Câncer de colo do útero é o terceiro mais comum entre mulheres brasileiras

A estimativa do Instituto Nacional do Câncer, o Inca, é que em 2016 sejam diagnosticados mais de 16 mil novos casos

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Janeiro é o mês dedicado a prevenção e informação sobre o câncer de colo do útero, neoplasia responsável pela morte de aproximadamente 230 mil mulheres por ano no mundo. A incidência de câncer de colo de útero é maior em países considerados subdesenvolvidos e em desenvolvimento, principalmente pela falta de realização de exames preventivos, que detectam a doença na fase inicial, aumentando as possibilidades de sucesso no tratamento. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer, o Inca, é que em 2016 sejam diagnosticados mais de 16 mil novos casos. 
E conhecer a doença é fundamental para o diagnóstico e tratamento. O oncologista, integrante do corpo clínico do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital da Cidade de Passo Fundo, Nicolas Lazaretti, deu algumas orientações sobre o tratamento e diagnóstico do câncer de colo do útero.

Quais as estimativas de diagnóstico do Câncer de Colo do útero para 2016?
Em 2016, as estimativas são que 16.340 novas mulheres serão diagnosticadas com câncer de colo do útero, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), isso torna o câncer de colo de útero o terceiro mais comum entre as mulheres, excluindo o de pele não melanoma.

A estratégia de rastreamento recomendada pelo Ministério da Saúde é o exame citopatológico prioritariamente em mulheres de 25 a 64 anos. No Brasil, há suficiente adesão aos exames de rastreamento? Em que isso influencia no diagnóstico tardio e tratamento da doença?
Felizmente, durante os últimos 10 anos, está havendo uma adesão, cada vez maior, de mulheres que procuram a assistência a saúde, para realizar o exame citopatológico do colo do útero (exame preventivo), também conhecido como papanicolau. Isso se deve, principalmente, as campanhas realizadas durante todo o ano. Entretanto, o numero é considerado, ainda, insuficiente e falta, portanto, muita conscientização da população para que procure o seu médico. Quando as mulheres deixam de realizar o exame preventivo anualmente, as chances de se diagnosticar uma doença mais avançada são muito maiores e as chances de cura menores.

Como a vacina contra o HPV atua como aliada para a prevenção?
A Vacina contra o Vírus do HPV foi a maior descoberta realizada nos últimos anos no combate contra o câncer do colo do útero. A vacina, que é fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), imuniza, através da produção de anticorpos, as meninas contra alguns subtipos específicos do vírus do HPV (subtipos 6,11, 16 e 18) que causam o câncer e deve ser realizada em três aplicações (doses) entre 11 a 13 anos.

Quais foram os principais avanços do tratamento quimioterápico e radioterápico para o câncer de colo de útero nos últimos anos?
Nos últimos anos houveram alguns avanços nas áreas da quimioterapia e radioterapia. Novos quimioterápicos foram incorporados ao tratamento da doença avançada, principalmente uma medicação que diminui a vascularização tumoral e, portanto, diminui a quantidade de nutrientes que chegam ao tumor. Houve o surgimento de uma nova modalidade de tratamento radioterápico, chamada de IMRT (Radioterapia de Intensidade Modulada), que faz com que as mesmas doses de radioterapia cheguem ao câncer com muito menos efeitos colaterais, pois essa modalidade consegue ser mais precisa em direcionar o tratamento ao tumor.

A sexualidade e a fertilidade são questões que sensibilizam as pacientes com a doença. Como elas são afetadas pelo tratamento do câncer de colo de útero?
A sexualidade e a fertilidade podem ser afetadas pelos tratamentos, mas isso vai depender, principalmente, do tamanho do tumor ao diagnostico. Tumores iniciais necessitam, geralmente, apenas de uma pequena cirurgia chamada de conização que, normalmente, não afeta a sexualidade e a fertilidade. Já tumores maiores que necessitem de tratamentos mais agressivos como a retirada do útero ou mesmo a quimioterapia e a radioterapia afetam consideravelmente esses aspectos. Portanto, é fundamental que todas as mulheres procurem o seu medico uma vez ao ano pelo menos, para realizar o exame preventivo do colo do útero. Apenas dessa maneira os tratamentos serão menos agressivos e deixarão poucas sequelas.

O que é o câncer de colo do útero?

