Luto: momento para superar uma perda

Chorar, sentir tristeza, sentir como se fosse um aperto no peito são perfeitamente normais para quem está elaborando uma grande perda

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Neste domingo, dia 2 de novembro, é celebrado o Dia de Finados. A data movimenta um grande número de pessoas em visita aos cemitérios para visitar túmulos dos entes queridos que já não estão mais entre os vivos. A data acaba sendo de tristeza para muitos, mas o luto é parte importante na superação da perda de uma pessoa querida. Chorar, sentir tristeza, sentir como se fosse um aperto no peito são perfeitamente normais para quem está elaborando uma grande perda

Dificilmente uma pessoa se sente preparada para perder uma pessoa querida. Mesmo diante a aflição de uma doença que arraste por anos, a esperança de ver quem se ama se recuperando é quase inerente ao ser humano. Por isso, quando a morte se abate sobre alguém é quase impossível não sentir uma dor imensa e chorar intensamente. Mas todo esse processo, chamado de luto, é normal e deve ser vivido pelas pessoas.
De acordo com o psicólogo Luiz Ronaldo Freitas de Oliveira, coordenador do curso de Psicologia da Imed, o luto é um processo de elaboração que leva a superação de uma perda significativa. “Viver o luto é o que possibilita a superação saudável da perda e nos devolve o sentido para buscarmos outras experiências significativas. Cada pessoa tem um funcionamento psíquico e, consequentemente, uma maneira de lidar com a realidade. Assim, a vivência do luto é a repetição baseada na internalização de experiências saudáveis, constituindo a possibilidade de resignificar a perda do ente querido. Portanto, o período de luto em torno da perda de um ente querido é a possibilidade de transformar, gradativamente, a dor em saudade e posteriormente em exemplo a ser seguido”, explica.

Nesta época do ano, em que existe um dia específico para reviver estes momentos de perda e lembrar das pessoas que já morreram, alguns chegam a reviver este processo de luto, mas tudo é natural, esclarece o psicólogo.

Entrevista

Medicina & Saúde – Para algumas pessoas esse momento é mais difícil de enfrentar?
Luiz Ronaldo Freitas de Oliveira – Pelo fato que somos diferentes e nos relacionamos subjetivamente com a realidade, a experiência de luto também será proporcional ao investimento psíquico que depositamos nos objetos internalizados. O sofrimento em torno da perda é referente ao sentido que atribuímos ao fato. O nível de dependência emocional é outro fator que aumenta o sofrimento e prolonga o período de luto. Algumas pessoas vivem permanentemente o luto e não consegue elaborar a perda e resignificar a dor. Assim sugere-se a busca de tratamento para possibilitar a retomada ao ciclo normal da vida, sem a existência do objeto perdido. Quando não tratado e elaborado, o luto patológico torna-se uma melancolia, onde o sujeito lamenta a perda de algo interno que nunca teve e vive como se tivesse sepultado partes do eu que pertencia ao outro e que não existe mais. Portanto, sentir a perda e sofrer temporariamente são sinais de saúde emocional e lamentar eternamente é um sintoma de doença psíquica.

Medicina & Saúde – Rememorar essas saudades no Dia de Finados é normal e saudável?
Luiz Ronaldo Freitas de Oliveira – A cultura ocidental cristã introduziu a celebração do dia dos finados para possibilitar a reflexão sobre o sentido da vida e da morte. É um momento em que recordamos com saudades e nos deparamos com a finitude humana. Rememorar e celebrar a perda são oportunidades de retomar o sentido da vida e se reorganizar psiquicamente. A superação baseada no exemplo de alguém nos leva a pensar e planejar o futuro. O dia dos finados é um momento de resignificação e retomada do passado, vivendo o presente e planejando o futuro.

Colaborou
Luiz Ronaldo Freitas de Oliveira, Psicólogo, Professor e Coordenador da Escola de Psicologia da IMED

Como tratar desse tema com crianças
Nem sempre os adultos sabem como conversar sobre este tema com as crianças. As dúvidas sobre como lidar com este assunto em frente aos pequenos ou como contar uma notícia da perda de alguém querido são frequentes. O psicólogo Luiz Ronaldo Freitas de Oliveira explica porém que as crianças lidam naturalmente com as perdas e nos possibilitam compreender a dinâmica da superação. “Por isso, sugere-se que sempre fale a verdade para a criança e não invente histórias sem nexo com a realidade. Podemos utilizar metáforas e exemplos, mas não devemos omitir a veracidade dos fatos, pois, a criança ao descobrir por conta própria que o adulto mentiu, não irá mais acreditar nas pessoas e terá dificuldade em elaborar perdas significativas”, esclarece.

Conforme o psicólogo é importante que a criança entenda o processo de se despedir dessa pessoa. “Quando perdemos alguém muito próximo é recomendável que explique para a criança que a pessoa morreu e que precisamos nos despedir, pois não permanecerá convivendo conosco. Geralmente as crianças entendem e aceitam com mais facilidade do que os adultos. A dificuldade em falar e admitir a morte é dos adultos e não das crianças”, avalia.

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