Luto e Psicologia

Por Tomas Camargo

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“A finalidade de toda a vida é a morte”
(Freud – Além do Princípio do Prazer -1920)

Desde o início da evolução humana, do momento do desenvolvimento da consciência e das habilidades mentais, a morte é sentida e interpretada por diferentes simbologias e significados. Sabemos da impossibilidade da vida eterna e da inevitável finitude, porém ainda não conseguimos nos adaptar a este fenômeno natural das espécies, que acaba causando imensos transtornos psicológicos.
Lidar com a morte é, da mesma forma que lidar com a sexualidade, um fenômeno cultural que varia de população para população, de país para país. A cultura modela o sofrimento ou a aceitação e admiração à morte, porém encontramo-nos inseridos em uma cultura onde a finitude ainda não consegue ser bem compreendida e aceita pelos que continuam vivos. O óbito de um ente querido nos abala intensamente, fazendo com que modificações psicológicas tomem conta do cenário.

Freud em seu texto “Luto e Melancolia” (1917) ressalta que, embora o luto envolva uma série de eventos e sentimentos que seriam considerados anormais para a vida cotidiana, jamais poderemos considerá-lo como uma manifestação psicopatológica, uma doença e, dessa forma, induzir o enlutado a tratamento psicológico. O que se vê atualmente é o luto servir de propulsão para o sujeito vir em busca de tratamento, porém o que é realizado é uma escuta visando a diminuição do sofrimento momentâneo da perda e a manutenção do contato do paciente com a realidade para assim conseguir metabolizar, por sua conta, o luto e voltar ao estado em que se encontrava antes do acontecimento que o levou a buscar ajuda psicológica.

É notável que, tamanho desprazer causado pela morte de alguém que se ama, ou alguém com quem temos relações afetivas ou convívio direto, seja causador de uma dor muito grande a ponto da pessoa não conseguir pensar ou se ver recuperada, porém, quando o processo de luto acaba, toda a energia antes gasta no processo do sofrimento, vê-se livre e o funcionamento normal da pessoa volta a se restabelecer, tornando-a capaz de amar e se interessar novamente pelas coisas do mundo. Nesta fase, finalmente o indivíduo entra no processo de recuperação e de aceitação, cria perspectivas futuras, adapta-se ao rompimento, inicia novas relações, processando um comportamento mais positivo.

Porém, percebe-se que algumas pessoas tendem ao adoecimento psíquico no período de luto; o chamado luto patológico, ou melancolia. Para Freud, a melancolia caracteriza-se como uma patologia clínica que pode se desenvolver nas pessoas enlutadas, o que transforma o percurso natural do sofrimento/recuperação em algo mais sério e clinicamente tratável. A diferenciação entre o luto e o processo patológico se dá pelo fato de, na melancolia, existir uma grande recriminação da pessoa sobre si, ou seja, uma desvalorização muito grande de si própria frente à perda. Essa diferenciação deve ser levada em conta pelo profissional e deve ser percebida pelos familiares e amigos do enlutado, pois mostra que o processo natural do luto teve uma alteração que provocará um desconforto e uma situação clínica muito mais complexa e séria para a superação, exigindo assim, um acompanhamento profissional mais intenso e preciso.

O simples fato de se falar, ou evocar a memória da morte, já nos traz desconforto suficiente para evitarmos, a todo custo, o assunto; porém, devemos acima de tudo, ter consciência de nosso estado de finitude e aproveitarmos os momentos desfrutando das companhias e daquilo que nos faz bem. A busca pela felicidade e a intensa procura do prazer hoje em dia nos apresenta a outros processos psicológicos que podem levar ao adoecimento, mas isso já é assunto para uma outra oportunidade.

Tomas Camargo é psicólogo Clínico
[email protected]

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