Alinhe sua coluna!

Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 80% da população sofre com dor lombar

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A dor lombar, popularmente conhecida como dor nas costas, é a segunda maior causa de visita de pacientes aos médicos, só perde para a dor de cabeça. O problema atinge mais de 80% da população mundial, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), e representa prejuízos financeiros para as empresas (é a maior causa de afastamento do trabalho em pessoas com menos de 45 anos), para o governo (em 2012, mais de 116 mil pessoas receberam auxílio-doença por esse motivo) e para os que sofrem com o problema (cansaço, desânimo e até mesmo estágio depressivo). A estimativa é que 7% da população adulta busque atendimento médico por este sintoma no período de um ano.
Muito mais do que alicerce, a coluna vertebral une as estruturas do corpo. Tamanha importância tem um preço: uma vez negligenciada, ela tende a adoecer de tal forma que pode levar até a incapacitação. “A nossa coluna começa a sofrer processos degenerativos a partir da segunda década da vida, devido à necessidade de compartilhar duas funções mecânicas antagônicas: sustentar o peso do tronco e ao mesmo tempo ser flexível”, explica o ortopedista, Pil Sun Choi.

Segundo a Fisioterapeuta e Coordenadora do Serviço de Fisioterapia do Hospital da Cidade, Débora Jorge Lisboa, os espisódios de dor lombar costumam ser agudos e autolimitados. Sua principal causa é a dor musculoligamentar, relacionada a fatores como postura defeituosa, estresse no trabalho, sedentarismo, obesidade, idade avançada e tabagismo. “Entre outras causas, podemos citar osteoartrose lombar, hérnia de disco, colapso vertebral por osteoporose, fraturas, fibromialgia, dor referida originada em estruturas do tórax ou abdome, artrite reumatóide, espondilite anquilosante, espondilólise, espondilolistese, desvios da coluna (cifose, escoliose e cifoescoliose). Raramente, em aproximadamente 1% dos casos, a dor lombar aguda pode prenunciar uma doença grave, como neoplasia, infecção ou doenças sistêmicas”, comenta.

Entre os principais vilões da coluna, o ortopedista cita três: o estresse, o sedentarismo e a má postura. De acordo com Choi, o estresse faz uma revolução no corpo humano, pois gera uma situação de alerta no organismo. Durante uma situação de tensão, há grande liberação de substâncias excitatórias e inibitórias na circulação sanguínea para maximizar a defesa e fuga. Essa mobilização reduz a circulação em estruturas como a coluna, prejudicando a resistência e capacidade de regeneração desta estrutura. “Pessoas em situação de constante estresse tendem a apresentar dores articulares, na coluna e nos músculos. Pode-se afirmar que em 25% dos casos a causa única da dor na coluna é o estresse”, esclarece o ortopedista.

No caso do sedentarismo, a praticidade do dia a dia e a falta de atividade física pode ser extremamente nociva para a coluna. “Isso por que o sedentarismo interfere no metabolismo do disco intervertebral, que precisa de movimento para manter o equilíbrio vital das células. A equação é simples: a coluna vertebral é toda desenhada de forma a possibilitar o movimento. Na ausência deste, a tendência é a acomodação. E a acomodação, nesse caso, significa dor, muita dor”, destaca.
Mas talvez o maior vilão da coluna seja a má postura. O ortopedista explica que a estrutura que forma a coluna vertebral demanda um constante cuidado com a postura, na medida em que vícios posturais podem facilitar a ocorrência de deformidades, como hérnia de disco, escoliose, artrose, entre outros. “Pessoas que, usualmente, adotam posturas inadequadas tendem a criar maus hábitos, pois o cérebro se acostuma com a posição errada. Vale lembrar também que o calçado errado, usado constantemente, pode prejudicar a coluna, assim como bolsas e mochilas pesadas”, lembra.

