Estudo desenvolvido por professor da UPF propõe uma alimentação líquida antes da realização do exame. A prática já faz parte das rotinas médicas em Passo Fundo e possui embasamento científico para ser adotada em qualquer lugar do mundo. Pesquisa chamada de “Segurança, qualidade e conforto da endoscopia digestiva alta precedida de jejum de duas horas: um ensaio clínico randomizado” analisou dois grupos de pacientes: um que realizou o tradicional jejum de oito horas e outro que permaneceu em jejum de alimentos sólidos por oito horas
O jejum de oito horas ou mais, indicado em vários procedimentos médicos, pode causar uma série de desgastes nos pacientes, o que vem mobilizando a comunidade científica em busca de alternativas. Um grupo de pesquisadores, dentre os quais o Dr. Fernando Fornari, gastroenterologista e professor da Faculdade de Passo Medicina da Universidade Fundo (UPF), desenvolveu recentemente a pesquisa “Segurança, qualidade e conforto da endoscopia digestiva alta precedida de jejum de duas horas: um ensaio clínico randomizado”. O estudo analisou dois grupos de pacientes: um que realizou o tradicional jejum de oito horas e outro que permaneceu em jejum de alimentos sólidos por oito horas, mas que, duas horas antes do procedimento de endoscopia, se alimentou com um composto nutricional líquido. Os dados obtidos demonstram que esta preparação é mais confortável e igualmente segura aos pacientes em comparação com o método tradicional.
A pesquisa envolveu, além da UPF, o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio do Programa de Pós-Graduação: Ciências em Gastroenterologia e Hepatologia. De acordo com Fornari, o estudo começou a ganhar forma em 2012, inspirado no Projeto ACERTO, que visa acelerar a recuperação pós-operatória e tem, entre seus pontos, a abreviação do jejum pré-operatório. A ideia de testar o jejum reduzido nos procedimentos de endoscopia foi executada em conjunto com os gastroenterologistas Marcio Lubini e Nilton Maiolini Bonadeo e com a enfermeira Angélica Koepe, da Unidade de Endoscopia do HSVP, e, na época, mestranda em Gastroenterologia e Hepatologia pela UFRGS.
As vantagens
Aproximadamente 100 pacientes participaram do estudo, tanto internados quanto de ambulatório, os quais, por meio de sorteio, foram divididos em dois grupos: o primeiro manteve o jejum convencional, de oito a dez horas, e o segundo fez jejum curto. No segundo grupo, os pacientes ingeriram 200 ml de um composto nutricional calórico isento de gordura, com proteínas e carboidratos. Após a realização do exame, o endoscopista atribuiu notas para sua segurança e qualidade. Aos pacientes, coube responder a um questionário sobre conforto. Os resultados apontaram que o jejum reduzido é mais confortável e igualmente seguro se comparado ao método tradicional, com níveis semelhantes de qualidade. Fornari salienta que a prática foi testada em procedimentos endoscópicos agendados e excluiu pacientes em situação de emergência, com sondas, extremamente obesos ou com hemorragia digestiva.
O pesquisador da UPF explica que o jejum prolongado é uma prática enraizada na medicina, mas que a Sociedade Americana de Anestesiologia já preconiza o jejum curto para os procedimentos eletivos. Entre suas vantagens, destaca-se o maior conforto dos pacientes, que sofrem menos com instabilidade da pressão arterial e hipoglicemia, por exemplo.
O uso de alimentação líquida no jejum curto é justificado pela rapidez de esvaziamento do estômago para substâncias dessa natureza, especialmente as isentas de gordura. “Tal explicação fisiológica dá respaldo para a prática. Na pesquisa, utilizamos um composto especial, mas suco de laranja, café preto e sopa coada são exemplos de outros líquidos que podem ser ingeridos”, afirmou o professor.