Olhos merecem atenção especial

Radiação, água contaminada e medicamentos podem prejudicar a saúde dos seus olhos na estação mais quente do ano

Por
· 7 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+


Os olhos e a pele são os órgãos mais expostos do nosso corpo. Por isso, exigem cuidados especiais durante o verão, quando a radiação UV (ultravioleta) atinge índices extremos. De acordo com a oftalmologista do Hospital da Cidade, Aline Weiller dos Reis, a radiação solar influencia no aparecimento de doenças oculares como degeneração macular relacionada à idade (DMRI), catarara e pterígeo. “A DMRI se caracteriza por uma degeneração na região central da retina responsável pela visão de detalhes e cores. Tem maior incidência em pessoas de pele clara e acima de 50 anos, por isso relacionada à idade. Ocorre transmissão hereditária, mas é agravada por tabagismo, alimentação (com dieta pobre em ômega 3 e vitaminas A e E) e exposição solar”, explica.
Aline destaca também que muitos estudos já comprovaram a relação entre a exposição solar e aumento da incidência de catarata (opacificação de cristalino, lente natural que temos nos olhos). Também de pterígeo, muitas vezes confundido com catarata, que se caracteriza por uma membrana na conjuntiva que se estende para a córnea (na parte externa dos olhos). Por isso, proteger os olhos do sol é fundamental. “A proteção solar tem papel muito importante na prevenção dessas doenças devendo ser incentivada desde a infância já que existe efeito cumulativo sobre o risco de aumento na incidência, aparecimento mais precoce e gravidade das patologias”, destaca a oftalmologista.
Outro cuidado importante diz respeito ao uso contínuo de medicamentos que pode intensificar os danos do UV nos olhos. Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier em Campinas, cerca de 300 medicamentos contêm sais que quando entram na circulação aumentam a absorção desta radiação.O resultado é a formação de radicais livres, um dos maiores inimigos da boa visão. “Ocorre quando os remédios são tomados sem o uso de óculos adequados para proteger os olhos. Isso facilita o desenvolvimento da catarata, perda da transparência do cristalino, maior causa de cegueira tratável no mundo”, comenta.
O primeiro sinal de que algum medicamento está causando alteração celular no cristalino é a fotofobia (aversão à luz). O médico diz que os principais medicamentos fotossensibilizantes que podem desencadear a catarata quando usados continuamente são: diuréticos, antipsicóticos, antidepressivos, analgésicos, alguns antibióticos e os corticóides que também provocam glaucoma.

Síndrome do olho seco

Segundo o oftalmologista, o efeito fotossensibilizante dos anti-histamínicos usados no tratamento de alergia explica porque desencadeiam a síndrome do olho seco. A dica do médico para amenizar o problema é beber bastante água já que no sol a maior evaporação da lágrima faz com que o ressecamento seja maior.
Outros medicamentos que aumentam a sensibilidade à luz são a pílula anticoncepcional, os indicados para arritmia cardíaca e para diabetes. Por isso, podem causar inflamação na córnea (ceratite), na conjuntiva (conjuntivite) e opacificação do cristalino. Os sinais são vermelhidão, fotofobia, sensação de areia nos olhos e visão embaçada.

Atenção ao filtro solar

Até o uso de filtro solar e de bronzeador exigem cuidado. Isso porque contêm substâncias tóxicas para os olhos. Estudo conduzido por Queiroz Neto com 270 pacientes, mostra que no verão o filtro solar responde por 46% dos casos de conjuntivite tóxica e os bronzeadores por 39%. Os sintomas são ardência nos olhos e visão embaçada. Para eliminar o desconforto, a recomendação é lavar abundantemente os olhos com água filtrada. Não desaparecendo os sintomas é necessário consultar um oftalmologista. Para minimizar o efeito fotossensibilizante dos medicamentos a orientação é tomar sempre à noite quando a prescrição é de uma vez a cada 24 horas, como é o caso de pílula anticoncepcional.

Como preservar a visão

O oftalmologista afirma que a única forma de proteger os olhos dos efeitos do sol é usar lentes com 100% de proteção UV. Até lentes transparentes podem ter esta proteção, destaca. Os solares com filtro UV, comenta, são mais caros que os vendidos pelos camelôs porque as lentes passam por controle de qualidade e recebem resinas tonalizantes que absorvem a radiação UV e parte da luz azul também prejudicial, por causar catarata e degeneração da retina. O especialista adverte que lentes sem proteção são piores do que a falta de óculos de sol. Isso porque, o escurecimento provoca a dilatação da pupila e permite a penetração de uma maior quantidade de radiação nos olhos.

Cor das lentes e conforto

"Embora até as lentes transparentes possam ter filtro UV, bons óculos escuros melhoram o conforto visual porque ajustam a quantidade de luz que chega aos olhos sem alterar a visibilidade" afirma. Para o dia a dia as cores mais confortáveis são âmbar, marrom e cinza que permitem boa visão de contraste e profundidade, além de reduzirem reflexos. Para dirigir em dias nublados, recomenda as lentes cinza por permitirem melhor visão de contraste. Para surfistas e outros esportes aquáticos a dica são as lentes rosa e púrpura que melhoram a visão de contraste em fundos verdes ou azuis. No lusco-fusco do entardecer, recomenda lentes amarelas que reduzem o ofuscamento de motoristas provocados pela luz dos faróis.


