Elas dominaram o mundo: são mulheres jovens que, mesmo sem querer, criam tendência e despertam o interesse em relação, principalmente, ao seu modo de vestir. Hoje, qualquer revista ou site de moda que se preze, sabe que as it girls vieram para ficar. E entre nomes mundialmente famosos como Blake Lively, Alexa Chung e Olivia Palermo está uma passo-fundense que ainda não conquistou o mundo, mas que, se depender dela, logo vai conquistar.
Ketherin Kaffka já nasceu com um nome marcante. É natural de Santa Rosa, mas mora em Passo Fundo há cerca de quatro anos, e tem apenas 22 anos. Tempo mais que suficiente para criar um blog – o Kaffka Blog -, uma marca de roupas – a Anke Moda – e ainda se destacar como modelo e designer. E olha que ela até brinca com a forma como desenvolveu seu gosto pela moda: “Eu não tenho uma história tipo aquelas de 'minha mãe era costureira e eu sempre estive envolvida'. Sempre gostei de tudo que envolvesse a arte, a criatividade, sempre gostei da área da comunicação, do design gráfico e eu comecei a desenvolver meu gosto pela moda lá pelos meus 14, 15 anos, quando passei a ver a moda, não só daquela maneira superficial, do se vestir e combinar coisas, mas na parte da arte da moda, as mil possibilidades que ela poderia ter”. Foi a partir desse contato que ela percebeu tudo o que poderia fazer com a moda e como ela poderia ajudar na vida das pessoas. “Eu gostava também desse lado emocional, eu via que a moda podia fazer diferença na vida das pessoas. Eu uni uma paixão, que eu desenvolvi, ao que eu queria fazer. Foi uma coisa que eu fui criando, fui observando e me apaixonando por aquilo. Vendo que eu podia transformar muitas coisas com a moda além do óbvio”, comenta.
Profissão: blogueira
A primeira tentativa de criar um blog veio antes mesmo de cursar Design de Moda, na época em que houve o boom dos blogs de moda que são, hoje, os mais bem sucedidos do mercado. Segundo ela, não era nada profissional e ela acabou não levando muito a sério, postava quando podia. Hoje, Ketherin confessa que se arrepende de não ter investido tanto nele naquela época – todas as meninas que investiram hoje são mega sucessos. O cenário mudou há cerca de um ano quando criou o Kaffka Blogm, dessa vez sim, de maneira profissional. “Eu pensei em um plano de negócio para ele, fiz bem bonitinho. Como eu fiz design gráfico, eu mesma fiz todo o layout dele, pensei em tudo o que eu ia querer, como iam ser as postagens. Fiquei quase meio ano planejando como ele seria, até colocar em prática. Querendo ou não, um blog também é um negócio, então você tem que ter um plano de marketing para ele, envolve muito trabalho”, explica. Para ela, ele surgiu de uma falta de oportunidade em relação a moda por aqui. “Eu não ia ter um trabalho que pudesse fazer uma carreira e sempre sonhei muito longe, então foi uma forma que eu encontrei de me destacar fora, mas sem sair daqui”, lembra.
Para ela, apesar de ainda ser novo, o blog já está dando resultados. Mas a principal razão de investir na plataforma é poder unir todas as suas paixões. “É um lugar que eu adoro porque eu consigo fazer tudo que eu gosto da maneira que eu quero. Eu consigo jogar meus horários e eu acho isso muito prazeroso e eu prezo muito essa coisa de qualidade de vida. Eu sempre tenho essa opção de adaptar meus horários. Trabalho muito, mas eu consigo organizar. É uma das coisas que me fez investir bastante no blog”, conta.
E valeu o investimento. Recentemente, a blogueira participou de um concurso nacional para blogs, promovido pela marca Petit Jolie, o We Love Fashion Blogs. Através de vários desafios, a marca escolheu uma menina para representá-la. Ketherin não chegou a vencer, mas chegou longe, ficou entre as 15 finalistas das mais de 1.000 inscritas e viu muitas portas se abrirem: “Quando eu cheguei na final eu fiquei muito faceira e muita gente veio elogiar, dizendo que eu ia ganhar. Eu sempre fui bem realista, sabia que tinha blogs mais legais. Foi uma porta de entrada para muita gente conhecer o blog. Tanto que até hoje tem pessoas entrando em contanto dizendo que conheceu meu trabalho através do concurso. Abriu, querendo ou não, um leque nacional muito grande”. Para ela, o mais importante foi a rede de contatos que conseguiu criar em tão pouco tempo e com pessoas do país inteiro e o aprendizado que ficou: “Apesar de não ter ganhado, pra mim, foi importante ter conhecido todas essas pessoas e muita gente passou a me conhecer por causa disso. Deu bastante trabalho, nunca tinha feito vídeo, por exemplo, nem sabia editar. Um dos desafios era apresentar a cidade com cores e a gente mora em uma cidade que, praticamente, não tem cores. Eu fiquei feliz porque eu tive que me superar muito mais. Aprendi muita coisa”, comemora.
