Síndrome de Burnout: a doença das pessoas extremamente dedicadas ao trabalho

ARTIGO: Por Vanessa Rissi

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Nos últimos vinte anos têm-se observado que o perfil de adoecimento dos trabalhadores mudou. No passado, era comum que o trabalho fosse realizado num contexto em que sobrepunham-se atividades manuais, repetitivas e aceleradas. Neste sentido, o casos de doenças relacionadas ao trabalho se referiam, principalmente, às osteomusculares como a LER/DORT. Atualmente, embora continuem existindo os problemas osteomusculares, eclodiram, significativamente, as doenças relacionadas à saúde psíquica. Exemplo disso, são os números já amplamente divulgados pelo Ministério da Previdência Social que tomam os Transtornos Mentais como a terceira maior causa de auxílio-doença, afastamento e aposentadoria por invalidez, devendo se tornar a maior causa em 2030. No rol destas psicopatologias associadas ao trabalho têm-se a Síndrome de Burnout, como uma das principais causas de afastamento.

Em inglês, burnout significa combustão total. Na área da saúde, a Síndrome de Burnout foi descrita nos anos 70 e é uma doença que costuma acometer pessoas produtivas e extremamente dedicadas ao trabalho. Trata-se de uma síndrome caracterizada por um conjunto de sintomas físicos e psicológicos ligados à sensação de exaustão ou esgotamento profissional das pessoas. Não se deve confundir a sintomatologia com a fadiga, pois neste caso, as pessoas podem ter uma noite de sono, por exemplo, e acordar recompostas no outro dia. Diante da Síndrome de Burnout, por outro lado, a pessoa vivencia uma sensação de esgotamento total, que não pode ser recuperada com alguma atividade relaxante, pois é crônica e prolongada.

A Síndrome de Burnout tem sua etiologia no trabalho (nas formas de gestão), o que confere à ela o status de doença ocupacional. Em geral, ela atinge as pessoas que tiveram uma história de muita motivação, produtividade, eficácia e alto desempenho para o trabalho e que, num determinado momento, passaram a vivenciar uma condição desestabilizadora. Para exemplificar, toma-se uma situação em que as metas começam a ficar cada vez mais impossíveis, sem os meios adequados para realizá-las. Nesta circunstância, o indivíduo sempre muito determinado, perfeccionista e realizador, começa a não dar mais conta. Então, ele passa a vivenciar um desencantamento com seu trabalho, sentindo-se exaurido e inaugurando um comportamento de baixa energia e distanciamento, que até então não era observado. Há, neste momento, uma quebra do padrão de relação até então estabelecida com o trabalho, colegas, pacientes e clientes, marcado por algumas características específicas:

1. Exaustão emocional: o indivíduo sente-se esgotado e com a sensação de que não será possível recuperar sua energia, torna-se irritável, amargo e pessimista, sente-se menos capacitado a cuidar dos outros. Tende a se isolar dos colegas;
2. Despersonalização: há um distanciamento emocional e uma indiferença diante do sofrimento alheio (como o de um paciente ou cliente), com uma perda da capacidade de empatia;
3. Comprometimento da realização profissional: tendência a avaliar negativamente sua capacidade de desenvolver tarefas e de interagir com as pessoas do trabalho e sentimentos de infelicidade e insatisfação com os resultados obtidos.

Além disso, a Síndrome coloca as pessoas diante da dificuldade de manutenção de relações sociais adequadas, impossibilidade de sentir prazer com o trabalho e consequentemente nos demais campos da vida, inclusive o sexual, insônia e incapacidade de lidar com os problemas do dia-dia, como costumava resolver até então. As pesquisas já evidenciaram, também, que o Burnout pode desencadear doenças autoimunes, pode piorar doenças pré-existentes, é um fator de risco para doenças cardiovasculares, aumenta o envolvimento com o uso de álcool e outras substâncias podendo levar a dependência e ao aumenta o risco de quadros ansiosos, depressivos e comportamento suicida.

Para o enfrentamento eficaz da psicopatologia, a literatura recomenda atendimento psicológico e medicamentoso, associado a um estilo de vida saudável, que inclui alimentação, exercícios físicos, atividades de relaxamento e hobbies. Do ponto de vista organizacional, é importante que as empresas criem mecanismos de valorização das carreiras profissionais, evitem a sobrecarga e ofereçam espaço para que as pessoas manifestem suas opiniões e exerçam sua autonomia.

Vanessa Rissi é Psicóloga e Professora da Escola de Psicologia IMED, Mestre em Saúde Coletiva e Doutoranda em Psicologia

 

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