Diferenças genéticas podem explicar porque algumas pessoas com HIV não apresentam sintomas

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Por que algumas pessoas infectadas pelo HIV não apresentam sintomas de Aids mesmo após dez anos sem tratamento, enquanto outras adoecem rapidamente? A resposta para esta pergunta pode ser a chave para o desenvolvimento de vacinas contra a infecção ou de medicamentos capazes de otimizar o tratamento da doença. Entre as possíveis explicações investigadas pelos cientistas estão as diferenças genéticas entre os indivíduos, em especial aquelas que acontecem em uma região altamente variável do DNA chamada de Complexo Principal de Histocompatibilidade ou Antígenos Leucocitários Humanos (HLA, na sigla em inglês).
Foi neste trecho do genoma que um estudo liderado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) investigou, de forma inédita, a ocorrência do perfil genético HLA- B*52 em pacientes brasileiros. Foi verificado que esta variedade possui uma característica muito especial: está associada à chamada ‘não progressão de longo termo’ da doença, quando os sintomas da síndrome não são desenvolvidos mesmo após dez anos de infecção.     

O mecanismo do HLA funciona da mesma forma em todas as pessoas, mas, dependendo de pequenas variações genéticas, a molécula pode se ligar a antígenos distintos, ou seja, para sinalizar uma mesma infecção, os indivíduos utilizam fragmentos diferentes das proteínas dos vírus ou das bactérias, o que pode impactar na capacidade de reagir às doenças. No caso do HIV, estudos têm indicado que a variedade genética do HLA pode acarretar diferentes graus de eficácia na sinalização da infecção pelo vírus

Alguns tipos de HLA associados à ‘não progressão’ da Aids já foram identificados por cientistas, assim como algumas variedades ligadas aos casos de evolução rápida – quando os sintomas da Aids aparecem menos de três anos após o paciente contrair o vírus. No entanto, a busca por estes genes é difícil, especialmente por causa da grande diversidade entre eles.

No estudo que conseguiu encontrar, pela primeira vez no Brasil, a associação entre a variedade HLA-B*52 e a ‘não progressão’ da Aids, os pesquisadores do IOC/Fiocruz partiram da análise do histórico médico de 3.809 pacientes atendidos no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), parceiro na pesquisa. A primeira etapa do trabalho foi separar os pacientes entre os diferentes perfis de evolução da doença (rápida, típica ou não progressão de longo termo), o que só é possível quando a infecção é diagnosticada no começo e há um acompanhamento regular do caso, com exames clínicos e laboratoriais. Seguindo estes critérios, foi possível classificar 496 casos como de progressão rápida, típica ou não-progressão de longo termo. Com a aplicação de técnicas moleculares, em 218 deles os pesquisadores conseguiram identificar a variação do genótipo HLA-B, encontrando 29 variedades ao todo. Por fim, ferramentas de estatística mostraram que a variante HLA-B*52 tinha uma presença significativamente maior entre os indivíduos que não apresentam sintomas mesmo após dez anos de infecção.

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