênito, o tratamento é simples e barato, mas requer o acompanhamento de um médico especialista. Já o tratamento da fenilcetonúria requer o uso de leite e alimentos especiais que são, muitas vezes, importados.
O que acontece se a criança não fizer o tratamento?
Se o seu filho for portador de alguma dessas doenças e não for tratado convenientemente, certamente desenvolverá problemas no desenvolvimento físico e mental e de nada adiantará iniciar o tratamento depois que isso acontecer.