Água contaminada pode causar doenças oftalmológicas

Mar, rio, piscina... no verão quem não quer estar mais próximo das “queridinhas” da estação? Porém, é preciso tomar cuidado com possíveis contaminações. “Ter contato com água contaminada por sugidades no mar ou rio podem trazer alergias. O excesso de cloro nas piscinas também é um problema.”, afirma a oftalmologista da Clínica Canto, Dra. Ana Paula Canto.
Segundo a oftalmologista, o alerta também serve aos pacientes que utilizam lentes de contato. “Não se deve entrar em mar, piscina, rios ou lagos e nem abrir os olhos debaixo da água com lentes de contato. É importante respeitar a troca das lentes descartáveis, não dormir com elas e manter uma boa higiene”, orienta. Se entrar na água com as lentes for inevitável, Dra. Ana Paula ensina que, após chegar em casa, é preciso deixá-las de molho no produto específico por, no mínimo, seis horas. “Em caso de irritação, olhos vermelhos ou desconforto, a pessoa deve descontinuar o uso das lentes e procurar um oftalmologista”, explica.
Há também outros causadores de alergias, como o mofo, muito comum em casas de praia fechadas por muito tempo, pólen, pelos de animais e poeira. “É preciso ficar atento a inchaços palpebrais, coceira ocular, lacrimejamento e sensação de areia. A recomendação é que, em caso de irritação e coceira, o paciente faça compressas geladas, mas evite a automedicação e procure orientação médica”, ressalta.


Conjuntivites

Conjuntivites também estão entre as doenças oftalmológicas mais comuns no verão. A oftalmologista Tania Schaefer, de Curitiba explica que "a conjuntivite é uma inflamação da membrana que reveste grande parte do nosso olho. A água de piscina e do mar contaminadas pode facilitar o contágio, mas como existem diferentes tipos de conjuntivite e assim, um oftalmologista deve ser sempre consultado, a fim de se estabelecer um diagnóstico correto e um tratamento adequado a cada tipo de conjuntivite".
De acordo com a Dra. Ana Paula, as causadas por vírus são transmitidas pelo ar ou por objetos contaminados. “Os sintomas são olhos vermelhos, inchaço palpebral, lacrimejamento, sensação de areia e sensibilidade à luz”, explica. A patologia também pode vir acompanhada por sinais de resfriado, como a dor de garganta, febre e mal-estar. “Infelizmente não há um remédio para matar o vírus e o tratamento é realizado com colírios lubrificantes e compressas geladas”, revela.
Já a conjuntivite bacteriana pode ser transmitida em locais em que há aglomeração de pessoas, caso uma delas esteja infectada. “Esse tipo é causado por bactéria e seus sintomas são secreção purulenta nos olhos, que, ao acordar, ficam ‘grudados’, lacrimejamento e sensação de areia”, afirma. “Para o tratamento são prescritos colírios de antibiótico, lubrificantes e compressas geladas”, complementa.
Alguns hábitos como lavar as mãos sempre, não coçar os olhos, não dividir objetos pessoais como maquiagens e óculos ajudam a prevenir a infecção por estes micro-organismos. "O oftalmologista deve ser sempre consultado para estabelecer um diagnóstico correto e um tratamento e acompanhamento adequados a cada tipo de conjuntivite", finaliza Tania.

Entrevista

Medicina & Saúde - Muitas pessoas acabam usando óculos de sol sem proteção, por que isso é um erro?
Aline Weiller dos Reis - O uso de óculos escuros com boa proteção contra raios UV é extremamente importante para se evitar as doenças agravadas pela exposição solar. Mas deve-se tomar cuidado na escolha, muitos óculos são apenas escuros e sem proteção solar. Isso traz uma falsa sensação de proteção. Algumas ópticas dispõem de aparelhos que podem medir o nível de proteção das lentes.

Medicina & Saúde - Quais as doenças mais suscetíveis ao aparecimento durante o verão?
Aline Weiller dos Reis - O contágio por vírus e bactérias é maior em locais de aglomeração de pessoas aumentando a incidência de conjuntivites na estação do verão. Deve-se evitar levar as mãos aos olhos e o compartilhamento de toalhas. O uso de álcool gel e lavar sempre as mãos ajuda a evitar a contaminação. Usuários de lentes de contato devem ter cuidado ainda maior.

Medicina & Saúde - Água do mar, piscina e rio também trazem riscos à saúde? Quais?
Aline Weiller dos Reis - Algumas pessoas desenvolvem alergias pelo contato com excesso de cloro em piscinas. Água de rios e do mar também pode irritar os olhos deixando-os vermelhos e doloridos. Se a água estiver contaminada pode também provocar o surgimentos de doenças infecciosas como a conjuntivite. Algumas vezes confundem-se os sintomas de conjuntivite alérgica e viral ou bacteriana, por isso é muito importante a consulta médica logo no início da manifestação para o tratamento mais eficaz.

Medicina & Saúde - Quais os principais cuidados que se deve ter com os olhos nessa época?
Aline Weiller dos Reis - O uso de óculos com boa proteção solar deve ser incentivado sempre, mesmo nas outras estações e desde a infância.
Para evitar o contágio por vírus e bactérias, não levar as mãos aos olhos, lavá- las sempre e utilizar toalha própria e álcool gel.
Se sentir irritação nos olhos após uso de produtos como protetores solares, deve-se lavar o local com água e procurar consulta médica o mais rápido possível. O diagnóstico e tratamento corretos de possíveis seqüelas ou outras patologias precocemente é muito importante para evitar a diminuição da acuidade visual.

Colaborou Dra. Aline Weiller dos Reis
Oftalmologista do Hospital da Cidade

Gostou? Compartilhe