A cada ano, cerca de 15 milhões de crianças, em todo mundo, nascem antes de completarem 37 semanas de gestação. A informação é de um guia, elaborado pela Agência da Organização das Nações Unidas – ONU – em parceria com a Organização Mundial da Saúde – OMS - que busca evitar os problemas causados pelo nascimento de bebês prematuros. O documento ressalta, ainda, que complicações de saúde causadas pelo nascimento antes do tempo previsto representam a principal causa de morte entre crianças com menos de cinco anos: somente em 2013, mais de um milhão de bebês vieram a óbito em função disso. Segundo a OMS, é preciso cuidado e atenção para evitar a morte de bebês e proporcionar, também, qualidade de vida à mãe e à criança, apesar das complicações. A preocupação com o cenário é tão grande que dois dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, elaborados em 2000 pela ONU, dizem respeito à saúde materna e redução da mortalidade infantil e buscam definir cuidados específicos com a saúde do prematuro.
Nos últimos anos, há o registro de um crescente aumento de partos prematuros: no Brasil, 11,7% do total de nascimentos acontecem antes de 37 semanas de gestação e, ao redor do mundo, esse número vem aumentado de forma significativa. Para Cristiane Agostini Cassanelo, Pediatra e Neonatologista do Hospital São Vicente de Paulo, as principais causas de nascimentos prematuros se relacionam às doenças maternas. “Entre as principais causas estão as gestações múltiplas, especialmente quando após fertilização in vitro, as doenças maternas como hipertensão e diabetes”, elenca. Há, ainda, dados que indicam que a gravidez na adolescência e a gravidez tardia podem ser indicadores importantes de partos prematuros. A partir das causas definidas e da identificação dos fatores de risco, é possível diagnosticar, de forma mais precoce, o risco de parto prematuro espontâneo ainda no pré-natal. A possibilidade contribui de forma direta na recuperação do bebê.
Os maiores fatores de risco para o trabalho de parto prematuro são:
História de parto prematuro e ou bolsa rota prematura em gravidez anterior;
Gravidez múltipla;
Problemas no colo do útero prévios e ou diagnosticados durante a gravidez;
Ausência ou deficiência do pré-natal;
Hábitos de vida: stress, tabagismo e drogas;
Infecção urinária e corrimentos infecciosos não tratados;
Hipertensão, diabetes e outras doenças maternas;
Obesidade;
Insuficiência da placenta com redução do crescimento do feto.
Cuidado intensificado: alimentação, sono e tato
Se o bebê recém-nascido já é frágil, sensível e necessitado de cuidados especiais, com o bebê prematuro, a atenção se intensifica. “Os bebês prematuros tem uma imunidade mais frágil, pontando deve-se ter esse cuidado redobrado na prevenção de doenças”, inicia Cristiane. Ela ressalta, ainda, a necessidade de acompanhamento médico, tanto do bebê quanto da mãe, para identificar as principais necessidades do prematuro e a forma como os pais podem conduzir o desenvolvimento da criança. E, na hora em que a rotina chega, é preciso ficar atento aos detalhes e aos cuidados essenciais para amenizar as dificuldades do bebê em processos como a alimentação, por exemplo. A recomendação oficial do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que qualquer bebê se amamente, exclusivamente, no peito até, pelo menos, os seis meses de idade. Ainda, se recomenda que, depois disso, o leite materno seja mantido na alimentação até os 2 anos ou mais. Para prematuros, isso é ainda mais importante, já que amamentação pode ser um dos obstáculos, tendo em vista que o bebê tem dificuldades relacionadas à falta de reflexo, força para sucção e prematuridade do sistema digestivo. “Os bebês prematuros podem ter mais dificuldade na sucção e na deglutição, portanto deve-se ter uma atenção especial durante as mamadas desses bebês, preferencialmente deve-se manter o aleitamento materno. Quando necessário o uso de mamadeira, essas devem ser de tamanho adequado para o bebê e com bicos especiais que ajudam a regular o fluxo de leite. Muitas vezes esses bebês necessitam de mamadas mais frequentes, pois cansam bastante em cada mamada”, orienta.