Para evitar problemas futuros com a coluna, a fisioterapeuta ensina que deve-se ter os cuidados adequados com a portura, realizar atividade física regularmente, evitar estresse e sobrecarga no trabalho, manter peso adequado evitando sobrepeso e obesidade, evitar o tabagismo. Com o ritmo de vida agitado, é difícil, mas não impossível evitar o estresse: adotar uma alimentação balanceada, dormir melhor e fazer exercícios físicos são essenciais, mas medidas simples como prestar atenção na respiração, manter uma boa autoestima e se desconectar de vez em quando também podem ajudar a acalmar a mente. Quanto a má postura, a dica princial é se policiar na hora de sentar, dormir e caminhar. “Com o tempo, a postura adequada virará um hábito. Para dormir, prefira a posição de lado, já que nesse caso a coluna fica alinhada. Usar o travesseiro na altura adequada e outro entre os joelhos também são medidas interessantes. Ao sentar, lembre-se de que a postura ideal é aquela que mantém um suave S na coluna”, ensina Choi. No caso dos acessórios, evite, sempre que possível, saltos muito altos ou utilize apenas durante poucas horas. Rasteirinhas também não são boas opções. Prefira sapatos que tenham 3 cm de salto. Já com relação às bolsas, o peso delas não deve ultrapassar 10% do peso corporal. As melhores para a coluna são as mochilas, já que distribuem melhor o peso. Se não for possível, alterne o tempo que carrega a bolsa em ambos os lados do corpo.


Entrevista

Medicina & Saúde - Trabalhar muito tempo em pé ou sentado pode ocasionar lesões na coluna?

Débora Jorge Lisboa - Permanecer períodos prolongados em pé ou sentado pode ocasionar alterações posturais, que estão relacionadas, principalmente, com dor de origem músculo-esquelética. Porém, ficar em pé ou sentado por muito tempo pode piorar lesões já existentes como hérnia de disco, osteoartrose e outras alterações mecânicas da coluna.

Medicina & Saúde - A má postura é realmente um dos maiores vilões da coluna?

Débora Jorge Lisboa - Sim. A postura inadequada está fortemente relacionada com a grande maioria dos casos de dor lombar aguda, podendo, ainda, piorar doenças já existentes.

Medicina & Saúde - Como corrigir problemas de postura antes que eles causem maiores danos à coluna?

Débora Jorge Lisboa - Para que o paciente possa corrigir eventuais problemas de postura, deve-se orientá-lo a adquirir postura correta ao sentar ou deitar, praticar atividade física regularmente evitando o sedentarismo, estimular perda de peso e abandono do tabagismo. Técnicas de fisioterapia como reabilitação postural (correção postural), RPG, pilates também auxiliam na correção de alterações posturais.

Medicina & Saúde -Estresse e depressão podem ter relação com problemas na coluna?

Débora Jorge Lisboa - Alterações psicogênicas, como estresse e depressão, podem estar relacionados a amplificação e prolongamento dos quadros dolorosos, fazendo com que a dor se perpetue e evolua para quadros crônicos.

Medicina & Saúde - Mulheres costumam usar muito salto alto, qual a relação do uso do salto com problemas na coluna? Existe algum tipo de salto que seja o ideal?

Débora Jorge Lisboa - O salto alto é uma prática comum entre as mulheres há muitos anos e tem tornado-se uma ferramenta fundamental em seu dia a dia. Entretanto, a utilização indiscriminada do salto alto pode trazer prejuízos para a saúde do corpo, desencadeando alterações da postura, favorecendo entorses de tornozelos, dor nos membros inferiores, encurtamentos do tendão de Aquiles, alterações no padrão de marcha e alterações da coluna vertebral. Diariamente deve-se optar por saltos entre 3 e 4 cm, devendo-se evitar o uso rotineiro do salto alto (acima de 6 cm), pois este pode acarretar prejuízos à saúde da mulher.

Medicina & Saúde - Como são feitos os tratamentos para esse tipo de situação?

Débora Jorge Lisboa - É fundamental uma investigação clínica adequada para estabelecer correlação entre as manifestações clínicas e os resultados dos exames de imagem, para que se obtenha a causa correta dos sintomas. Na maioria dos casos não se encontra uma doença específica, sendo que a maioria dos episódios de dor lombar costumam ser agudos e autolimitados, desaparecendo espontaneamente após algumas semanas. Nos casos em que é necessário tratamento, pode-se utilizar medicamentos (analgésicos e antiinflamatórios), fisioterapia, acupuntura, reabilitação postural, exercícios supervisionados. Nos casos em que se identifica uma causa específica, esta deve ser tratada e acompanhada adequadamente.


*Colaborou

Débora Jorge Lisboa - Fisioterapeuta e Coordenadora do Serviço de Fisioterapia do Hospital da Cidade; Mestre em Envelhecimento Humano pela UPF/PF; Pós-graduada em Fisioterapia em Terapia Intensiva pelo Hospital Moinhos de Vento/ POA; Pós-graduada em Fisioterapia em Hospitalar pelo Hospital Moinhos de Vento/ POA

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