Uma velhice saudável para honrar essa vida

Por Américo Tângari Jr.

Por
· 3 min de leitura
 Crédito:  Crédito:
Crédito:
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Com a alma rejuvenescida e o cérebro em perfeito estado, às vezes é difícil conviver com as limitações que a vida impõe aos mais velhos durante a caminhada. O importante é resistir e se sentir bem, sem pensar muito na idade, mas tomando todos os cuidados para impedir tropeços e uma jornada perversa, como o avanço de doenças. Não há como fugir: como todos os seres vivos, a régua da vida um dia se esgota. Até lá, vamos manter o corpo e a alma de bem com a natureza e seguir sempre em busca do que realmente interessa: uma vida longa e saudável.
É bom começar com informações importantes: o avanço da idade provoca alterações no corpo e interfere diretamente na alimentação e no estado de nutrição de uma pessoa. Em consequência, o idoso é menos ativo fisicamente e tende a consumir menos calorias que os mais jovens, o que acelera a deficiência de vitaminas. Há uma queda na capacidade de transporte de nutrientes e, por isso, uma dieta correta é fundamental para vencer desafios na manutenção da boa saúde.
Os ventos estão favoráveis: a expectativa de vida ao nascer no Brasil subiu para 75,2 anos, muito em razão dos avanços da medicina. E as recomendações para um envelhecimento saudável e com boa qualidade de vida incluem alimentação apropriada e a prática de exercícios físicos, o que diminui o risco de quedas e fraturas e ainda promove uma convivência mais agradável. Todos esses fatores contribuem para melhorar a autoestima e a autoconfiança, com independência física e psíquica. Atividades como caminhadas ajudam a manter a capacidade cardiorrespiratória e diminuem a perda de massa óssea. Mas é preciso se precaver: um idoso sedentário que pretende iniciar um exercício deve se submeter antes a uma avaliação médica. Depois disso, saiba que a atividade física reduz sintomas de depressão e ansiedade e ainda melhora o humor.
E não pense que nada agora será mais possível em razão dos excessos do passado. É possível reverter os desvios da história, levantar a cabeça e recuperar a boa saúde. As pessoas jamais devem se render. Três caminhos podem ajudar bastante: primeiro, uma prevenção severa para evitar a ocorrência de doenças; segundo, ações para detectar problemas de saúde em seu estágio inicial para facilitar o diagnóstico e seu tratamento. Isso evita disseminação e suas consequências, como rastreamento do câncer de mama ou próstata, aumento do risco cardiovascular, etc. E, terceiro, ações com o objetivo de reduzir prejuízos funcionais que decorrem de problemas agudos ou crônicos, incluindo a reabilitação; aí entram o pós infarto ou acidente vascular. O mais importante de tudo, como se percebe, é a prevenção. E não há nenhum mistério nessa receita simples:
-- hábitos saudáveis na alimentação;
-- atividades físicas de forma regular;
-- acompanhamento médico periódico;
-- descanso e lazer adequados;
-- estímulo da mente, que deve se manter ativa e produtiva. Programas culturais dão um ótimo suporte a esse quesito.
Uma atenção especial deve ser dedicada ao coração, especialmente depois dos 60 anos. Nessa fase há uma maior incidência de pessoas com problemas cardíacos no Brasil e é preciso ficar atento a pequenos sinais, como o cansaço sem causa aparente. Doenças cardíacas representam o terceiro maior fator de morte no País e qualquer descuido pode ser fatal.
Nesse processo lento do avanço da idade, o desenvolvimento de doenças cardiovasculares é preponderante. Arritmias cardíacas, bloqueios elétricos, estenose aórtica (abertura reduzida da válvula), aneurismas dos vasos (dilatações) ou doenças coronarianas são alguns diagnósticos mais frequentes, pois há maior enrijecimento dos vasos e válvulas, além de distúrbios elétricos que podem levar à diminuição dos batimentos cardíacos.
O coração é bastante afetado na velhice em razão de alterações estruturais e funcionais do sistema circulatório e facilitam o desenvolvimento de doenças cardiovasculares: acúmulo de gordura nos tecidos, perda da elasticidade dos vasos, além de calcificação das válvulas e discreto aumento de volume.
Temos de levar em conta a genética, obviamente - pessoas de uma mesma família com histórico de doenças têm riscos maiores e semelhantes. Porém, não é só. Fatores externos podem e devem ser controlados para melhorar a qualidade de vida do ser humano e prolongar sua longevidade. E entre esses estão o fumo, o estresse, o diabetes, a hipertensão, o estilo de vida e de alimentação, a obesidade, as alterações dos níveis de colesterol e/ou triglicérides (dislipidemia), o sedentarismo (falta de atividade física), entre outros.
Cada um desses itens está ligado diretamente com o desempenho da máquina que bate e bombeia o sangue em nosso peito. Melhor mantê-la em ordem e com a garantia de todas as revisões. Um dia a caminhada chegará ao fim, é inevitável. O bom senso recomenda seguir sempre em frente, de forma saudável e com dignidade. Nascemos para isso – vamos honrar.

*Américo Tângari Jr. é especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira

Gostou? Compartilhe