Habituados a avanços lentos e promessas grandiosas que acabam por não se confirmar, médicos e pesquisadores da área da oncologia costumam ser cautelosos diante de novas linhas de tratamento. Por isso é significativo o entusiasmo que muitos deles demonstram quando o assunto é a imunoterapia. “Entendemos com mais clareza como funciona o complexo sistema imunológico do paciente com um tumor e aprendemos que este sistema é peça fundamental no combate à doença. A maior arma contra o câncer pode estar no próprio paciente”, explica o médico oncologista Luis Alberto Schlittler, do Centro Integrado de Terapia Onco-hematológica (Cito).
No encontro deste ano da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), em Chicago (EUA), confirmou-se que o combate à doença ingressou em uma nova era. Nessa estratégia de tratamento o fundamento não é buscar moléculas capazes de destruir ou quebrar os tumores como a quimioterapia, mas que tentam ajudar o sistema natural de defesa do nosso organismo a atacar as células doentes. “Transformamos o sistema imunológico em nosso aliado, no mais novo e promissor remédio anticâncer. Conseguimos com esta ideia de tratamento resultados extremamente empolgantes, com respostas inclusive em doenças que praticamente nenhum outro tratamento estava funcionando”, destaca o médico.
Quando surge um tumor, a defesa do organismo deveria reconhecê-lo e começar a matar esta célula. Isso é o que o nosso corpo faz contra bactérias, vírus e outras infecções, por exemplo. “O sistema imunológico deveria estar ativo contra a doença. No entanto, hoje entendemos que o câncer percebe que vai ser atacado e cria disfarces, maneiras de enganar o sistema de defesa do nosso corpo, ficando praticamente invisível a ele e podendo assim crescer e proliferar sem que a nosso organismo perceba”, salienta o oncologista. Utilizando este conceito vários laboratórios do mundo começaram a testar e fabricar medicamentos – proteínas que tentam atrapalhar os planos do câncer. As medicações são capazes de retirar esta camuflagem do tumor e fazer com que os linfócitos de defesa encontrem as células cancerígenas e controlem a doença. “Tecnicamente é um mecanismo bastante complexo, um estratégia chamada de inibição da proteína PD-L1 que está expressa nos tumores e esta proteína é responsável pela camuflagem da doença”, explica.
Pesquisa e testes
Recentemente a equipe do Cito, representada pelo médico oncologista Luis Alberto Schlittler e a coordenadora de pesquisa clínica, Laura Zielke Feyh, estiveram em Santiago, no Chile, participando e discutindo detalhes de uma pesquisa com esta linha de pensamento. “Breve teremos aqui em Passo Fundo o uso da imunoterapia no combate ao câncer de pulmão. No mundo todo em torno de 600 pacientes serão recrutados para uma pesquisa com uma droga inovadora que utilizará a imunoterapia em pacientes com câncer de pulmão que falharam a quimioterapia convencional, como segunda opção de tratamento. O plano é termos cinco a seis pacientes de Passo Fundo e região para fazerem parte desta pesquisa internacional”, ressalta Schlittler. Estes medicamentos estão em fase de testes para diferentes tipos de câncer, incluindo os de pulmão, pele, rins, ovário, estômago e de cólon. “Uma característica empolgante da imunoterapia é que os anticorpos monoclonais criados para ajudar o sistema imunológico acabam sendo potencialmente eficazes para uma grande variedade de cânceres. E é fácil entender por quê. Se a estratégia for tornar as células de defesa mais potentes, elas acabarão sendo melhores caçadoras de tumores — qualquer que seja o tipo”, avalia o oncologista.
Mais duradoura
Além disso, as pesquisas têm apontado que a imunoterapia pode ser mais duradoura que os outros tratamentos. Isso, porque uma vez que o sistema imune aprende a combater o câncer, novas células de defesa com essa habilidade são geradas. O combate à doença faz com que ela seja controlada por muito mais tempo que a quimioterapia convencional. “Esta notícia é extremamente fascinante, mas devemos entender que a luta contra o câncer ainda é complexa. Muitas questões precisam ser respondidas, muitos testes e detalhes estão abertos. Precisamos reconhecer que muito trabalho está por vir e mais pesquisas devem ser estimuladas, mas com certeza esta estratégia atualmente é uma das armas mais poderosas no arsenal de luta contra o câncer”, finaliza.
Imunoterapia, a mais nova arma no combate ao câncer
· 3 min de leitura