Este final de semana é dedicado a lembrar e homenagear as pessoas que já deixaram este plano. Para muitos, o momento é tranquilo e recheado de doces lembranças de quem já se foi. Mas outros tantos, especialmente quando as perdas são mais recentes, se entristecem, se deprimem e passar pelo Dia de Finados chega a ser um tormento.
A dor de perder alguém é diferente para cada pessoa. Muitos fatores influenciam isso: a ligação com a pessoa que morreu, as circunstâncias da morte, o tempo que se passou desde a perda. Entretanto, não existe quem esteja imune a perder um entre querido, um amigo, alguém muito próximo. Mas existem formas de enfrentar a situação, viver o luto e acabar por seguir em frente. Quem explica mais sobre isso é a psicóloga Cláudia Della Méa. Confira.
Entrevista
Medicina & Saúde – Por que é tão difícil aceitar o fim da vida?
Cláudia Della Méa - Conforme se aproxima o dia de finados, surgem as recordações de quem se foi, momentos de reflexão, de pensar no que aconteceu, no que poderia ter acontecido se um infortúnio não tivesse ocorrido, momento de reviver sentimentos que no dia-a-dia deixamos passar despercebidos. Tim Maia expressa na canção a saudade, sentimento que sempre ficará diante das perdas que nos são importantes. Desde que nascemos aprendemos com nossos pais a ter um projeto de futuro, de família, de estudo, ser bem-sucedidos, casar, ter filhos, sentir a alegria de vê-los bagunçando a casa, quando então teremos a oportunidade de transmitir tudo que aprendemos com os nossos pais, cometer os mesmos erros e correr alguns riscos. Um vínculo de amor imensurável, indescritível, perene. Num planejamento tão perfeito há pouco espaço para pensar em perdas, principalmente a de uma pessoa muito querida, um avô, uma avó, um pai, uma mãe, um filho, um irmão, um amigo. E quando isso acontece? O sentimento de dor muitas vezes não se expressa em palavras. É possível que escutemos, nesses momentos, que “essa dor é horrível”, “impossível de suportar”.
Medicina & Saúde – Como, normalmente, as pessoas vivenciam isso?
Cláudia Della Méa - A dor que sentimos sempre nos parece a pior. Pessoas leigas, ou quem nunca passou por uma perda semelhante nem sempre compreendem e, querendo ajudar, acabam por desesperar o sujeito enlutado com clichês do tipo “não fica assim, olha quantas coisas boas há ao seu redor, isso vai passar”. Isso não é mau, mas basta. É necessário algo a mais, um olhar, um gesto, um acolhimento, ações que valem muito mais do que qualquer palavra.
Medicina & Saúde – Todas as pessoas vivem o luto da mesma forma?
Cláudia Della Méa - A perda de um ente querido ou de uma pessoa muito próxima gera momentos de dor que são sentidos e vivenciados de forma singular por cada um. São momentos difíceis onde é importante permitir-se o luto, recordar, reviver, pensar de novo para que possa ser elaborado. A cultura atual não é muita amiga disso, e pouco nos permite mais expressar esse sentimento. Quem sabe uma pílula para aplaca-los? Assim a pessoa, não chora, não “sofre”, fica sem espaço para pensar o ocorrido. Com a morte, nos deparamos com três situações que devem ser enfrentadas ao mesmo tempo: a perda; a realidade da ausência, de que a pessoa não estará mais presente no dia a dia com a dor devastadora que a acompanha, e, permeando esses dois, o luto, que transcorre desde o momento em que se recebe a notícia até os sinais de que a elaboração está em curso, processo que varia de uma pessoa para outra.
Medicina & Saúde – E quando se trata da perda de um filho?
Cláudia Della Méa - No caso da perda de um filho são muito fortes os sentimentos vividos logo após a notícia. Tive oportunidade de realizar uma pesquisa onde entrevistei mães enlutadas e conclui que esse momento e os sentimentos que o habitam são caracterizados como indescritíveis, impensáveis e irrepresentáveis, a pior dor do mundo. O enlutado deseja então arrancar de dentro essa dor, seja de forma que for. Nesse contexto, não há palavra que acalme, embora elas possam ofertar compreensão e apoio.
Medicina & Saúde – É possível afirmar que para algumas pessoas a perda de alguém dói mais?
Cláudia Della Méa - Não há medida padronizada. É necessário aguardar o trabalho interno e o tempo de cada um. Algumas vezes, com o passar dos dias, semanas ou meses, a dor ameniza; noutras, observamos acessos de pesar, e, noutras ainda, parece ocorrer um completo estancamento do processo de luto. Algumas dessas últimas situações podem se agravar a ponto de se estabelecer um quadro melancólico, interferindo a longo prazo nos afazeres diários e no curso da vida. Nesse caso é de suma importância buscar ajuda.
Colaborou
Cláudia Della Méa, psicóloga