Mulheres de força

Mais do que um esporte, o fisiculturismo se tornou um estilo de vida e ganha mais adeptos a cada dia

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Elas trabalham, estudam, treinam horas por dia, cuidam da alimentação e fazem tudo isso com um belo sorriso estampada no rosto. Quem vê as atletas de fisiculturismo andando na rua, nem imagina que por trás dos ombros marcados e do abdômem definido existe uma rotina rígida, que não permite deslises, mas que é feita com a maior satisfação do mundo por quem pratica o esporte. O fisiculturismo é uma pratica que visa o desenvolvimento dos músculos corporais a partir do hipertrofismo, ou seja, o aumento no volume da massa muscular e vem ganhando cada dia mais adpetos. Só aqui em Passo Fundo já são 13 atletas em preparação. Entre elas, está Carolina de Almeida. Com 35 anos e no alto dos seus 1,73m de altura, Carolina é a atual campeã gaúha e brasileira na catergoria BodyFitness. Recentemente representou o Brasil no Campeonato Sul-americano e garantiu o segundo lugar. Tudo isso em apenas um ano.

Carolina é farmacêutica e conta que sempre foi uma esportista: jogava vôlei, pedalava, corria, sempre foi muito ativa, mas como qualquer mulher, ainda não estava satisfeita com o próprio corpo. “Eu era mais gordinha, do tipo que malhava para poder comer depois, então eu ia na academia, fazia um monte de exercícios, chegava em casa e comia tudo errado e eu não via muito resultado nessa história, eu continuava gordinha, com culote, com barriga”, conta. Dona de uma loja de suplementos esportivos, buscou em uma especialização em nutrição esportiva o aprofundamento que faltava. Foi através de uma palestra que promoveu na cidade com o preparador de atletas Everton Bottega que veio o primeiro convite para competir. “Ele me olhou e disse 'porque tu não compete? Eu acho que tu tem potencial'',lembra. O convite não foi aceito logo de cara, mas com a ajuda de Everton, Carolina mudou um pouco a rotina e passou a prestar mais atenção na alimentação. “Consultando com ele, eu comecei a entender a importância da alimentação adequada, de acordo com o exercício e com o meu objetivo”, comenta. A primeira meta estabelecida é conhecida por quase toda mulher: usar biquini e se sentir bem com aquilo. Mas logo no primeiro ano de treino, Carolina teve uma evolução muito grande, o suficiente para investir em um segundo ano de treinos e preparação para as competições. E o esforço todo deu o resultado esperado.

Carolina está na categoria BodyFitness. Nessa categoria precisa estar com um percentual de gordura bem baixo e o corpo deve ter o formato de um Y, ou seja, a atleta não pode ter muita perna, nem glúteo, mas em compensação tronco, ombros, costas e abdômem têm que ser bem definidos. Em função disso, toda a programação de treino e a alimentação da atleta é focando nesses objetivos. De acordo com ela, a rotina de todo o atleta fisiculturista é divida no que eles chamam de dois grandes macrociclos. Até a semana passada, Carolina estava no primeiro, que são oito semanas que antecedem as competições. Nesse período, a dieta é mais restritiva, feita basicamente com legumes e proteínas, quase nada de carboidratos. Os treinos aconteces em dois turnos, um de musculação e outro de cardio, que é uma corrida leve ou uma caminhada. Todos os dias. “É bem cansativo para a atleta, a gente se sente fraca, o treino de musculação não pode ser muito pesado porque a gente está com baixo carboidrato, mas tudo dentro de uma organização para a gente não adoecer, tem que primeiramente se preocupar com a saúde”, destaca a atleta. Em função disso, Carolina conta com o acompanhamento de três profissionais: um médico, um nutricionista e um treinador que trabalham em conjunto. A segunda fase é chamada de off-season, que é quando o atleta está fora de competição. Aí a dieta se torna mais calórica, mas mesmo assim muito regrada.