Além da alimentação, Cristiane ressalta cuidados essenciais na hora do sono do prematuro, já que o bebê dorme cerca de 20 horas por dia. “Deve-se cuidar o ambiente para o sono do bebê, dormir na própria cama com o colchão adequado e evitar objetos soltos no berço e com a barriga para cima para diminuir o risco de morte súbita”, explica e acrescenta, ainda, que a pele do bebê é, também, outro ponto sensível a se tomar cuidado. “A pele dos bebês é bastante sensível, deve-se usar produtos específicos para recém-nascidos, que sejam hipoalergênicos, evitando produtos muito perfumados. Com as roupas também deve-se ter cuidado na lavagem, usando produtos neutros e não usando amaciantes nos primeiros meses de vida”, ressalta. Para ela, independente de qualquer cuidado especializado, os pais são as figuras que têm interferência direta no desenvolvimento dos bebês. “Os pais tem papel fundamental na estimulação desses bebês, utilizando brinquedos específicos para cada faixa etária, devendo ficar atentos a qualquer alteração no desenvolvimento e intervindo o mais precocemente possível com a orientação do pediatra”.
Três questões importantes
Como a mãe pode identificar as fases de desenvolvimento desse bebê?
“O desenvolvimento segue o mesmo ritmo do desenvolvimento dos bebês que nascem a termo, porém deve-se levar em consideração a idade corrigida do bebê, ou seja, o desenvolvimento deve sem contado a partir da data em que o bebê deveria ter nascido (por exemplo, se o bebê nasceu com 7 meses de gestação os marcos de desenvolvimento passam a ser contando quando ele tiver 2 meses de idade).”
Como acalmar um bebê prematuro?
“ Os bebês em geral tem grande necessidade de aconchego, tanto os bebês nascidos a termo quanto os prematuros, então o uso de cueiros e as “trouxinhas” para acomodar os bebês, as músicas suaves, massagens, contato pele a pele com os pais e o banho de balde são ótimos recursos.”
Quando o bebê está pronto para ir para casa? Como serão os cuidados?
“O bebê está pronto para ir para casa quando tiver bom peso (em torno de 2kg) e pelo menos uma idade gestacional de 34 semanas e estiver mamando bem. O principal cuidado é a prevenção de doenças, especialmente viroses respiratórias, então evitar visitas nos primeiros meses em casa, não levar o bebê em locais com grande circulação de pessoas (mercados, igrejas, shopping, etc...), higienizar bem as mãos.”
Quando o bebê vai para casa...
... o cuidado deve ser intensificado. Confira as dicas:
- Marcar consulta com o pediatra para reavaliação em 7 dias e manter acompanhamento mensal;
- Lavar bem as mãos com água e sabonete, higienizar com álcool gel, antes e depois de pegar na criança;
- Evitar visitas nos três primeiros meses após a alta hospitalar, principalmente de pessoas resfriadas e outras crianças;
- Não levar o bebê para locais fechados e com muitas pessoas aglomeradas;
- Jamais fumar perto do bebê;
- Bebês dormem muito! Muito mesmo: de 16h a 20h por dia;
- Cuidar para que o bebê durma sempre de barriga para cima;
- Nunca dormir na mesma cama com os pais – deverá dormir no próprio berço ou carrinho;
- A cada troca de fraldas fazer higiene com algodão e água morna. Trocar fraldas preferencialmente antes das mamadas e nunca imediatamente após;
- Utilizar pomada para a prevenção de assaduras a cada troca de fraldas
- Dar banho todos os dias: antes, é preciso testar a temperatura da água no seu antebraço e utilizar água morna e sabonete específico para bebê, preferencialmente sem perfume e líquido ou sabonete neutro. Evitar sabonetes e hidratantes com perfume;
- Lavar roupas com sabão de côco, glicerina ou específico para roupas de bebê e não usar amaciante;
- Cuidado com excesso de roupa, pois pode causar febre;
- Caso a criança necessite de bico ou mamadeira, escaldá-los diariamente;
- Manter as vacinas sempre atualizadas. Lembrar que elas podem dar reações como febre, diarreia e irritação;
- Espirro e soluções são frequentes em recém nascidos. Cuidar sempre com a higiene nasal e usar soro fisiológico e aspirador nasal sempre que necessário, especialmente antes das mamadas;
- Se o seu bebê se atrapalhar durante a mamada ou ficar roxinho, aspirar o nariz e a boca, colocar o bebê em posição mais elevada e observar. Procure a emergência se ficar com dificuldade para respirar;
- Se o seu bebê ficar muito sonolento, recusando alimentação, procure o pediatra;
*Colaborou Cristiane Agostini Cassanelo - Pediatra e Neonatologista do Hospital São Vicente de Paulo