O Brasil deverá registrar no próximo ano 596.070 novos casos de câncer. Entre os homens, são esperados 295.200 novos casos, e entre as mulheres, 300.870. A informação é do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). O tipo de câncer mais incidente em ambos os sexos será o de pele não melanoma (175.760 casos novos a cada ano, sendo 80.850 em homens e 94.910 em mulheres), que corresponde a 29% do total estimado. Depois desse, para os homens, os cânceres mais incidentes serão os de próstata (61.200 novos casos/ano), pulmão (17.330), cólon e reto (16.660), estômago (12.920), cavidade oral (11.140), esôfago (7.950), bexiga (7.200), laringe (6.360) e leucemias (5.540). Entre as mulheres, as maiores incidências serão de cânceres de mama (57.960), cólon e reto (17.620), colo do útero (16.340), pulmão (10.860), estômago (7.600), corpo do útero (6.950), ovário (6.150), glândula tireoide (5.870) e linfoma não-Hodgkin (5.030).
Analisando-se as taxas brutas (número de casos a cada 100 mil habitantes) nas diferentes regiões, observa-se algumas variações importantes. Entre as mulheres, a Região Norte é a única onde o câncer de mama não será o mais incidente, excluindo-se o câncer de pele não melanoma. Lá, o tipo da doença que afeta o sexo feminino mais frequentemente é o câncer do colo do útero. Já na região Sul, colo do útero é o quarto tipo mais comum, com os cânceres de cólon e reto e o de pulmão ocupando o segundo e o terceiro lugares, respectivamente.
No sexo masculino, sem levar em consideração o câncer de pele não melanoma, o câncer de pulmão é o segundo mais incidente no País. Já no Norte e no Nordeste, os tumores malignos de estômago ocupam esta colocação. Este tipo de câncer pode estar relacionado a condições socioeconômicas menos favoráveis (o tabagismo e o consumo de alimentos conservados no sal contribuem para o aumento do risco). As leucemias aparecem em sexto lugar na região Norte, mas na classificação nacional são o nono tipo mais incidente.
A magnitude do câncer está relacionada aos fatores de risco, qualidade da assistência prestada, qualidade da informação e envelhecimento da população. Geralmente, quanto maior a proporção de pessoas idosas (tal como a população dos países da Europa, Estados Unidos e Canadá), maiores as taxas de incidência, especialmente dos tipos de câncer associados ao envelhecimento, como mama e próstata.
Fatores de risco
O câncer é uma doença multifatorial, o que significa que diversos fatores concorrem e podem se sobrepor, favorecendo seu desenvolvimento. O excesso de gordura corporal, por exemplo, pode estar na origem de boa parte desses novos casos. Estudos apontam evidências que relacionam o excesso de peso e o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como os de cólon e reto, mama (na pós-menopausa), ovário, próstata, esôfago e endométrio.
As regiões Sul e Sudeste possuem características mais semelhantes aos países desenvolvidos, que se refletem nos principais tipos de câncer estimados para estas regiões, como próstata, mama e cólon e reto. Tais características incluem uma elevada prevalência de excesso de peso e obesidade, inatividade física e consumo de carnes processadas (salsicha, presunto, linguiça, carne seca etc.).
O tabagismo tem relação com vários tipos de câncer (pulmão, cavidade oral, laringe, esôfago, estômago, bexiga, colo do útero e leucemias). Fumantes chegam a ter 20 vezes mais chances de ter câncer de pulmão que não fumantes, 10 vezes mais chances de ter câncer de laringe e de duas a cinco vezes mais chances de desenvolver câncer de esôfago. A manutenção do sucesso do Programa Nacional de Controle do Tabagismo deverá impactar na redução destes tipos de câncer na população brasileira.
Estimativas
Desde 1995, o INCA estima o número de novos casos dos principais cânceres que afetam a população brasileira com base nas informações geradas pelos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Inicialmente a divulgação era anual, mas desde 2006 é feita a cada dois anos.
Neste ano, foram considerados 19 tipos específicos de câncer, com base na magnitude e no impacto. As informações estão apresentadas de forma consolidada para o País e de forma desagregada para as regiões.
As estimativas servem para subsidiar gestores federais, estaduais e municipais no planejamento de ações e políticas públicas de controle do câncer. Os números de 2016/2017 não podem ser comparados com anos anteriores, uma vez que não têm como referência a mesma metodologia e as mesmas bases de dados. Há constantes melhorias na quantidade e qualidade das informações que servem de base para o cálculo das estimativas, permitindo o aprimoramento dos números publicados.
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Entrevista
Medicina & Saúde - A estimativa do Inca é de que o tipo mais prevalente de câncer seja o de pele não melanoma. Como se define este tipo da doença? É possível tentar evitá-la?
Nicolas Lazaretti - Sim, o câncer mais comum no mundo e também no Brasil é o tumor de pele tipo não- melanoma, que são os carcinomas basocelulares e epidermóides. Os mesmos são responsáveis por mais da metade de todos os tipos de câncer diagnosticados. Eles acontecem principalmente em áreas do corpo que são expostas ao sol por vários anos, como na face, antebraços e pernas, entretanto, podem aparecer em outras regiões da pele. Esse tipo de neoplasia, geralmente, surge como um pequeno nódulo que muitas vezes coça e sangra e que aumenta com o passar do tempo. Hoje em dia existem várias maneiras de evitá-los, como por exemplo, o uso diário de bloqueador solar, uso de roupas claras e chapéu, principalmente para as pessoas que trabalham na agricultura que, por estarem mais expostas ao sol, são as que mais sofrem desta doença.
Medicina & Saúde - Com relação à assistência média existente no país em saúde pública, considera que existem medidas eficazes para o diagnóstico precoce dos vários tipos de câncer?
Nicolas Lazaretti - Sim, no Brasil os exames de rastreamento (chamados de preventivos) são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e devem ser realizados. De uma maneira geral todos os homens devem realizar, a partir dos 50 anos, exame do PSA e toque retal (1x ao ano) para diagnóstico precoce de câncer de próstata e colonoscopia (1x a cada 10 anos) para diagnóstico precoce de câncer de intestino. As mulheres devem realizar exame citopatológico do colo do útero anualmente, a partir dos 18 anos, exame médico das mamas anualmente e mamografia anual após os quarenta anos, além é claro, de colonoscopia, a cada 10 anos, a partir dos 50 anos. Infelizmente não existem exames para diagnosticar precocemente todos os tipos de neoplasias malignas, mas os que existem são muito eficazes.
Medicina & Saúde - De maneira geral o diagnóstico precoce é um dos principais eixos quando se fala em cura de câncer? Por quê?
Nicolas Lazaretti - O diagnóstico precoce é, com certeza, a maior chance que as pessoas têm de obter a cura de um determinado câncer. Um exemplo claro é o câncer de mama que, quando diagnosticado com menos de 1cm de tamanho, as chances de cura superam 90%. Outro fator importante é que quanto mais precoce for diagnosticado o tumor, menos intensos serão os tratamentos, como a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. Manter uma alimentação saudável, não fumar, cuidar do peso, praticar exercícios físicos, além de prevenirem a grande maioria dos cânceres, melhoram muito a saúde cardiovascular e emocional das pessoas.
Colaborou
Nicolas Lazaretti, oncologista do Centro Integrado de Terapia Onco-hematológica (Cito)