Sem perder a ternura

Quem disse que preparar churrasco é tarefa exclusiva para os homens não conheceu Clarice Chwartzmann, uma passo-fundense que ajuda as mulheres a conquistar a churrasqueira

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Quebrar padrões sociais é algo que há muito tempo as mulheres estão acostumadas a fazer, mas por maiores que sejam suas conquistas, alguns territórios ainda são difíceis de conquistar. Um deles é a churrasqueira, lugar tradicionalmente masculino. Mas não por muito mais tempo! Graças à iniciativa da publicitária e produtora cultural Clarice Chwartzman, as mulheres estão aprendendo a dominar a arte de preparar um bom churrasco.

Clarice é natural de Passo Fundo e residia na rua Coronel Chicuta, uma casa com um pátio cheio de árvores frutíferas e uma churrasqueira enorme, o local preferido do pai, Nahum Chwartzmann, nos finais de semana, o que a proporcionou uma infância típica do interior e de uma família grande. Ela acredita que foi o fato de ser a filha mais velha de quatro meninas que, naturalmente, a introduziu ao ritual do preparo do churrasco: escolher a carne, preparar o fogo, temperar, espetar, esperar o ponto certo, servir e comer com muito prazer. “Aprendi a apreciar esse ritual desde cedo, aos 12 anos, pois meu pai tinha enorme prazer nos detalhes e acabei sendo a filha que herdou, além do conhecimento, a reverência ao estado de espírito que é fazer um bom churrasco e receber pessoas queridas”, explica.

A publicitária garante que, apesar de ser um ambiente muito associado aos homens, sempre se sentiu a vontade com o pai para chegar perto da churrasqueira, perguntar, mexer no fogo, virar a carna.. “Acredito muito que, além da minha curiosidade natural, a simplicidade e desmistificação que vivi com o meu pai foi fundamental para essa aproximação com a churrasqueira”, comenta.

Recentemente, há cerce de três meses, o gosto pelo preparo do churrasco virou um novo tipo de negócio. Depois de uma grande experiência na área cultural e de trabalhar com eventos corporativos, Clarice conta que sentiu um vazio e resolveu perguntar a si mesma quem ela era, o que ela queria fazer e o que a fazia feliz. A resposta foi simples: “Adoro fazer churrasco desde sempre e decidi levar essa ideia adiante, fazer acontecer. E nada melhor do que a ação”. O primeiro passo foi apresentar a ideia e o formato do curso. A ajuda e o incentivo vieram da amiga e jornalista Cláudia Aragonm responsável pelo projeto Porto Alegre, quem diria. “Ao agendar o primeiro curso aberto ao público feminino, tive 23 inscritas e foi linda a troca, o interesse, a felicidade da turma. É muito bom poder desmistificar, simplificar e aproximar este conhecimento das mulheres. Por ser uma mulher ensinando, existem muitas afinidades, independente da realidade de cada mulher”, conta Clarice.

No curso, as participantes aprendem o passo a passo, desde como comprar a carne, fazer fogo, a utilização da grelha e espeto, o ponto da carne, como cortar e servir. “Fazemos isso na prática e quem quer colocar a mão na massa, pode colocar. As alunas perguntam e degustam o resultado do curso que é o churrasco perfeito. Acima de tudo eu passo o espírito do churrasco, o prazer, a alegria do encontro e da troca. Sem mistérios ou segredos!”, explica. A procura, segundo ela, vem crescendo a cada dia.

Conquistando territórios

Clarice acredita que o fato de uma mulher ensinar outras mulheres a fazer churrasco é tão inovador porque nossa cultura ainda mantém a churrasqueira como sendo um lugar apenas para os homens. Para ela, existe um desejo contido na maioria das mulheres e a oportunidade de trocar conhecimento de mulher para mulher é muito bacana. “Acho importante haver a quebra desde paradigma de que existem tarefas ou para homens, ou para mulheres. O que existe é o interesse de uma pessoa por algo, independente do sexo. A liberdade de podermos ser e fazer o que nos faz felizes é o que me move. Nunca me limitei sobre isso. Troco pneu de carro, se necessário, mas não prefiro!”, brinca.

O preconceito existe, mas ela garante que não a paralisam: “Na semana Farroupilha fui convidada por um veículo de comunicação para fazer um churrasco em um piquete no Acampamento Farroupilha e fui recebida pelo patrão do piquete e pelo assador oficial, ambos vestidos a rigor e espantados com a minha coragem de invadir esse reduto masculino. Fui naturalmente fazendo meu trabalho e ao final eles estavam recomendando às mulheres assumirem a churrasqueira!”. De acordo com ela, não se trata de fazer melhor, nem pior que os homens. “A idéia é fazer do nosso jeito e que fique um churrasco de verdade, no ponto certo para todos se deliciarem!”, lembra.

Sobre Passo Fundo, ela conta que adoraria voltar para sua terra natal para realizar esta troca tão divertida e especial. Enquanto a oportunidade não surge, para quem quer se arriscar no preparo do churrasco, a sugestão é simples: “Sugiro uma aproximação das mulheres na churrasqueira com os maridos, namorados, amigos... Um ótimo motivo para compartilhar o prazer deste ritual maravilhoso da nossa cultura”, conclui. 

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