Cada vez é mais frequente as pessoas realizaram uma ecografia (ultrassom) abdominal e receberem o resultado indicando “esteatose”. Esteatose nada mais é do que um acumulo anormal de gordura no fígado . No passado, este achado não era considerado importante. Com o passar dos anos, no entanto, inúmeros estudos médicos conseguiram correlacionar a esteatose com casos de cirrose sem causa identificada. Atualmente, está comprovado que a esteatose é uma das principais causas de cirrose e tumor de fígado, ao lado das hepatites virais.
Estudos epidemiológicos te?,m revelado que a esteatose é um grave problema de saúde pública, acometendo 20-40% dos indivíduos testados na depende?,ncia da prevale?,ncia da obesidade na populaça??o estudada. Um estudo mais recente, realizado nos Estados Unidos, com 328 pacientes assintomáticos, relatou que 46% dos indivíduos tinham esteatose, 26% eram diabéticos, 68% hipertensos e 70% obesos. No Brasil, estudos utilizando a ultrassonografia como método diagnóstico, encontraram em torno de 20% de esteatose hepática na populaça??o geral. Quando pacientes diabéticos sa??o avaliados pelo ultrassom em relaça??o a?EUR presença de esteatose, 70% sa??o portadores da doença.
As duas principais causas de esteatose são a ingesta alcóolica e o sobrepeso / obesidade, que , por sua vez, é ocasionada por alimentação inadequada (quantidade e qualidade dos alimentos), sedentarismo e fatores genéticos. Quando a pessoa apresenta esteatose sem história de uso frequente de bebidas alcóolicas, se diz que possui uma doença chamada “esteatose não-alcoólica”, que será o tema abordado aqui.
A obesidade e o sedentarismo (inatividade física) são os principais fatores associados à esteatose não-alcóolica. Existem pesssoas não obesas e não sedentárias com esteatose. Neste caso, a esteatose pode estar relacionada ao colesterol e/ou triglicerídeos elevados, à inatividade física, a diabetes, ou ao uso de medicamentos (como corticóides, hormônios femininos, tamoxifeno para câncer de mama).
De todos os pacientes com esteatose, aproximadamente 30% irão ter inflamação hepática relacionada à gordura, numa condição denominada esteatoepatite. As pessoas que apresentam esteatose devem consultar um especialista para identificar se possuem esteatose isolada ou se já possuem esteatoepatite. Neste último caso, o cuidado deve ser intensificado, pois pacientes com esteatoepatite estão sob risco de desenvolver cirrose e câncer de fígado. A diferenciação entre esteatose simples e esteatoepatite se dá através de exames laboratoriais (exames de sangue), biópsia hepática ou através de exames mais especializados, como elastografia hepática.
A base do tratamento da esteatose / esteatoepatite é a modificação de hábitos de vida: dieta e prática regular de exercícios físicos. Seria mais fácil se tivéssemos um medicamento que retirasse ” a gordura do fígado”, mas este remédio não existe. Mudar estilo de vida é sempre difícil- e as pessoas devem encarar como uma mudança permanente no estilo de vida e não pensarem: “vou fazer dieta, perder peso e exercícios agora para melhorar e depois posso retornar aos meus antigos hábitos”. O recomendado é que procurem uma nutricionista para orientação de dieta saudável adequada ao seu porte físico e idade, e que pratiquem exercícios físicos aeróbicos, como caminhadas, natação, corrida, ciclismo (por 30 minutos, 5x/semana).
Raquel Scherer de Fraga, Gastro-hepatologista, Coordenadora da Escola de Medicina da IMED