Hospital é referenciado como centro de treinamento para TAVI

A tecnologia aliada aos profissionais em constante especialização permite que novas técnicas sejam realizadas, visando o bem-estar dos pacientes

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O Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo é centro de referência consolidado em cardiologia. A tecnologia aliada aos profissionais em constante especialização permite que novas técnicas sejam realizadas, visando o bem-estar dos pacientes. Este é o caso das técnicas minimamente invasivas, que evoluíram e ganharam espaço na medicina, como o Implante Valvar Aórtico Transcateter, conhecido mundialmente como TAVI, procedimento que tem diminuído a mortalidade e aumentado a qualidade de vida de pacientes com estenose na valva aórtica. Esta doença refere-se ao estreitamento da válvula aórtica que dificulta o saída do sangue do coração para todo o corpo. Atinge principalmente as pessoas acima dos 70 anos e os principais sintomas são angina (dor no peito), síncope (desmaios) e falta de ar (insuficiência cardíaca). No Brasil estima-se que de nove milhões de pessoas com mais de 70 anos, 3% terão a doença, e que acima de 85 anos, 4% venham a desenvolvê-la.
O primeiro implante de TAVI foi realizado pela primeira vez no mundo em 2002 e a técnica foi introduzida no Brasil em 2008, no Hospital Albert Einstein pelo médico alemão, da Universidade de Bonn, Prof. Dr Ebehart Grube, referência mundial em TAVI, sendo implantado no HSVP em 2010. Desde então, foram realizados 1.300 casos no Brasil e efetuados aproximadamente 70 casos no HSVP, uma experiência significativa que possibilitou à instituição estar entre as setes instituições do país (cinco no estado de São Paulo), credenciadas como centro de treinamento para TAVI.
Em razão desta técnica ser indicada para pessoas acometidas pela estenose da valva aórtica, o cardiologista intervencionista do HSVP, Rogério Tumelero afirma que a mortalidade da doença é muito elevada, pois o tratamento com medicamentos não controla a doença. A indicação do tratamento foi estabelecida inicialmente para os chamados “inoperáveis”, pacientes que não podem fazer a cirurgia convencional (troca valvar com abertura do esterno), considerando que tenham pelo menos um ano de sobrevida após o procedimento. O segundo grupo é o considerado de "alto risco" para a cirurgia, ou seja, ainda pode ser operado mas o risco é muito alto. “O procedimento de TAVI diminui muito a mortalidade dos pacientes, que após a cirurgia voltam a ter qualidade de vida. O primeiro estudo que comparou o tratamento com medicamentos com o implante percutâneo da valva aórtica, a taxa de mortalidade chegou a 60% em um ano, contra 40% quando realiza-se o procedimento”, sendo interrompido devido a importante diferença de mortalidade entre os grupos, compara o cardiologista intervencionista.
O Implante Valvar Aórtico Transcateter, segundo Tumelero, é a colocação de uma válvula aórtica, via perna, braço ou pela ponta do coração, menos invasivo, para corrigir o problema da válvula. “Em pacientes idosos, com contra-indicação ou alto risco para a cirurgia convencional, sendo implantada a valva sobre valva nativa, restabelecendo a passagem do sangue sem obstrução. Esse procedimento já recuperou idosos acamados, alguns pós parada cardíaca revertida, outros com importante restrição das atividades (sintomas para ir ao banheiro ou em repouso) que depois retornaram ao convívio social, com qualidade de vida e alguns retornaram ao trabalho. O primeiro paciente que realizou o implante de TAVI no HSVP , em 2010 tinha 90 anos, hoje está com 95 anos, bem e ativo”.

Referência no estado
O HSVP é um dos 22 centros credenciados no país e o único do interior do Rio Grande do Sul para a realização deste procedimento. Conforme Tumelero, "para efetuar a técnica os profissionais e os hospitais precisam ser certificados pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista - SBHCI (resolução da SBHCI em conjunto com a Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação Médica Brasileira) após receber treinamentos e preencher requisitos específicos. “Do primeiro implante, realizado em 2010, o médico alemão Prof. Dr. Ebehart Grube esteve cinco vezes no HSVP para acompanhar os procedimentos e certificar a equipe médica, que ocorreu em aproximadamente 1ano. Em 2013, após resolução da SBHCI/2012, criado o Centro de Estudos de Doenças Cardíacas Estruturais e Valvares - CEDEVALV, para discussão dos casos com contra-indicação ou alto risco para cirurgia convencional. Passados esses anos, foram preenchidos outros critérios da SBHCI, possibilitando a certificação para ser centro de treinamento para outros profissionais e instituições”, pontua o especialista.
Ao contextualizar esse histórico, Tumelero destaca que em março de 2016 foi promovido no HSVP o Curso Teórico-Prático de Implante Valvar Aórtico Transcateter e o IX Workshop em Cardiologia Intervencionista. Os eventos contaram com profissionais de diversos estados que receberam conteúdo teórico, prático, com apresentação, discussão e realização de três casos ao vivo. Esse treinamento segue o mesmo padrão internacional dos treinamentos realizados em outros centros, sendo um dos critérios preenchido pelo médico que participou. Segundo o cardiologista intervencionista, todos os dados do procedimento e dos pacientes submetidos a TAVI são encaminhados para um Banco Nacional de Dados da TAVI - Registro Ribac. Desta forma, é possível ter estatísticas dos resultados da técnica, os dados de sobrevida, acompanhamento pré-determinado no registro, além do acessso e a liberação para análise de todos os profissionais envolvidos nesse procedimento no pais.

Importância do CEDEVALV
O tratamento apesar de inicialmente ter custos elevados do ponto de vista genérico, os estudos realizados nos Estados Unidos e Europa, demonstram, sendo confirmados com o seguimento também a longo prazo, ser a terapia mais nova e uma das únicas terapias a reduzir a mortalidade nessas taxas comparada com outros tratamentos. Dr. Tumelero pontua que a diferença e benefícios estão largamente documentados nesses trabalhos. No HSVP, o Centro de Estudos de Doenças Cardíacas, Estruturais e Valvares (CEDEVALV) possui uma equipe multidisciplinar para que os casos de indicação de TAVI sejam avaliados e discutidos. “Após a contra-indicação ou considerado de alto risco pela equipe de cirurgia cardíaca, realizamos todos os exames do protocolo TAVI, prepara-se uma apresentação do caso com todas as informações e exames, sendo encaminhado então para discussão no CEDEVALV, em reunião específica. Os médicos fundadores que compõe o CEDAVALV (denominado mundialmente de "Heart Team") são, Alexandre Pereira Tognon, Júlio César Canfild Teixeira, Luis Sérgio de Moura Fragomeni, Norberto Toaza Duda, além de cardiologistas clínicos, cirurgiões cardíacos, cardiologistas intervencionistas, nefrologistas, pneumologistas, neurologistas, clínicos, radiologistas e demais especialidades convidados para definir a melhor terapêutica para cada paciente”, explica Tumelero. Ele referencia a instituição ao ressaltar que estudos produzidos no HSVP sobre a TAVI já foram publicados e citados em revistas internacionais, uma vez que a equipe realiza pesquisa a quase duas décadas, além do suporte para teses de mestrado e doutorado.

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