No Brasil, anualmente são registrados 1 milhão de casos de pacientes com queimaduras. A maioria destes são em ambiente doméstico, sendo que as queimaduras estão entre as principais causas externas de mortalidade. No 2º Simpósio de Prevenção e Tratamento de Lesões Cutâneas promovido pelo Grupo de Pele do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, o cuidado ao paciente queimado e as novas tecnologias foram temas abordados, com o objetivo de melhorar e atualizar a assistência aos pacientes. Na ocasião, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras da Regional Sul e cirurgião plástico do Hospital Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, Dr. Pablo Fagundes Pase, falou sobre esse assuntos e relatou um pouco de sua experiência para os profissionais participantes.
Segundo Pase, o tratamento de queimaduras evoluiu bastante nos últimos anos, principalmente na criação de novas alternativas de cobertura, curativos, já que a indústria especificamente tem prestado muita atenção nesse meio. “Tratar um paciente queimado é bastante oneroso, e em função disso, o tratamento agudo está principalmente situado em instituições públicas”. Desta forma, o cirurgião pontuou que a indústria vem desenvolvendo produtos para tornar a relação custo-benefício mais tangível e até alcançável do ponto de vista de outros serviços, que não seja somente o serviço público. Ainda, conforme Pase, além da questão custo-benefício os tratamentos melhoraram em termos de tecnologia. “Cada vez mais pensa-se no conforto do paciente. A queimadura é uma lesão que não causa só uma dor física, ela causa também uma dor psicológica muito grande. Geralmente são lesões ligadas a uma condição social e ambiental não desejáveis, visto que muitas vezes está por trás da lesão uma questão de violência ou até mesmo de negligência”, relata o cirurgião, ao salientar que com os avanços tecnológicos tenta-se ao menos apagar essa dor e proporcionar uma qualidade de vida maior a este paciente.
O tratamento de uma queimadura envolve não somente a tecnologia ou a estrutura física de qualidade, mais sim também, uma equipe multiprofissional preparada para o atendimento. “É fundamental uma equipe multiprofissional no cuidado dos pacientes queimados. Para o tratamento da queimadura ser efetivo, ou seja, o restabelecimento dessa pessoa na sociedade, sendo capaz de interagir, a ressocialização desse indivíduo também no mercado de trabalho e mantendo-o como ser produtivo, é necessária a atuação desta equipe”, relata o especialista, evidenciando que o tratamento vai além do cuidado com a lesão na pele.
Boate Kiss e o tratamento de queimaduras
O incêndio ocorrido em 27 de janeiro de 2013, na Boate Kiss, em Santa Maria, que vitimou 242 e feriu inúmeras outras pessoas, além de chocar a comunidade pela tragédia que foi, também chamou a atenção da sociedade no que diz respeito à prevenção, cuidado e tratamento de queimados. Conforme Pase, ainda sente-se os efeitos negativos dessa tragédia de proporções mundiais, mas que porém, já pode-se observar mudanças em leis e em protocolos de cuidados. “Ninguém gostaria que a tragédia tivesse acontecido, mas a evolução e melhora no tratamento, abertura de novos leitos, novos centros de tratamentos de queimados, entre outras mudanças positivas do acidente, seria uma forma de, com muito respeito, lembrarmos daquelas pessoas que deram suas vidas, e espero que essas vidas não sejam dadas em vão, que sirvam para que as pessoas criem essa conscientização de que prevenir é sempre a melhor solução”, destaca .
O especialista ainda comenta que precisamos melhorar muito em educação e conscientização de prevenção de acidentes e incêndios. “Temos a peculiaridade de clima polar, onde usa-se muito fogão a lenha, aquecedores, churrasqueiras, e muitas vezes estes produtos são manuseados erroneamente, utilizando-se de combustíveis para fazer a ignição do fogo, o que pode levar a causa de grandes acidentes”. O palestrante enfatiza que em 90% dos casos as queimaduras podem ser evitadas, e portanto devemos trabalhar a prevenção. “Quando ela falhar ou que não seja possível evitar, que haja um foco maior de políticas públicas, no intuito de permitir a maior oferta de leitos e serviços para esse pacientes, e também acesso à terapias de suporte que vão garantir essa qualidade após queimadura”.
Troca de experiências e promoção do conhecimento
O membro da Sociedade Brasileira de Queimaduras pontuou ainda a importância do evento promovido pelo Hospital São Vicente de Paulo. Segundo Pase, muitas vezes é difícil a troca de informações entre grandes centros e hospitais menores, e através do simpósio foi possível fazer essa comunicação, trocar experiências e aprendizados. “A tecnologia hoje está mais acessível à todos, e muitas vezes o que falta é o conhecimento por parte dos profissionais. Nesses eventos temos a oportunidade de trocar experiências, de compartilhar conhecimentos e, principalmente, de aprender. As vezes uma dificuldade que se enfrenta no interior, nós também enfrentamos, e aqui as soluções podem aparecer mais precocemente”, avalia o cirurgião, evidenciando que deveriam ser estimulados mais eventos como o Simpósio de Pele.
Queimaduras: prevenção ainda é o melhor remédio
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