Diante de uma perda de um ente querido, podemos experimentar sentimentos intensos de tristeza, insônia, perda de apetite e peso, sintomas semelhantes aos que ocorrem na depressão, mas que não melhoram com medicamentos antidepressivos, e sim com o tempo, com o apoio dos familiares e amigos, às vezes, quando mais complicado, pode ser necessário psicoterapia.
Por outro lado, o luto é um fator de risco para depressão e 5% das pessoas que perdem uma pessoa querida desenvolvem depressão.
A questão é como diferenciar as pessoas que apresentam sintomas depressivos consequentes do luto, daquelas que entram em depressão e poderiam se beneficiar de um tratamento específico para esta (medicamento antidepressivo e/ou terapia cognitivo-comportamental ou interpessoal)?
Primeiro, é importante considerar que no luto o afeto predominante é de vazio e perda, enquanto na depressão, os sintomas principais é humor persistentemente depressivo e a inabilidade de sentir felicidade ou prazer. Ainda, os sintomas no luto tendem a decrescer em intensidade com o passar das semanas e ocorrem em ondas. Essas ondas tendem a estar associadas com pensamentos e lembranças do ente perdido. Já o humor depressivo da depressão é mais persistente e não ligado a situações, pensamentos ou preocupações específicas.
Diferente das pessoas com depressão melancólica, pessoas em luto reagem ao ambiente e tendem a mostrar uma gama de afetos positivos.
Outro ponto, que diferencia um do outro, é o conteúdo do pensamento, que das pessoas em luto é relacionado com lembranças do falecido, podendo haver sentimentos de culpa por não terem feito certas coisa para ela, enquanto que na depressão predomina autocrítica exagerada e ruminações pessimistas.
Além disso, a autoestima que, em geral, está preservada no luto, na depressão é comum sentimentos de inutilidade e autoaversão.
Finalmente, a ideação suicida possui motivações diferentes nas pessoas em luto e nas pessoas em depressão. No primeiro caso, se a pessoa apresenta ideação suicida, esta deriva do desejo de estar junto com a pessoa falecida; no segundo caso, o desejo de terminar com a própria vida é consequente ao sentimento de inutilidade, ou do pensamento de ser indigno para continuar vivendo, ou da desesperança, ou da incapacidade de lidar com a dor da depressão.
LEMBRETE: Tais informações não substituem a avaliação com um profissional especializado.
(REFERÊNCIAS: American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition. Arlington, VA, American Psychiatric Association, 2013)
Leonardo Alovisi Martins é médico psiquiatra
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