Cirurgia com o paciente acordado: ficção ou realidade?

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A realização de procedimentos cirúrgicos no cérebro com o paciente acordado talvez não seja uma novidade. Porém, dada a complexidade, é necessário entender a função desta técnica, sobretudo para o paciente. O neurocirurgião Luiz Daniel Cetl explica que a cirurgia, conhecida como ‘awake craniotomy’ (cirurgia acordada, em português), é utilizada nos casos de ressecção (remoção) tumores cerebrais e realizada no Brasil há menos de 10 anos.

Cirurgias com pacientes acordados parece ficção científica retirada de um livro de Júlio Verne. Muito além da ficção, hoje elas são uma realidade, como no caso da ‘awake craniotomy’, que consiste em submeter o paciente a uma anestesia geral e, após a abertura do osso do crânio, acordá-lo, através da diminuição do nível da sedação. Nesse momento é feito um mapeamento da localização do tumor e de áreas eloquentes, como a motora, a sensitiva e, principalmente, as áreas da fala.

O neurocirurgião Luiz Cetl, especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), membro do grupo de tumores do Departamento de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e integrante da diretoria da Associação dos Neurocirurgiões do Estado de São Paulo (SONESP), explica ainda que, após o mapeamento de todas as áreas de interesse, o paciente é novamente colocado em anestesia geral, a cirurgia é completada e o tumor removido total ou parcialmente.

Para que o neurocirurgião consiga identificar as áreas eloquentes e atingidas pelo tumor, o paciente fica com eletrodos nas mãos, pernas ou nas áreas em que se quer testar os estímulos cerebrais. “Pedimos ao paciente que fale uma frase. No momento da estimulação da área correspondente ele pode parar de falar ou demonstrar distúrbio de linguagem (parafasia), o que sinaliza uma alteração em algum circuito da fala”, explica o neurocirurgião Luiz Cetl.

Segundo Cetl, a grande vantagem é que o procedimento permite o controle da ressecção, garantindo uma remoção maior do tumor sem comprometer uma determinada função cerebral, resultando em menos déficit pós-operatório, o que garante uma melhor qualidade de vida do paciente e o controle do tumor, já que quanto maior sua retirada, maiores as chances de postergar as recidivas.
O neurocirurgião ressalta que o tumor cerebral, por si só, é completamente invasivo e ocasiona mudanças físicas, sociais e psicológicas na a vida do paciente. Por isso, destaca o médico, é necessário que ele receba um tratamento multiprofissional, onde se insere também, além do neurologista, neurocirurgiões, oncologistas, psicólogos, fisiatras e fisioterapeutas, entre outros. “O tratamento multiprofissional é fundamental, mas a ajuda dos familiares é de extrema importância no processo de recuperação”.

Saiba mais sobre câncer cerebral:
O câncer cerebral é consequência da multiplicação desordenada das células no interior da caixa craniana. Os tumores podem ser originários das células do próprio cérebro (chamados de tumores de células gliais); originários das membranas que recobrem o cérebro (tumores das meninges ou meningeomas); surgirem das bainhas dos nervos (neuromas ou neurinomas); ou serem originários de outros órgãos ou tecidos que podem se disseminar pelo sangue (tumores metastáticos).

Apesar de inúmeros estudos relacionarem alguns fatores potenciais às causas para o desenvolvimento do tumor, tais como a má alimentação, uso de determinados medicamentos e exposição a substâncias químicas, a doença geralmente não possui uma causa única para o seu surgimento. Outra razão provável de tumores são as radiações usadas para tratar os próprios tumores, mas que podem levar ao surgimento de outros. Algumas substâncias químicas também foram apontadas como prováveis indutoras de câncer cerebral, porém sem comprovação exata.
Fonte para entrevista:

Colaborou
Luiz Cetl, neurocirurgião
www.drluizcetl.com.br

 

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