Humor depressivo ou perda do interesse ou prazer por pelo menos duas semanas, na maior parte do dia, quase todos os dias; aumento ou diminuição do apetite (sem estar de dieta); dificuldade no sono (insônia ou necessidade de muito sono); queixas de cansaço e perda de energia; sentimentos de culpa, impotência e inferioridade; dificuldade de concentração, de recordar e de tomar algumas decisões; agitação ou lentidão motora; diminuição da libido (interesse sexual) e pensamentos e tentativas de morte/ suicídio.
Essa lista enorme de comportamentos são características dos sintomas de quem está sofrendo com a depressão. A doença é vista como um problema de saúde pública, onde apenas no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, já afeta 7,6% da população adulta, ou seja, mais de 11 milhões de pessoas. No mundo, a Organização Mundial da Saúde estima que já sejam mais de 350 milhões de pessoas afetadas por esse transtorno mental.
“Primeiramente, é importante diferenciarmos depressão de tristeza. A tristeza é um sentimento que todos nós podemos sentir, mas é passageiro e não está associada a uma patologia. Quando a tristeza passa a ser prolongada, acompanhada muitas vezes de choro e começa a interferir significativamente na forma como o indivíduo vive e se relaciona com os demais, estamos diante de um quadro depressivo. A depressão não pode ser julgada como falta de caráter, preguiça, falta de força de vontade de se ajudar ou como um estigma de loucura. Como os sintomas não aparecem na parte física com a mesma clareza de um pé fraturado, às vezes não é fácil entender. Pressionar uma melhora sem tratamento correto para um paciente depressivo é como pedir para alguém com uma fratura no pé conseguir correr”, explica a professora da Escola de Psicologia da IMED e Especialista em Psicologia Clínica, Cristina Pilla Della Méa.
A doença acomete mais as mulheres (10,9%) do que os homens (3,9%). A maior incidência está na faixa etária de 60 a 64 anos, com 11,1% e menor entre 18 e 29 anos de idade, com 3,9%, conforme pesquisas do IBGE. Dos adultos diagnosticados com depressão, 52% usam medicamentos e 16,4 fazem psicoterapia.
Mas quais são as causas da depressão? Cristina esclarece: “Estudos já comprovam que há um viés genético justificando essa patologia. Quem tem histórico de depressão na família, deve ficar atento aos sintomas. Além disso, algumas substâncias que se encontram no cérebro (neurotransmissores) estão em desequilíbrio. Para isso, recomenda-se a farmacoterapia (uso de medicação). Também, situações emocionais estressantes como um divórcio, perda de um emprego, perda de um ente querido, problemas financeiros, doenças crônicas, uso de álcool e/ou outras substâncias psicoativas podem desencadear a patologia”, comenta.
Por acometer cada vez mais um número maior de pessoas atualmente, a doença é caracterizada por trazer muitos malefícios e prejudicar a vida dos indivíduos que são diagnosticados com depressão. Há prejuízos tanto na vida a vida social e afetiva, quanto na vida laboral do sujeito, onde a qualidade de vida fica totalmente comprometida. Além disso, o paciente com depressão tem a sensação de que a vida “não tem graça”, tudo parece mais difícil, perdendo o “colorido” e dando a impressão de que a vida se tornou algo cinza e nebulosa. A doença afeta a maneira das pessoas pensarem, sentirem e se comportarem, o que influencia diretamente nas suas tomadas de decisões e escolhas.
Esse distúrbio mental vem afetando consequentemente também um número crescente de crianças. Por não conseguir explicar o que está sentindo, muitas vezes a criança com depressão passa desapercebida perante a família. É importante dar atenção à linguagem não-verbal que ela apresenta (expressão do rosto e do corpo), desenhos e mudanças bruscas de comportamento, como destaca a psicóloga: “Queixas de dificuldade de atenção, problemas de aprendizagem, tristeza, medos, autoestima baixa, somatizações (dores de cabeça ou de barriga), dificuldades para dormir e comportamento agressivo podem estar ligados a questões depressivas. Também, destaco que a criança precisa de um ambiente familiar saudável, onde se sinta amada, protegida e acolhida. Quando algo não vai bem no contexto familiar, como por exemplo, separação do casal, violência, dependência química, negligência, a criança pode apresentar sintomas depressivos. Crianças com excesso de atividades e muito cobradas também podem manifestar a patologia”, ressalta.
E quais são as formas de prevenir e combater a depressão? Cristina finaliza destacando que a prevenção é a mesma para doenças físicas, mantendo sempre um cuidado e dando atenção à saúde mental: “Uma das formas é manter uma rotina de sono e um horário para acordar; uma alimentação saudável; realizar uma atividade física; ter momentos de lazer; diminuir o excesso de informações; não fumar e não beber; dividir o sofrimento com os demais, ou seja, falar daquilo que está incomodando. No momento em que está sentindo-se deprimido, é importante não tomar nenhuma decisão importante, pois um indivíduo fragilizado pode não escolher a melhor alternativa. Também, não se cobre tanto, não coloque objetivos difíceis e de longo prazo. Muitas vezes, essas questões comportamentais não são fáceis de modificar. Assim, a ajuda de um psicólogo para auxiliar é bem vinda”, completa.
A Organização Mundial da Saúde estima que, até o ano de 2020, a depressão será a principal causa de incapacidade mental no mundo e a segunda causa de incapacidade para a saúde.