Cães, gatos, pássaros, porquinhos da Índia e outros animais domésticos como cavalos podem promover benefícios aos seus proprietários. Além de serem agradáveis companhias aos seres humanos, ter um bichinho por perto pode significar um grande benefício à saúde psicológica e física das pessoas, além de muitos contribuírem com um efeito calmante sobre seus donos
Há alguns anos estão sendo desenvolvidos diversos estudos para tentar compreender como os animais contribuem no processo de tratamento, recuperação e cura de pessoas com depressão, ou que tenham algum outro tipo de doença, e porque ter um deles por perto pode aumentar significativamente a resposta e resultados após intervenções médicas.
A professora da Escola de Psicologia da Imed, Camila Rosa de Oliveira, que é especialista em terapias cognitivo-comportamentais, destaca que geralmente a adoção dos animais de estimação por pessoas que vivem sozinhas pode estar associada à busca por companhia. Ela explica de que maneira ter animais de estimação podem auxiliar no combate e cura da depressão: “o uso de animais no tratamento da depressão pode trazer vários benefícios. No momento em que se é introduzido um animal de estimação, o paciente com quadro depressivo deverá cuidá-lo, alimentá-lo e brincar com ele. Essa interação com o animal estimula um relacionamento envolto em carinho, tanto por parte do paciente quanto pelo animal, proporcionando sentimentos de bem-estar e redução de ansiedade. Alguns dos sintomas do quadro depressivo incluem a baixa motivação e o afastamento do contato social. Porém, o paciente será estimulado a sair de casa para passear com o animal de estimação, podendo interagir com outras pessoas e também animais. É difícil afirmar que apenas o uso de animais de estimação poderá contribuir para uma “cura” da depressão, porém o uso de animais poderá auxiliar no processo de tratamento, o qual é composto por uma série de outras intervenções, como farmacológicas e psicoterápicas. Os animais de estimação seriam uma das estratégias de tratamento utilizadas”, comenta.
Amizade animal
Porém, não é apenas nesses casos que os animais se tornam peças fundamentais no enfrentamento de doenças. A professora Sabrina Francio Estrasulas Jardim tem 36 anos, e aos 31 foi diagnosticada com câncer de mama. Durante o tratamento, ela ganhou seu primeiro amigo cachorro: o Ringo. Ele chegou até a professora universitária depois de uma amiga não ter se adaptado bem ao estilo de vida do cão, e foi adotado como alternativa para auxiliar durante o tratamento com as quimioterapias. Após quase dois anos de luta, Sabrina foi informada de que sua doença tinha evoluído para uma metástase óssea e que teria que se afastar das salas de aula para cuidar de sua saúde.
Entre todas as consultas médicas e sessões de terapia intensiva que foi e é submetida até hoje, foi a vez do Elvis entrar para a família. “Eu passava todos os dias na frente de um petshop que ficava no primeiro andar do prédio onde eu morava e brincava com ele. Depois de ter encontrado até um nome para ele, não teve jeito: meu marido (Cristiano) me deu o Elvis de presente, que veio para completar a família”, comenta. Sabrina, que teve contato com animais desde cedo na casa de seus pais, ressalta que ter um bicho de estimação se torna essencial durante os processos de recuperação e tratamento: “Sempre digo que o Ringo e o Elvis se tornaram parte da família. Posso afirmar com 100% de certeza de que se não fossem eles, eu não teria superado, dia após dia, todas as dificuldades que foram aparecendo. Até me motivaram a sair da cama quando estava com dor, a passear e me exercitar com eles. Qualquer animal de estimação, mas em especial os cães, estão sempre disponíveis. É claro que cuidar de um animal requer paciência, dá trabalho, mas eles trazem vida nova ao ambiente. Você pode estar triste, cansado ou tendo um dia ruim, que eles sentem tudo o que os donos estão sentindo, e sempre lhe acolherão e lhe darão todo o amor que necessita, sem esperar nada em troca”, frisa.
Recuperação acelerada
A psicóloga Camila comenta que os benefícios de se ter um animal de estimação podem acarretar no aceleramento do processo de cura e recuperação de pessoas que tenham sido acometidas por alguma patologia. “ Há evidências do benefício no uso de atividades assistidas por animais (AAA) e terapias assistidas por animais (TAA) em quadros de ansiedade decorrentes de tratamentos oncológicos, estimulação de interações sociais em autistas, e também como ferramenta de estimulação de habilidades cognitivas, como memória e atenção, em idosos com Doença de Alzheimer, por exemplo”, comenta.
Pessoas que tem um animal de estimação possuem um menor risco de desenvolver problemas cardíacos do que aqueles que não têm, segundo pesquisa desenvolvida na Austrália. O estudo apontou ainda que os donos de animais têm a pressão arterial e os níveis de colesterol mais baixos, independentemente de fatores como dieta, índice de massa corporal, tabagismo ou nível de renda. Outros estudos também têm mostrado que os cães podem farejar doenças, incluindo certos tipos de câncer e problemas de saúde associados com a diabetes. Em 2008, pesquisadores descobriram que 65% dos diabéticos disseram que seus cães tinham uma reação comportamental, tais como latir e choramingar, quando experimentaram quedas perigosas de açúcar no sangue.
Apenas acariciar um animal já pode ajudar pessoas lutando contra uma doença ou sofrendo de depressão. Médicos franceses detectaram que idosos e pessoas que tinham se submetido recentemente a uma cirurgia responderam melhor ao tratamento e tiveram taxas de recuperação mais rápidas quando tiveram contato com cães e outros animais. Outra pesquisa desenvolvida na França mostrou que adultos solteiros e mulheres eram menos propensos a sofrer de depressão quando possuíam um cão. O estudo também descobriu que os cães não contribuíam de forma alguma para a depressão de seus donos, o que significa que não há lado emocional negativo em possuir um cachorrinho.
Porém, ainda há um grande déficit em relação a estudos no Brasil que comprovem essas melhorias e apontem cientificamente a contribuição efetiva dos animais nesse processo pós-doença. “Existem pesquisas, mas ainda são incipientes. Um exemplo de pesquisa com delineamento mais robusto é o de Calcaterra e colaboradores (2015) que investigou os benefícios da TAA na recuperação pós-operatória de crianças. Na pesquisa, 40 crianças foram distribuídas aleatoriamente em um grupo experimental (o qual recebeu 20 minutos de sessões de TAA com um cachorro) e um grupo controle, que não recebeu sessões de TAA. Os resultados sugeriram que as crianças que receberam a TAA apresentaram uma recuperação pós-operatória mais rápida do que as crianças no grupo controle, além da percepção de dor também ter sido reduzida. A AAA e a TAA apresentam grande potencial como tratamento complementar em diversas doenças, porém são necessárias pesquisas com maior rigor metodológico”, finaliza Camila.
Apesar de não sabermos ao certo qual a real contribuição dos animais de estimação no processo de cura de doentes, eles têm auxiliado, e muito, durante tratamento e recuperação. Não há lado negativo em se ter um bicho por perto: são dóceis, carinhosos, sabem filtrar a energia do ambiente e das pessoas, e acima de tudo, proporcionam muitos momentos de alegria e amor incondicional.