Quem encontra pela primeira vez com a assistente administrativa Gabriela Rebeschini Ribeiro não imagina a força que existe por traz daquele sorriso tão envolvente. Com um jeito simples, que esbanja simpatia, Gabriela tem, aos 27 anos, o que muitas mulheres lutam a vida toda para conquistar: se aceita do jeito que é. O diferencial que faz com que ela se destaque poderia ser um problema para a maior parte das pessoas, mas para ela é o que ela chama se sua identidade. Gabriela nasceu com má formação congênita o que fez com que viesse ao mundo sem uma parte do braço direito. Ao contrário do que se imagina e incentivada pelos pais, a assistente nunca escondeu seu problema e desde pequena aprendeu a lidar com a diferença. “Meus pais nunca deixaram eu esconder. Desde pequena minha mãe dobrava as mangas das blusas, fazia luvas para colocar no toquinho, eles nunca fizeram eu me sentir menos que ninguém, sempre me disseram o que responder quando me chamasse de sem braço”, lembra. Apesar de todo o apoio que sempre teve, Gabriela passou sim por situações de constrangimento, mas garante que sempre procurou deletar os comentários ruins e aprendeu, inclusive, a ver o lado bom de toda a situação. “Uma coisa que eu aprendi é que, por um lado, isso é bom, porque dessa forma só pessoas boas se aproximam de você, pessoas preconceituosas nem chegam perto, você seleciona sem nem saber”, comenta.
Beleza, vaidade e aceitação
Foi quando colocou sua primeira prótese, aos 12 anos, que a vida de Gabriela começou a tomar um rumo diferente. Ao lembrar, ela conta que estranhou bastante e que as primeiras coisas que fez foi cruzar os braços e colocar as mãos no bolso. “Eram dois sonhos que eu tinha”, conta. A prótese trouxe novas possibilidades e Gabriela garante que sempre usou e abusou dela e nunca teve vergonha disso.
Como Gabriela mesma fez questão de destacar, ela nunca escondeu o fato de usar prótese. Ao contrário disso, usa e abusa de regatas, pinta as unhas de vermelho e não se incomoda em explicar porque está usando uma prótese. “As pessoas até olham, mas eu não me importo. Eu vejo que as pessoas perguntam bastante não por maldade, mas por curiosidade, principalmente aqui no sul, são poucas pessoas que têm prótese e isso chama atenção. Eu sempre digo pode perguntar que eu eu explico, porque depois a curiosidade passa”, conta.
Apesar de não ser super vaidosa, ela garante que se vira muito bem e faz de tudo: arruma o cabelo, faz penteado, se maquia. “Tudo você adapta”, comenta Gabriela que garante: é feliz do jeito que é. “A minha vaidade, minha feminilidade em nenhum momento foi afetada. Acho que me preocupo muito mais se eu engordo do que com a minha prótese. Não vai mudar. Se eu viver 100 anos, vão ser 100 anos com a minha prótese. Então eu tenho que me gostar, porque se eu não gostar ninguém vai gostar de mim. É de personalidade”.
Mais do que se aceitar, Gabriela encara a protése como algo único e particular e que inclusive lhe proporcionou realizar um dos sonhos de criança, que era de ser modelo, mesmo que por algumas horas. “ Eu nem sei como eu seria se tivesse os dois braços. Muito do que eu aprendi, como lidar, como me defender, a humildade, de saber que ninguém é mais do que ninguém, tudo isso foi em função da minha prótese. Acho que hoje, se eu tivesse a opção de escolher, eu ia escolher nascer sem braço de novo. Porque a minha prótese é a minha identidade, é o meu diferencial, é como em muitas coisas eu me coloquei, eu sem ela não seria eu, então não trocaria minha vida hoje”, destaca.
Todo mundo mais bonito
Foi por se aceitar do jeito que veio ao mundo que Gabriela foi uma das 11 escolhidas para participar de um projeto chamado Movimento + Bonito,criado pela própria empresa que fornece as próteses dela, a Conforpés, que fez um calendário com mulheres que usam próteses. “Eu sempre vou para lá em função de manutenção da prótese e a gente sempre fica em contato. Eu fiz vários trabalhos para eles já e um deles é esse movimento, que é a nível nacional”, explica. A ideia do projeto, segundo ela, é mostrar que a beleza está acima da amputação. “ A gente acaba vendo muito na televisão histórias dramáticas, mais tristes, para as pessoas ficarem com pena e a ideia da empresa ao criar o projeto foi mostrar o contrário. Escolher mulheres, todas bem resolvidas e bem bonitas. Fazer algo com pessoas que se aceitam do jeito que elas são”. O contato para Gabriela participar do projeto foi feito em janeiro e agora os calendários estão sendo comercializados. Toda a renda arrecadada com a venda dos calendários será destinada a produção de próteses para pessoas que não têm condições de pagar.
Gabriela é a única gaúcha a participar do movimento e garante que ficou muito feliz por poder participar e que a campanha ajudou a mudar sua vida. “Eu uso a minha prótese e eu sempre mandava fazer uma cotoveleira para tapar o encaixe, porque eu não gostava que ficasse olhando, por mais que eu achava que me aceitava, quando eu fui para ler que eu vi que o meu problema não era nada. Depois daquele dia eu me libertei daquilo, não quis mais usar, me desfiz das cotoveleiras, porque eu sabia que eu não precisava usar”, lembra. Para Gabriela, o maior objetivo da campanha é fazer as pessoas perceberem que elas podem ser bonitas independente de como elas sejam, de incentivar e mostrar que a deficiência física não é um problema, que se você nasceu daquele jeito, você tem que aceitar. “Todo mundo impõe um padrão, mas qual é o padrão? Lá, no dia das fotos quem tinha os dois braços e as duas pernas era diferente”, questiona. Graças a campanha, Gabriela se diz mais capaz de se aceitar: “como deficiente física, como pessoa, como mulher e me achar bonita assim, me ajudou muito. O mundo se abre”.
Outra questão importante que levou Gabriela a participar da campanha foi o fato de servir de exemplo para outras pessoas como ela: “Quando eu era criança, eu queria ver alguém como eu. Eu sei o quanto me doía ver que todo mundo tinha os dois braços e eu não. Tanto que no vídeo da campanha eu contei que quando minha mãe engravidou eu queria que a minha irmã nascesse como eu. E agora eu vejo muita gente, pessoas que estão no início, que recém amputaram, que querem conversar, conhecer a minha história. Você saber que ajuda pessoas que nunca viu na vida é incrível, não tem explicação”.
Hoje Gabriela tem a noção de que é para muitas outras pessoas o exemplo que tanto buscou na infância. “Saber que existe alguém igual a você não tem preço. Quando as pessoas vêm falar comigo eu penso que por isso elas não vão passar. Eu não aceitava o fato de não conhecer ninguém igual a mim. E hoje saber que eu sou um exemplo, que eu sou uma referência é muito bom. É muito bom ver as pessoas ficando mais otimistas”, finaliza.
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Para saber mais sobre o Movimento + Bonito basta acessar o site www.movimentomaisbonito.com.br. Lá você encontra informações de como ajudar na campanha e adquirir os calendários. Os calendários da campanha podem ser adquiridos pelo site ou se preferir, você pode conversar com a Gabriela pelo Facebook. Ela está reunindo pessoas que têm interesse em comprar, assim, o frete sai mais barato para todo mundo.