Terapia hormonal X hipertensão

Estudo da UPF aponta que terapia hormonal é segura em relação a aspectos cardiovasculares. Professora Dra. Karen Opperman Lisbôa coordena pesquisas relacionados ao uso de hormônio feminino há mais de 10 anos

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A menopausa, caracterizada pela ausência da menstruação por um período de 12 meses, ocorre, normalmente, por volta dos 50 anos nas mulheres, e pode estar acompanhada de sintomas como ondas de calor, suor noturno, variações no estado de humor, dores de cabeça, cansaço, desânimo e alteração da memória. A terapia de reposição hormonal, utilizada para oferecer alívio a esses e outros sintomas clássicos desta fase da vida, é um tema que divide opiniões, inclusive de especialistas no assunto. Um estudo de 10 anos coordenado pela professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF), Dra. Karen Opperman Lisbôa, teve a intenção de verificar diferentes aspectos cardiovasculares em mulheres hipertensas usuárias da terapia hormonal (TH) e comprovou a segurança na sua utilização.

O trabalho contou com a participação de 33 mulheres hipertensas, com sintomas vasomotores, que consultaram no Ambulatório de Ginecologia Endócrina e Menopausa do Hospital São Vicente de Paulo, a partir de janeiro de 1993 até 2013. Elas receberam TH com estrogênio, ou estrogênio mais progestogênio, medicamento disponível na rede pública de saúde. A professora Karen explica que essas pacientes foram examinadas a cada seis meses durante os 10 anos, para, além da consulta clínica, avaliar as modificações do peso corporal, da pressão arterial sistêmica, dos lipídios, do índice glicêmico e a circunferência abdominal. Na base e durante o seguimento do estudo, foram investigados também a idade, o status menopáusico e a presença de sintomas climatéricos.

O estudo

A professora destaca que os problemas cardiovasculares são a maior causa de mortalidade entre as mulheres no período após a menopausa e que a hipertensão arterial sistêmica é um achado frequente entre mulheres que necessitem TH. “Há aproximadamente 15 anos, um estudo norte-americano com milhares de mulheres demonstrou que administrar hormônio às hipertensas poderia ter riscos. Essa possível piora no quadro cardiovascular e o receio do câncer de mama colocaram em cheque o uso da TH. Por outro lado, é importante ressaltar que o uso de TH neste grupo de mulheres hipertensas se deveu à persistência de sintomas menopáusicos ao longo do tempo. A intervenção medicamentosa buscou propiciar a elas bem-estar”, justifica, lembrando que tudo ocorreu dentro de regras e com a concordância do Comitê de Ética.
A maioria das participantes do estudo tinha idade média de 48 anos e comprovou os benefícios do uso da TH durante o uso. A aposentada Ivone Oro foi uma das pacientes acompanhadas e hoje está liberada da utilização dos hormônios femininos. “Me sentia muito melhor com a utilização do hormônio, especialmente em relação aos calorões, e também passei a dormir melhor”, afirma ela.

Terapia segura
De acordo com a professora Karen, comparando-se aos valores de base (da primeira avaliação), verificou-se entre as pacientes da pesquisa uma tendência ao aumento da pressão arterial sistólica (alta) aos 5 anos de estudo, seguida de uma diminuição da mesma aos 10 anos. Quanto à pressão arterial diastólica (baixa), ocorreu uma diminuição até o décimo ano do estudo.
A pesquisadora salienta que o peso corporal das participantes não variou durante os 10 anos de acompanhamento e a avaliação da circunferência abdominal mostrou uma tendência a sua diminuição, dado importante segundo a professora Karen, pois essa gordura é considerada perigosa ao coração. Os níveis de colesterol, triglicerídeos e glicemia também não se modificaram ao longo dos anos de estudo. “Assim, podemos afirmar que o uso de terapia hormonal oral em pacientes hipertensas foi seguro em relação a aspectos cardiovasculares”, sintetiza, pontuando que pelo tempo de acompanhamento das mesmas pacientes, o estudo é inédito no Brasil.

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