Divulgada este mês, a Vigitel 2013 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde mostra que o percentual de sobrepeso e obesidade estão se mantendo estáveis pela primeira vez. Os resultados do estudo cessam a média de crescimento de 1,3 ponto percentual ao ano que vinha sendo registrada desde a primeira edição, realizada em 2006 - quando o proporção de pessoas acima do peso era de 42,6% e de obesos era de 11,8%. O estudo mostrou ainda uma queda de 28% no total de fumantes entre a população brasileira acima de 18 anos nos últimos oito anos.
A proporção de obesos entre homens e mulheres é a mesma: 17,5%. No entanto, em relação ao excesso de peso, os homens acumulam percentuais mais expressivos, 54,7% contra 47,4% das mulheres. Essa edição do estudo também indica que a escolaridade se mostra um forte fator de proteção entre o público feminino. O percentual de excesso de peso entre as mulheres com até oito anos de estudo é de 58,3%. Já entre as mulheres com escolaridade de no mínimo 12 anos, esse percentual cai para 36,6%. A prevalência de obesidade também cai pela metade entre esses dois grupos de mulheres, atingindo 24,4% e 11,8%, respectivamente.
Paralelo à estabilidade nos índices de excesso de peso e obesidade, o Vigitel 2013 aponta ainda um aumento de 11% em cinco anos no percentual da atividade física no lazer, passando de 30,3%, em 2009, para 33,8% em 2013. Os homens são os mais ativos: 41,2% praticam exercícios em seu tempo livre, enquanto em 2009 eram 39,7%. Entretanto, o aumento da prática de exercícios entre as mulheres foi maior, passando de 22,2% para 27,4%.
Forte aliado na prevenção de doenças, o consumo recomendado de frutas e hortaliças também registrou aumento de 18% em oito anos. Atualmente, 19,3% dos homens e 27,3% das mulheres comem cinco porções por dia de frutas e hortaliças, quantidade indicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2006, os índices eram de 15,8% e 23,7%, respectivamente.
Apesar desses avanços, o estudo também mostra a existência de diversos hábitos alimentares inapropriados da população. Um deles é o índice que mostra quantos brasileiros tem o habito de substituir o almoço ou o jantar por um lanche de baixo valor nutritivo. Consultado pela primeira vez no Vigitel, o indicador mostrou que 16,5% dos brasileiros (12,6% dos homens e 19,7% das mulheres) costumam trocar o almoço ou jantar por lanches como pizzas, sanduíches ou salgados diariamente. Outro indicador que preocupa é o consumo excessivo de gordura saturada: 31% da população não dispensam a carne gordurosa e mais da metade (53,5%) consome leite integral regularmente. O refrigerante também têm consumidores fiéis: 23,3% ingerem esta bebida, no mínimo, cinco dias por semana.
O Vigitel retrata os hábitos da população brasileira e é uma importante fonte para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde preventiva. Nesta edição, foram entrevistados aproximadamente 53 mil adultos em todas as capitais e também no Distrito Federal. Em vários casos, a alimentação foi apontada como principal fator para o aumento de peso.
Entrevista
Medicina & Saúde – É possível afirmar que a alimentação é o fator que mais influencia na manutenção do peso ou no sobrepeso?
Tatiane Basso – Acredito que sim. Vários fatores interferem, mas a alimentação está diretamente relacionada, porque como nos alimentamos várias vezes ao dia, temos o café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde, jantar, ceia, por isso são várias “oportunidades” para sair da alimentação correta. Claro que a atividade física e cuidados com outros fatores também influenciam, mas diria que a alimentação está diretamente relacionadas, principalmente nos dias de hoje. Sedentarismo e a grande oferta de alimentos que temos hoje em dia certamente influenciam sobre o peso das pessoas.
Medicina & Saúde – A pesquisa do Ministério da Saúde também aponta que existe entre os brasileiros o hábito de trocar o almoço ou o jantar por lanches. Essa substituição é prejudicial? Essa troca é recomendada?
Tatiane Basso – Isso só se recomenda se for uma situação atípica, não pode ser a rotina do dia-a-dia. Hoje em dia, com a saída da mulher de casa para o trabalho e a correria cotidiana, todo mundo bastante atarefado, não se dedica mais tanto tempo para fazer comida em casa. Então, isso com certeza afeta: trocar o almoço por lanche seria somente em situações atípicas. Porém, se a pessoa souber escolher este lanche, pode ser um substituto diário. Mas o problema é que não se escolhe muito bem. São poucos os lugares que se pode pedir um almoço saudável por uma tele-entrega. O que mais se encontra são pizzas, cachorros-quentes, sanduíches. Penso que crescendo a indústria de restaurantes mais saudáveis e locais que façam entrega nos locais de trabalho, nesse sentido não teria problema. O almoço tendo carboidrato, proteína e fibra, fica uma refeição completa.
Medicina & Saúde – O consumo de gordura saturada é prejudicial?
Tatiane Basso – A gordura saturada está presente nos produtos de origem animal basicamente, na banha, no bacon, na calabresa, no leite integral, na manteiga. Mas o problema maior é a gordura trans, que é a gordura vegetal hidrogenada que é transformada numa gordura saturada. Essa é a pior para a saúde e está presente na bolacha recheada, no sorvete, nos doces de padaria e é o que mais tem prejudicado a saúde das pessoas.
Colaborou
Tatiane Basso, nutricionista clínica do Hospital São Vicente de Paulo
Vigitel revela queda no número de fumantes
A parcela da população brasileira acima de 18 anos que fuma caiu 28 % nos últimos oito anos. O Vigitel 2013 registrou que 11,3% da população brasileira fuma, enquanto que em 2006 o índice era de 15,7%. A frequência maior permanece entre os homens (14,4%) do que em mulheres (8,6%). Outro bom motivo para comemorar é a queda a frequência das pessoas que fumam 20 ou mais cigarros – de 4,6% em 2006 para 3,4% em 2013. O estudo também revela a redução na frequência de fumantes passivos no domicílio, que passou de 12,7% em 2009 para 10,2% em 2013, e no local de trabalho, embora não seja uma redução expressiva, o índice passou de 12,1% para 9,8%%.
O Ministério da Saúde assinou em abril de 2013 portaria que amplia o acesso dos usuários ao tratamento contra o tabagismo e atualiza as diretrizes de cuidado à pessoa tabagista. A medida permite ampliar o número de unidades e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) que oferecem tratamento aos fumantes. Atualmente, há 23.387 equipes de saúde de 4.375 municípios, no âmbito da atenção básica, preparadas para ofertar o tratamento para largar o vício de fumar no SUS. São oferecidas consultas de avaliação individual ou em grupo de apoio, além de medicamentos em forma de adesivos e gomas de mascar com nicotina.