Estilo de vida

Para Carolina, o fisiculturismo não é um esporte e sim um estilo de vida. “Eu tenho esse estilo de vida comigo e você não vai ver eu reclamando que eu não posso comer besteira, porque é algo que eu escolhi para mim, eu gosto de me alimentar de uma maneira saudável, eu gosto de ir na academia, não é um problema”, comenta. Apesar de o número de atletas estar aumentando, Carolina ainda vê muito preconceito com o esporte. “As pessoas que olham de fora acham que a gente só faz isso pensando na estética, as pessoas não entendem e não compreendem porque não observam a rotina de um atleta. Eles acham que a gente é bombadaporque usa anabolizante. Ninguém para para viver a vida de um atleta, de acordar cedo, de preparar as refeições, de ir em uma festa e não comer, levar sua marmita, a rotina de treino, isso as pessoas não enxergam. Anabolizante existe nesse mundo? Existe, mas usa quem quer”, destaca. Mesmo assim, ela garante que lida muito bem com isso e acredita que o preconceito é também uma pontinha de inveja. “Você ver aquele corpo, almejar ele e não ter aquela determinação que o atleta fisiculturista tem. É mais fácil dizer que eu tenho esse corpo porque eu tenho alguma coisa do que elogiar meu esforço”, lembra. Hoje ela garante que vive em um meio em que as pessoas já compreendem e aceitam muito bem tanto sua escolha, quanto sua rotina: “ hoje eu não passo mais por esse problema da negação das pessoas, ao contrário todos me incentivam muito”.

Incentivo que vem, inclusive do marido que Carolina garante não ter ciúmes do mulherão que tem ao seu lado. “Meu marido é cardiologista e vive esse mundo comigo, ele também segue dieta, se cuida, treina e ele não tem muito ciúmes porque acho que ele acostumou, claro que ele fica um pouco intimidado quando a gente está na rua, porque, querendo ou não chama atenção”, brinca.

O futuro no esporte

As pequenas mudanças que foram acontecendo no corpo de Carolina graças, principalmente, à alimentação adequada despertaram na atleta uma paixão pela nutrição. Por enquanto, ela resolveu dar uma pausa nas competições, mas os planos para o ano que vem incluem cursar Nutrição e encarar mais um vez os campeonatos gaúcho e brasileiro, além, do Arnold Classic, depois ela brinca de que vai se aposentar, afinal, garante que já está extremamente feliz com o corpo que tem. “Esse era o meu sonho, muitas pessoas dizem que eu sou muito forte, mas eu sempre quis ser forte, sempre quis tem ombro marcado, abdômem marcado e hoje eu olho no espelho e vejo que eu consegui o corpo que eu sempre sonhei. Hoje eu posso colocar um biquini e ficar bem com aquilo. Isso não tem preço, a gente se sente muito bem. Hoje eu estou 100% satisfeita com o meu corpo”, conta.

Caras novas

Quem está dando os primeiros passo no esporte é estudante de 22 anos, Gabriele Spielmann. Assim como Carolina, Gabriele também tinha o esporte como um hobby e já treinava a três anos quando foi motivada pelo treinador e pelos amigos a competir. “Meu treinador me passou o treino e quando eu vi eu estava no palco”, lembra. A primeira competição aconteceu entre os dias 12 e 13 de setembro, em Novo Hamburgo, onde Gabriele conqusitou o quarto lugar na categoria Welness até 1,58m – o primeiro lugar ficou com outra passo-fundense, Nadirene Avila, de 40 anos. Apesar da rotina puxada de treino e dos cuidados com a alimentação Gabriele também vê no fisiculturismo um estilo de vida e vê a procura pelo esporte aumentar. “Agente tem que tomar um estilo de vida até porque é todo regrado, tem todo um por trás, não é só vir na academia ou só fazer dieta, a gente tem que ser atleta 24 horas por dia, tudo que a gente faz tem que ser muito bem pensado, porque um erro pode comprometer o campeonato”, comenta.

Apesar de, no início, ter enfrentado a negação da família, Gabriele conta que hoje conta com o apoio de todos e que a sensação de estar no palco, sabendo que a família e os amigos apoiam é insuperável. “Meu pai foi assistir à competição, ficou muito orgulhoso, para mim a presença dele já valeu o primeiro lugar”, destaca. Hoje, ela garante que está muito feliz com o próprio corpo e apesar de ter dado uma pausa nos treinos após o campeonato, logo deve voltar a ativa e em dezembro irá encarar outra competição.

Alimentação é fundamental

Para quem quer encarar o esporte, a primeira dica das atletas é procurar profissionais capacitados para ajudar. “Acho que Passo Fundo tem a disposição academias ótimas, com bons profissionais, acho que a gente está deixando para trás a questão do amadorismo”, comenta Carolina. De acordo com ela, o primeiro passo é organizar uma rotina e levar a sério, já que sem rotina as chances de desistir são muito grandes. O segundo passo é levar a alimentação a sério. “80% do seu resultado vem da sua alimentação, ou seja, comer a cada 3 horas, não pular refeições, priorizar a qualidade e não a quantidade, dormir bem, o sono é extremamente importante, ingerir muita água, evitar álcool”, ensina a atleta. “É um esporte muito bom, é difícil e teve dias que eu queria desistir, mas valeu a pena cada segundo de esforço quando eu estava em cima do palco”, encerra Gabriele. 

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