O Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo é referência no estado para a realização de procedimentos de alta complexidade. Sua estrutura completa aliada a profissionais especializados permitem a realização de técnicas pioneiras, que auxiliam pacientes com os mais diversos problemas. Neste mês de junho, mais uma vez, a instituição se colocou à frente com a realização da primeira cirurgia de auto transplante do Rio Grande do Sul e também, pioneira no país para o tratamento de aneurismas de aorta. O procedimento, que possui somente um estudo publicado em todo o mundo, foi realizado por um grupo de especialistas do Instituto Vascular INVASC, formado pelos médicos, Julio Cesar Bajerski, Rafael Noel, Jaber Saleh, Mateus Correa, Adolfo Lara, Omar Toufic, além do anestesista Renato Gai, urolologista Leandro Kruel e nefrologista Péricles Sarturi, que atuam no corpo clínico do HSVP. O paciente, Júlio Cesar Lampert, 57 anos, morador da cidade de Carazinho, já teve alta do hospital.
A equipe médica explica que o caso de Júlio era bastante complexo. Há três anos, o paciente recebeu o diagnóstico de aneurisma da aorta abdominal que foi tratado com uma endoprótese via endovascular. Porém, cerca de dois anos depois, o quadro evoluiu para uma degeneração da aorta abdominal acima do lugar onde havia sido tratado, das artérias mesentérica superior, tronco celíaco e artérias renais. Essa degeneração ou dilatação formou trombos que levaram o paciente à perda da função do rim esquerdo. “Além disso, com o passar dos dias, o paciente apresentou um quadro de isquemia mesentérica leve, que foi resolvida clinicamente, sem necessidade de cirurgia. Esse quadro nos mostrou que ele estava embolizando esses coágulos para as artérias principais de dentro da barriga. Quando realizamos o exame, verificamos que ele estava com a artéria renal direita toda dilatada, aneurismática e com vários coagulos, tendo assim, a possibilidade de perda do rim direito também”, relatam os médicos.
Diante de um caso complexo, a equipe resolveu estudar uma técnica que fosse possível de ser realizada dentro das condições do paciente. Chegaram então a conclusão que o auto transplante renal seria o ideal. “Nós retiramos o rim direito, que estava saudável, e o implantamos na pelve esquerda, onde havia a artéria boa para receber o rim. O procedimento durou oito horas e foi feito por meio de vídeolaparoscopia, sendo menos invasivo. Após oito dias da primeira intervenção, realizamos o implante de uma endoprótese para tratar o aneurisma que estava nas artérias vicerais e na área degenerada. Porém, ainda tínhamos um problema, duas artérias importantes, o tronco celíaco e a artéria mesentérica superior, não podiam ser sacrificadas. Então implantamos dois stents recobertos, vindos pela artéria subclávia esquerda, que é a artéria do braço, naquelas duas artérias, e as endopróteses abdominal e torácica vindo pela virilha, para corrigir o aneurisma”, detalham os especialistas.
Os dois procedimentos tiveram duração de 11 horas, e foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Caso o procedimento não fosse realizado, os médicos reforçam que o paciente teria grande risco de evoluir para óbito ou perder a função dos rins. “Consideramos que a cirurgia foi um sucesso, e ela só foi possível graças a estrutura de alta complexidade que o HSVP oferece. Agora, o Júlio se recupera clinicamente e logo poderá receber alta. Com a realização desse primeiro procedimento também temos a certeza que se surgirem novos casos, vamos estar prontos mais uma vez para atendê-los”.
A emoção do recomeço
No Posto 10, quarto 216, Júlio e sua esposa, Maria Isabel Lampert, receberam os familiares e comemoraram o sucesso do auto transplante. Emocionado, Júlio relatou o caminho de dor e sofrimento que percorreu até encontrar a equipe que solucionou seu problema. “Há mais ou menos três anos eu passei mal e após os exames fizeram a colocação de três stands. Dois anos se passaram e estava tudo tranquilo. Até que um dia, eu estava cortando a grama em casa e senti uma dor muito forte na barriga, que passou para o braço e a perna, então eu caí no chão. Fui para o pronto socorro, recebi medicação, porém não obtive o diagnóstico da causa da dor. Foi assim durante quase um ano, muita dor, crises que aumentavam e nada de diagnóstico. Os sintomas pioravam a cada dia, vômito, falta de ar, palidez, uma vez cheguei a ficar com 1% de vida. Foi então que vim para Passo Fundo realizar mais exames, e que descobriram que eu tinha uma doença degenerativa nas artérias. O Dr. Júlio então reuniu sua equipe, e outras três e estudaram a melhor solução para o meu problema. Eles me explicaram que seria o primeiro procedimento a ser realizado, mas em nenhum momento fiquei preocupado, pelo contrário, estava tranquilo, confiando na equipe”, destaca Júlio, que em meio a lágrimas, conta que logo nos primeiros dias após o procedimento, quando não sentiu mais as dores que lhe incomodavam, percebeu que havia recebido uma nova vida. “Antes eu não tinha vida. Sentia muita dor e ainda existia a possibilidade de eu morrer. Graças a essa equipe maravilhosa, hoje eu estou bem, meu rim está funcionado, não sinto mais dores. É um recomeço”, conta. A esposa de Júlio, também salienta que a família ficou ansiosa por saber que seria o primeiro procedimento, porém enfatiza que a tranquilidade transmitida pela equipe foi fundamental. Agora, os dois esperam a alta hospitalar, para voltar para casa e continuar a vida, com mais qualidade e alegria.