O câncer de mama é o mais incidente na mulher brasileira, sem considerar os tumores de pele não melanoma. Para o Brasil, em 2016, a perspectiva é de quase 60 mil novos casos, com um risco estimado de 56,2 casos a cada 100 mil mulheres. Os riscos do câncer de mama, rastreamento e tratamento foram alguns dos principais assuntos discutidos no 1º Simpósio do Câncer de Mama, promovido pelo Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), de Passo Fundo (RS). O evento aconteceu no Auditório Biomédico da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, nos dias 18 e 19 de março.
Para o coordenador do evento e oncologista clínico do CTCAN, Álvaro Machado, o evento aproximou a classe médica regional das mais recentes pesquisas realizadas no Brasil e no exterior. "Esse é um importante momento para a classe médica que atua com o diagnóstico e tratamento do câncer solidificar o conhecimento e absorver novas experiências. Penso que isso vai trazer benefícios para a população, pois o diagnóstico ainda é tardio e a incidência e mortalidade do câncer de mama continua crescente. Estudos indicam que 70% dos diagnósticos de câncer são feitos por médicos não-cancerologistas, o que evidencia a importância destes profissionais na identificação da doença”, pontua.
Fatores de risco
Nos Estados Unidos, para cada homem, 100 mulheres terão câncer de mama. “O principal fator de risco é ser mulher”, destaca o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Dr. Ruffo Freitas Jr. Segundo ele, o envelhecimento da população, a idade da primeira menstruação menor que 12 anos, o primeiro filho depois dos 30, a menopausa após os 55 anos, são fatores que elevam gradativamente esse risco. “Os fatores endócrinos/história reprodutiva estão relacionados principalmente ao estímulo estrogênico, seja endógeno ou exógeno, com aumento do risco quanto maior for a exposição”. São fatores que para a mulher contemporânea dificilmente se modificarão. Entre os fatores modificáveis, estão as mudanças na dieta e a ingestão de álcool. “Nós sabemos que as mulheres brasileiras e as mulheres jovens ingerem uma quantidade muito maior de álcool que no passado”, explica Freitas.
Mamografia anual a partir dos 40
Algumas controvérsias surgiram, nos últimos anos, com relação a mamografia, entre elas a periodicidade e idade inicial em que as mulheres devem passar a realizar o exame. Médicos de alguns países têm recomendado adiar a realização regular de mamografia para depois dos 50 anos, com base na análise dos resultados de programas de redução da mortalidade por câncer de mama. O assunto foi trazido pela médica radiologista pela Santa Casa de Porto Alegre e médica da Clínica Kozma (Passo Fundo), Dra. Fernanda Kraemer, que explicou que desde a década de 1980, com o início do rastreamento assintomático houve uma redução na mortalidade por câncer de mama de 30%. Grande parte disso foi pela terapia e pelo tratamento, mas não se pode subestimar o papel da mamografia e da detecção precoce nessa redução da mortalidade. “Os estudos recentes confirmam que a detecção precoce é essencial no aumento da sobrevida. A maior parte das mortes por câncer de mama, dos 40 aos 49 anos, ocorreu justamente em mulheres que não participavam do rastreamento anual”, explica a médica. A Sociedade Brasileira de Mastologia reitera a recomendação de indicar a mamografia, exame de rastreamento do câncer de mama, para mulheres a partir dos 40 anos anualmente. “Eu não quero perder o diagnóstico precoce dessas mulheres. Para mim não faz sentido nenhum espaçar mais ainda o rastreamento”, afirma.
Atividade física durante e após o tratamento
Com as novas tecnologias, drogas e tratamentos, as chances de uma mulher morrer por câncer de mama estão reduzindo. Porém, é preciso garantir o bem-estar da paciente, mesmo depois que o tratamento foi encerrado. É nesse ponto que entram os benefícios da atividade física. De acordo com o Dr. Ruffo Freitas Jr., a prática traz inúmeros benefícios durante a quimioterapia, diminuindo os efeitos colaterais e, durante a radioterapia, reduzindo a fadiga. Além disso, auxilia no pós-cirurgia, melhorando a qualidade de vida e trazendo bem-estar emocional e funcional à paciente. “A grande questão é a adesão a longo prazo. Por isso todos os profissionais de saúde precisam estar atentos a essa paciente. Nós temos sobreviventes do câncer de mama que serão nossas amigas durante anos, durante décadas. E elas precisam do carinho de cada um de nós”, afirma.
Progressos para o HER2-positivo
O avanço dos medicamentos para o tratamento do câncer de mama metastático do tipo HER2-positivo – um dos tipos mais agressivos, que acomete até 20% das pacientes - foi tratado pelo oncologista clínico no Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Medicina da USP, Dr. Max Mano. Segundo ele, essa é, com certeza, a área da oncologia onde houve maior progresso na última década em termos novidade e o ganho impressionante de sobrevida. “Hoje é comum pacientes viverem cinco anos ou mais, enquanto na era pré-terapia a sobrevida era de apenas um ano. Realmente uma das histórias de sucesso da oncologia”, afirma.
Era pós-trastuzumab
O primeiro tratamento que surgiu foi o trastuzumab, que até hoje desempenha um papel muito importante. No Brasil, há um problema grave de acesso ao medicamento, que chegou com 9 anos de atraso o que, infelizmente, provocou a perda de milhares de vidas. “Ele teve um papel muito importante, de impacto considerável no aumento da sobrevida dos pacientes. Ainda estamos brigando para ter o medicamento no SUS e ele já é superado. Estamos em uma era além do trastuzumab”, explica Mano. O medicamento mais recente é o T-DM1, o próprio trastuzumab, acoplado a uma molécula quimioterápica que é injetada diretamente dentro da célula tumoral, onde vai fazer o efeito biológico de destruição. Segundo o oncologista, ele é extremamente bem tolerável, porque é aplicado sem quimioterapia e mostrou um aumento significativo na sobrevida. “Essa droga existe no sistema privado no Brasil, é possível prescrevê-la, mas não existe no sistema público e não tem o menor movimento para que isso aconteça”, alerta.
1º Simpósio de Câncer de Mama
A primeira edição do Simpósio de Câncer de Mama, promovido pelo CTCAN, abordou em um total de 13 palestras outros importantes temas como a padronização nos testes de Imunohistoquímica, técnicas de radioterapia e os fatores prognósticos e preditivos para terapia adjuvante. No evento, outros nomes de destaque no segmento de tratamento ao câncer também participaram, como a Patologista Sênior do Laboratório Bacchi (Botucatu/SP), Dra. Sheila Wludarski, a Radioterapeuta do Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre), Dra. Daniela Barletta e a Médica Radiologista da Santa Casa (Porto Alegre) e da Clínica Kozma (Passo Fundo), Dra. Fernanda Aesse Kraemer.