Existem dois tipos principais de câncer do colo de útero, o carcinoma de células escamosas e o adenocarcinoma. Cerca de 80% a 90% dos cânceres cervicais são carcinomas de células escamosas. Durante as 3 últimas décadas, os adenocarcinomas cervicais estão se tornando cada vez mais comuns. Esse tipo de câncer de colo do útero se desenvolve a partir das células glandulares produtoras de muco do endocervice. O principal fator de risco para o desenvolvimento de lesões intraepiteliais de alto grau (precursoras do câncer de colo do útero) e do câncer de colo do útero é a infecção pelo papiloma vírus humano (HPV).
O vírus HPV é uma das principais causas de ocorrência do câncer do colo de útero. Pelo menos 12 tipos de HPV são considerados oncogênicos, ou seja, podem ocasionar tumor canceroso. Dentre as variantes de alto risco, os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo do útero. Sua transmissão se dá por contato direto com a pele ou mucosa infectada, principalmente via sexual. Como muitas pessoas portadoras do HPV não apresentam nenhum sinal ou sintoma, elas não sabem que têm o vírus, mas podem transmiti-lo. A época mais favorável para a vacinação é nesta faixa etária, de preferência antes do início da atividade sexual, ou seja, antes da exposição ao vírus.
Na prevenção ao câncer de colo de útero, contudo, a vacinação não substitui o exame papanicolau, que ajuda a detectar células anormais no revestimento do colo do útero. Ele deve ser realizado anualmente e, após dois exames negativos, a cada três anos. Quando as lesões são diagnosticadas preventivamente, podem ser tratadas antes de se tornarem câncer. O câncer de colo do útero é um dos mais fáceis de serem prevenidos, por isso é tão importante fazer o exame regularmente. Da mesma forma, o uso do preservativo em todas as relações sexuais é de extrema importância, pois a vacina não confere proteção contra todas as doenças sexualmente transmissíveis.

Fatores de risco

Existem vários fatores que podem tornar uma pessoa mais propensa a desenvolver câncer de colo de útero:

Infecção pelo Vírus do Papiloma Humano - O fator de risco mais importante para o câncer de colo de útero é a infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV).

Tabagismo - Mulheres que fumam têm uma probabilidade duplicada de desenvolver câncer do colo de útero em relação àquelas que não fumam. Fumar expõe o corpo a muitos produtos químicos cancerígenos que afetam outros órgãos além dos pulmões.
Imunossupressão - Em mulheres com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) um pré-câncer do colo de útero pode evoluir para um câncer invasivo mais rápido do que o esperado.

Infecção por Clamídia - A Clamídia é um tipo relativamente comum de bactéria, transmitida pelo contato sexual, que pode infectar o sistema reprodutivo. Esta infecção pode causar inflamação pélvica, levando a infertilidade.

Dieta - Mulheres com dietas pobres em frutas e vegetais podem ter um risco aumentado para desenvolver câncer do colo de útero. As mulheres obesas são mais propensas de desenvolver adenocarcinoma do colo uterino.

Pílulas Anticoncepcionais - Existem evidências que fazer uso de contraceptivos orais por um longo período de tempo aumenta o risco de desenvolver câncer do colo de útero, mas este risco tende a desaparecer depois de um tempo em que a mulher para de fazer uso dessa medicação.

Dispositivos Intrauterinos - Estudos recentes detectaram que mulheres que jamais usaram um dispositivo intrauterino (DIU) apresentaram um risco menor de desenvolver câncer de colo de útero.

Múltiplas Gestações - Mulheres que tiveram 3 ou mais gestações tem um risco maior de desenvolver câncer de colo de útero. Acredita-se que muitas dessas mulheres tenham relações sexuais desprotegidas, tornando-as mais expostas ao HPV.

Idade - Mulheres que tiveram a primeira gravidez com menos de 17 anos tem duas vezes mais chances de ter câncer do colo de útero do que as mulheres que engravidaram pela primeira vez após os 25 anos de idade.

Dietilestilbestrol - O dietilestilbestrol (DES) é um medicamento hormonal que foi administrado, entre 1940 e 1971, para evitar o aborto. Mulheres cujas mães tomaram DES quando grávidas delas podem desenvolver a doença com uma frequência acima do esperado. Existe cerca de 1 caso deste tipo de câncer em cada 1000 mulheres cujas mães tomaram DES durante a gravidez, o que significa que cerca de 99,9% das filhas, cujas mães fizeram uso do DES não desenvolverão este tipo de câncer. O risco parece ser maior em mulheres cujas mães tomaram o medicamento durante as primeiras 16 semanas de gravidez.

Histórico Familiar - Uma pessoa com parentes de primeiro grau com diagnóstico de câncer de colo de útero terá um risco aumentado de desenvolver a doença de 2 a 3 vezes, em relação às pessoas que não tiveram nenhum caso de câncer do colo de útero na família.

Sintomas
Os sintomas muitas vezes não começam até que a doença se torne invasiva e acometa tecidos próximos. Quando isso acontece os sintomas mais comuns são:
Sangramento vaginal anormal.
Sangramento menstrual mais longo que o habitual
Secreção vaginal incomum, com um pouco de sangue.
Sangramento após a menopausa.
Sangramento após a relação sexual.
Dor durante a relação sexual.

Fonte: Instituto Oncoguia.


*Colaborou
Nicolas Lazaretti - oncologista, integrante do corpo clínico do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital da Cidade de Passo Fundo

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