Rastreamento é o exame periódico de uma população para detectar uma doença clinicamente não reconhecida. Para ser passível de rastreamento, tal doença deve preencher alguns requisitos, como prevalência, que é o fato de existirem muito casos, mortalidade elevada e fase pré-clinica suficientemente longa na qual ela possa ser detectável.
O rastreamento do câncer de mama pode ser feito pelo autoexame, que apesar de ter um custo baixo, requer treinamento e é muito pouco utilizado pelas mulheres; pelo exame clínico que tem custo baixo a moderado, mas nem sempre é acessível e requer treinamento do médico examinador; e pelos métodos de imagem onde se inclui a mamografia, a qual apresenta elevada sensibilidade, mas não se encontra disponível a todas as mulheres, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil. De todos os métodos de imagem (mamografia, ecografia e ressonância magnética), a mamografia é o único explicitamente aprovado pelo FDA (US Food and Drug Admministration) para o rastreamento do câncer de mama.
Esse rastreamento é realizado somente em mulheres assintomáticas, em intervalos regulares e tem como objetivo reduzir a mortalidade pelo câncer de mama, através de sua detecção precoce. Como este câncer é uma doença progressiva, tumores pequenos, especialmente aqueles não palpáveis quando realizado o diagnóstico, tem prognóstico melhor e chance de cura acima de 95%.
O exame de mamografia deve ser realizado a partir dos 40 anos, nas mulheres sem histórico familiar de câncer de mama. Em pacientes com histórico familiar positivo de parentes de primeiro grau com câncer de mama, antes da menopausa, deve-se iniciar a realização do exame aos 35 anos ou cerca de 10 anos antes da idade com que a familiar apresentou a doença. Em exames considerados negativos (normais) ou com achados benignos deve ser realizada a mamografia periodicamente uma vez ao ano. Caso haja necessidade de ser realizado algum tipo de controle, deverá ser feita a cada seis meses, porém essa necessidade deverá ser constada no laudo do exame, pelo médico radiologista.
Estudos europeus e americanos apontam que com a mamografia realizada com estes intervalos regulares, houve queda entre 25-44% na mortalidade do câncer, sendo dessa forma o rastreamento mamográfico apontado como uma das grandes realizações médicas do século passado.No entanto, para que o rastreamento mamográfico se torne definitivamente uma realidade, e possa efetivamente reduzir a mortalidade pelo câncer de mama, as mulheres precisam ser informadas sobre os benefícios da detecção, aliados ao tratamento precoce da doença, obtendo-se um maior números de vidas salvas e de cirurgias menos agressivas. Conjuntamente a isso, os profissionais da área da saúde precisam conscientizar as pacientes de que a detecção precoce é a maneira mais eficaz de controlar o câncer de mama, salientando os benefícios dos exames e a sua realização em intervalos regulares a partir dos 40 anos. Além disso, programas amplos de conscientização sobre o rastreamento, possibilitando a detecção e o manejo precoce das mulheres com essas lesões, resultam em tratamento cosmético mais satisfatório e menos agressivo, com menor exposição e necessidade de tratamentos complementares, reduzindo morbidade, mortalidade, e também reduzindo os custos para as mulheres e para o país.
Daniele C.V. Floss e Paulo Marcelo Floss são Médicos radiologistas do Centro de Imagem da Mama – CIM do Hospital São Vicente de Paulo / Passo Fundo -RS