Historicamente a psicologia centrou-se em entender e atender as dores da alma. Esta sem dúvida foi a mola propulsora para o crescimento desta ciência que hoje vemos presente em distintos cenários.
Atualmente ela se tornou aliada das ciências sociais, das ciências jurídicas, das questões educacionais e uma infinidade de áreas da saúde. No momento proponho um breve percorrer da psicologia, enquanto aliada da medicina, mais especialmente na oncologia. Sabe-se que não é tarefa fácil para o médico oncologista informar um diagnóstico de câncer, essencialmente pela falta, na maioria das vezes, de familiaridade com esta doença ou pela surpresa ruim. Por conta disso, o tratamento pode ter início tumultuado, pelas angústias e incertezas que permeiam o pensamento do paciente.
Este, nesta hora, sequer consegue registrar as informações médicas, por não conseguir fazer parar de ecoar em sua mente a palavra câncer e começa a "assistir" a todo um cenário que é aquele, do senso comum, onde tudo de ruim ou pior estará por vir. É compreensível que para trazer este paciente ao cenário adequado o médico necessite auxílio, sendo então o momento de uma equipe multiprofissional se somar ao tratamento, alicerçando os pilares que sustentarão este momento.
Cabe ao psicólogo nessa hora, trabalhar com o paciente para que as "dores físicas e da alma" sejam amenizadas para uma melhor condução de todos os aspectos terapêuticos necessários.
O paciente pode nesse momento ter uma conduta de esquiva frente a necessidade de realizar tratamento, pode se revoltar com sua situação, pode apresentar inúmeras dúvidas, inclusive se o diagnóstico está correto e, pode também, apresentar um quadro de alteração emocional que trará mais dificuldade para esse momento.
Dentre as possibilidades que o psicólogo pode ofertar ao paciente, está o auxílio da assimilação ao quadro, que não é aceitar a doença, mas entender o ocorrido, rever questões pontuais do momento de vida, que podem agudizar nesta hora, propor, auxiliar e subsidiar o efetivo suporte familiar, ser um facilitador na relação equipe, paciente e família e trabalhar questões comportamentais advindas.
Ainda pode, em situações específicas, onde já não se trabalha com a possibilidade de cura da doença, auxiliar o paciente no enfrentamento para um pensamento (questionamento) recorrente sobre terminalidade, ou seja, sobre a idéia remota para todos, mas essencialmente presente, de finitude humana. Ressalto aqui que não exclusivamente o paciente oncológico é único em pensar nesta condição, ela é parte do nosso ciclo vital, inevitavelmente deve fazer parte de nosso pensamento, com a finalidade de adequar a vida, para esta condição certeira, mas que desconhecemos o seu
tempo. Nesse momento é importante trazer para o paciente, a tranquilidade e serenidade para conduzir esta etapa da vida. Por fim é um trabalho árduo, com pedras no caminho, para todos os envolvidos, equipe de saúde, paciente e familiares; o destino não sabemos, só o fim da jornada nos dirá.