Mas afinal, o que tanto se fala na análise?

Por ??lvis Herrmann Bonini

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Por vezes, escuto volta e meia às interrogações de outrem a respeito do tratamento analítico. Cada um tem sua noção própria do que é. Alguns afirmam que é a pior dor do mundo; e quando relatam suas experiências deixam os olhos dos ouvintes arregalados. Outros tem uma abordagem quase didática – pondo o analista em uma posição de todo-poderoso que sabe tudo e que vai ensinar ao paciente como lidar com suas situações dolorosas. E por fim, o incrédulo; esse que pensa e diz: “do que adianta ir lá, pagar sessões se eu tenho quem me escute? ”

Desde o começo da história da área psi essa esteve envolta por uma imprecisão imaginativa pelas pessoas. Cada uma desenvolvendo uma ideia com o que viu ou ouviu falar de pessoas ao redor. Algo como um caldeirão que ferve na imaginação do que se fala tanto e o que se faz na análise (por vezes também misturada com pitadas de descrença, medo e repulsa por quem desconhece mas que acaba usando energia para pensar sobre isso).
Mas então, o que tanto se fala na análise? O que e como pode proporcionar uma análise?

O famoso traço psicanalítico é “se conhecer”. A expressão por si só está correta e até meio despolida, mas conhecer o que afinal além da dor? Quando se procura atendimento psicológico se quer ficar sem dor e não (a princípio) se conhecer. Esta máxima célebre nos diz como o que se passou na história do sujeito e como a vida de hoje (dores, prazeres, situações repetidas, coisas sem entendimento) estão ligadas: passado com presente.
Análise é o lugar onde toda a singularidade e a subjetividade da pessoa pode ser falada, mostrada e vivida. É um tempo e espaço em que há um encontro entre duas pessoas para que uma delas possa entregar suas dores, seus pensamentos, suas angústias e através daquela relação com o analista as coisas se modificarem. Principalmente por ser um espaço em que, com segurança, possa reconstruir e fazer sentir toda a história de cada um, dando um sentido para as coisas que às vezes ficaram um tanto quanto extraviadas.

Mas é principalmente em momentos de crise em que temos a oportunidade ímpar de fazer a mudança. Para termos uma noção correspondente com a situação psíquica: a palavra crise foi usada pelos médicos gregos da Antiguidade para se referir ao momento que ocorre uma decisão, uma diferença e que levaria a um destino da doença. Um momento de dor é assim; é a oportunidade que se tem para conhecer esses sentimentos incompreendidos, dar nome, entender ou abafar tudo isso e sofrer quietamente.

O analista então é aquele que empresta seus ouvidos e seu ego para que juntos, ele e paciente possam viajar na história desse sujeito que busca ajuda para entender melhor e fazer o que antes não foi possível ou que não se tem registro. E cada coisa que se faz presente dentro desse caldeirão do inconsciente tem um espaço para existir no espaço analítico. Assim, aos poucos pode ser entendido o que existe dentro de cada um, qual sentido dar a essas marcas anteriormente sem significado e sem lugar, e reconstruir essa história para a vida ser mais liberta, como um riacho que finalmente consegue seguir seu caminho.

Élvis Herrmann Bonini é psicólogo
[email protected]

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