Uma vida multifunções
Além do blog, há pouco mais de um ano, Ketherin resolveu investir em outro lado da moda: ela e uma amiga, a Ana Laura, criaram a própria marca da roupas, a Anke. “Nós vimos a necessidade, aqui em Passo Fundo, de ter uma marca que trouxesse ideias novas e pudesse ser personalizada, além de diferente. Eu sentia essa dificuldade de ver muita coisa lá fora que demora muito tempo para chegar aqui e eu sempre acompanhei tudo, sou curiosa para saber as novidades. Eu acabava, muitas vezes, produzindo minhas próprias roupas porque eu não conseguia achar o que eu queria e essa minha amiga sentia a mesma coisa”, conta. Apesar dos estilos diferentes – Ketherin é mais fashionista e Ana Laura é mais boho – as ideias se encaixaram e a marca surgiu. “Quando a gente criou foi para suprir essa necessidade, de trazer mais novidades, uma moda além do que é comercial, algo que a gente pudesse ouvir o que o cliente queria e trazer para ele na mesma hora, porque nós conseguíamos produzir rapidamente”, explica. Um dos fortes da Anke é a exclusividade. Ketherin explica que a cliente pode escolher todos os detalhes da peça e ter uma roupa só dela: “Nós temos a nossa coleção, mas fazemos sob medida também, a cliente escolhe a estampa, escolhe o modelo, a cor, ela até pode colocar uma foto dela, por exemplo, pode personalizar toda a peça. E a recepção foi ótima, as pessoas adoraram porque a gente consegue realizar todos os desejos das pessoas. Esse foi o diferencial que faz a marca dar certo”.
Além de tudo isso, Ketherin ainda se dedica a carreira de modelo, ao trabalho como personal stylist e ainda encontra tempo para trabalhar com design gráfico e fazer uma pós-graduação. Para ela, é difícil conciliar tudo, mas ela garante que gosta. “Como eu sempre tive uma personalidade muito agitada, eu sou bem hiperativa, não consigo ficar um dia em casa sem fazer nada, então eu sempre fui adaptada a essa coisa de estar ligada na tomada o tempo todo, eu acostumei, hoje já não é mais tão pesado”, comenta. O segredo é a organização: “Eu tenho que ser muito organizada, manter minha agenda sempre em ordem, delegar uma função para cada dia. Acho que o tempo, na verdade, é uma questão de prioridade, não existe não ter tempo, você sempre dá um jeito. Tem que ser muito organizada e rigorosa com os horários senão você acaba abraçando muita coisa e não fazendo nada direito e assim também não adianta”. Hoje, ela garante estar mais focada no blog já que ele está abrindo muitas portas e crescendo a cada dia. “Ele é uma das minhas prioridades, mas até agora eu consegui encaixar tudo, tem que gostar”, confessa.
A moda que inspira
Como qualquer um do meio da moda, a blogueira também busca suas inspirações. “De fora do Brasil eu gosto muito da Miroslava Duma, acho a Olivia Palermo muito bonita também, eu gosto de umas meninas que têm um estilo diferente, que não têm medo do que usar, gosto de me inspirar em pessoas que gostam de inovar. Gosto dessa ideia de inovação”, comenta. Segundo ela, o mais bacana dessas referências é que as meninas expõem sua personalidade e não estão preocupadas com o que os outros pensam. “Gosto de pessoas que saem do óbvio, que expressam sua identidade na moda, trazer uma coisa que ninguém nunca usou ou alguma coisa normal de uma forma diferente”, explica. A cantora Rihana e a atriz brasileira Thaila Ayala também estão na lista.
Um olhar sobre a moda
Sobre a moda em Passo Fundo, a jovem acredita que ela evoluiu muito, mas ainda sente que seu trabalho é muito mais valorizado fora daqui. De acordo com ela, a cidade tem muita visão de moda, do que é tendência e as pessoas são bem ligadas nisso, o que falta é um pouco do vender da moda, da divulgação, de investir em ferramentas que façam com que ela se torne conhecida. “Em Santa Maria, por exemplo, existe uma semana de moda. Aqui falta um pouco disso, tem desfile, mas podia ter algo maior, tem tanta loja bacana, dá para fazer, tem um potencial enorme”, comenta. Apesar disso, ela garante que houve muita evolução: “O curso de Moda aqui está ajudando bastante, tem muita menina formada se inserindo em lojas, muita menina que tem noção de moda trabalhando nesses lugares, isso é importante. Seria tão bom ter uma consultoria quando você vai na loja, certo? Acho que isso, aos poucos, está acontecendo, eles estão se inspirando no que está acontecendo fora”.
Entre os principais erros que as pessoas cometem na hora de se vestir, ela destaca o não conhecer seu próprio corpo e não saber a idade que tem. “A moda é muito democrática e não tem regras tão rígidas, eu não gosto dessa coisa de dizer que não pode usar alguma coisa, mas você tem que conhecer seu corpo e, em primeiro lugar, seu estilo”, alerta. Para Ketherin, não adianta olhar uma tendência, achar lindo no manequim, vestir e ter uma “miopia de espelho”: “A pessoa tem que ver o que está realmente acontecendo”. A dica é buscar sempre inspirações: “Na moda você precisa se inspirar muito, precisa estar diariamente buscando informações. O legal da moda é que você consegue passar a imagem que quiser com ela e é importante ter essa noção, é algo que você desenvolve”.
Voando alto
Apesar de ter adotado Passo Fundo como sua cidade, Ketherin não tem planos de ficar por aqui. No ano que vem pretende ir de mala e cuia para São Paulo em busca de novas experiências profissionais. “Eu adoro Passo Fundo, faz quatro anos que eu moro aqui e eu me apeguei muito, gosto das pessoas daqui. Mas se eu quero crescer preciso alçar voos muito maiores e São Paulo é o lugar para crescer”, conta. Além da capital brasileira da moda, uma viagem ao exterior também está entre os planos, já que ela acredita que conhecer a moda do mundo e apresentá-la no blog é importante e pode ser feito de qualquer lugar. Um trabalho como diagramadora em uma grande revista de moda também não está descartado, assim como algo na televisão, mas por enquanto, segundo ela, ainda são sonhos: “São só sonhos, mas eu estou indo atrás deles”, conclui.